Waldemar Haffkine
Waldemar Haffkine | |
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Conhecido(a) por | criou vacinas contra a cólera e a peste bubônica |
Nascimento | 15 de março de 1860 Odessa, Império Russo |
Morte | 26 de outubro de 1930 (70 anos) Lausanne, Suíça |
Nacionalidade | russo |
Alma mater | Universidade Nacional de Odessa (graduação) |
Prêmios | Prêmio Cameron de Terapêutica da Universidade de Edimburgo (1900) |
Instituições | |
Campo(s) | Bacteriologia e protozoologia |
Waldemar Mordechai Wolff Haffkine CIE (em ucraniano: Володимир Мордехай-Вольф Хавкін; em russo: Мордехай-Вольф Хавкин; Odessa, 15 de março de 1860 – Lausanne, 26 de outubro de 1930) foi um bacteriologista e protozoólogo russo.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Nascido como Vladimir Aaronovich Mordecai Wolf Chavkin, em Odessa, no Império Russo, em 1860, era o quarto dos cinco filhos de um casal judeu, Aaron e Rosalie. Seu pai era diretor de uma escola em Berdyansk, uma região que hoje pertence à Ucrânia. Waldemar estudou em Odessa, em Berdyansk e em São Petersburgo.[1][2][3]
Quando jovem, ele foi membro da Liga Judaica de Auto-defesa, em Odessa, onde se machucou ao defender outro garoto judeu em um pogrom. Como resultado, ele foi preso e depois liberado por intervenção do biólogo Ilya Mechnikov. Formou-se em zoologia pela Universidade Nacional de Odessa.[4] Entre 1879 e 1883, trabalhou com Mechnikov, mas após o assassinato do czar Alexandre II da Rússia, o governo aumentou a pressão sob pessoas que considerava suspeitas, incluindo a intelligentsia russa. Waldemar trabalhava na época no Museu de Odessa, entre 1882 e 1888, mas foi barrado na atividade docente por ser judeu. Assim, em 1888, ele emigrou para a Suíça, onde começou a trabalhar na Universidade de Genebra.[2]
Ele emigrou para a França para trabalhar no Instituto Pasteur, em Paris, onde desenvolveu uma vacina contra a cólera que depois foi aplicada com sucesso na Índia. É reconhecido como o primeiro microbiólogo a desenvolver e utilizar uma vacina contra cólera e a peste bubônica. Waldemar costumava testar as vacinas em si mesmo. Joseph Lister o chamava de "salvador da humanidade".[4]
Em 1889, ele se juntou a Mechnikov e a Louis Pasteur, em Paris, no recém-estabelecido Instituto Pasteur, onde conseguiu um emprego como bibliotecário no instituto.[3][5]
Carreira
[editar | editar código-fonte]Sua carreira científica começou como protozoólogo e protistólogo, sob a orientação de Ilya Mechnikov, em Odessa e depois em Paris. Inicialmente ele estudou protistas como Euglena e Paramecium, bem como conduziu as primeiras pesquisas em Holospora, um parasita que ataca os paramécios. No começo da década de 1890, ele passou a focar em estudos bacteriológicos.[6]
Vacina contra cólera
[editar | editar código-fonte]Na época, uma das grandes epidemias de cólera do século XIX se espalhou pela Europa e pela Ásia. Robert Koch descobriu o vibrião Vibrio cholerae em 1883, mas a ciência da época não o considerava o causador da doença. Essa visão era compartilhada por vários biólogos e tomada como consenso científico.[5] Waldemar focou sua pesquisa no desenvolvimento de uma vacina e criou uma versão atenuada da bactéria. Arriscando a própria vida, em 18 de julho de 1892, ele realizou o primeiro teste humano da vacina em si mesmo e depois escreveu um artigo sobre suas descobertas, publicado na revista da Linnean Society of London.[2][5]
Ainda que sua descoberta tenha causado entusiasmo na imprensa científica, ela não foi totalmente aceita por seus colegas, incluindo seu mentor, Mechnikov e o próprio Pasteur. Nem mesmo a comunidade médica da Europa pareceu animada com as descobertas dele.[2][5]
Waldemar trabalhou na epidemia entre 1902 e 1903, conseguindo inocular um milhão de pessoas. Porém, em 30 de outubro de 1902, 19 pessoas morreram de tétano, entre as 107 que foram inoculadas em Mulkowal, uma aldeia no Punjab. O episódio ficou conhecido como "Desastre de Mulkowal", o que levou a uma investigação por parte das autoridades. Waldemar foi temporariamente suspenso e depois foi indicado como diretor do Laboratório Biológico de Calcutá. Ele se aposentou em 1915 após ser acometido por malária e depois retornou à França.[7]
Vacina contra a peste
[editar | editar código-fonte]“ | Ao contrário do tétano ou da difteria, que foram rapidamente neutralizados por vacinas eficazes na década de 1920, os aspectos imunológicos da peste bubônica provaram ser muito mais assustadores.[8] | ” |
Em outubro de 1896, uma epidemia de peste bubônica atingiu Mumbai e o governo pediu a ajuda de Waldemar. Ele então começou o desenvolvimento de uma vacina em um laboratório improvisado em um corredor do Grant Medical College. Em três meses de trabalho excessivo, onde um assistente teve um colapso nervoso e dois se demitiram, testes humanos estavam prontos e começaram em 10 de janeiro de 1897. Waldemar testou a vacina em si mesmo primeiro.[9]
Depois dos resultados entregues às autoridades, voluntários da cadeia de Byculla foram inoculados e sobreviveram à epidemia, enquanto sete colegas do grupo de controle morreram. Ainda que ela causasse efeitos colaterais e não fornecesse uma proteção completa, ela reduzia o risco de obter a doença em 50%.[10]
Apesar do sucesso da técnica criada por Waldemar, alguns oficiais de saúde insistiram em usar métodos sanitários como lavagem de ruas e casas, uso de óxido de cálcio e levando pessoas com suspeita da doença para hospitais de campanha e restringindo as viagens ao invés da vacina. Alguns de seus colegas não eram muito simpáticos à sua vacina, mas Vladimir Vysokovich e Danylo Zabolotny o visitaram em Mumbai. Durante a epidemia de cólera de 1989 no Império Russo, a vacina chamada "linfa de Havkin" salvou muitas vidas.[5]
Na virada do século XX, o número de inoculados na Índia chegou a quatro milhões e Waldemar foi indicado como diretor do Laboratório de Pragas de Mumbai, hoje chamado de Instituto Haffkine. Em 1900, ele foi agraciado com o Prêmio Cameron de Terapêutica da Universidade de Edimburgo.[11]
Waldemar foi o primeiro pesquisador a preparar uma vacina para profilaxia humana ao matar a cultura virulenta por meio do aquecimento a 60 °C. A maior limitação de sua vacina era a falta de ação contra as formas pulmonares da peste.[12]
Últimos anos
[editar | editar código-fonte]Seu posto em Mumbai foi ocupado e ele então se mudou para Calcutá, onde se aposentou em 1914. Ele retornou à França e depois se mudou para a Suíça, onde viveu até o fim dos seus dias. Ele fez uma visita breve à União Soviética, em 1927, onde presenciou grandes mudanças em seu país de origem.[2]
Morte
[editar | editar código-fonte]Waldemar Haffkine morreu subitamente, aos 70 anos, em Lausanne, na Suíça, em 26 de outubro de 1930.[13]
- ↑ Victoria Konstantinova e Igor Lyman (ed.). «The Ukrainian South as Viewed by Consuls of the British Empire» (PDF). Nineteenth – Early Twentieth Centuries. Consultado em 7 de janeiro de 2021
- ↑ a b c d e Hawgood, Barbara J (2007). «Waldemar Mordecai Haffkine, CIE (1860–1930): prophylactic vaccination against cholera and bubonic plague in British India» (PDF). Journal of Medical Biography. 15 (1): 9–19. PMID 17356724. doi:10.1258/j.jmb.2007.05-59[ligação inativa]
- ↑ a b Bulloch, W. (1931). «Waldemar Mordecai Wolff Haffkine». The Journal of Pathology and Bacteriology. 34 (2): 125–29. doi:10.1002/path.1700340202
- ↑ a b Joel Gunter e Vikas Pandey (ed.). «Waldemar Haffkine, o pioneiro da vacina que o mundo esqueceu». BBC. Consultado em 7 de janeiro de 2021
- ↑ a b c d e Anthony Daniels (ed.). «Rats, fleas and men; Anthony Daniels on how the secret of bubonic plague was found». Sunday Telegraph. Consultado em 7 de janeiro de 2021
- ↑ Görtz, Hans-Dieter; Fokin, Sergei I. (2009). «Diversity of Holospora bacteria in Paramecium and their characterization». In: Masahiro Fujishima. Endosymbionts in Paramecium. Col: Microbiology Monographs. 12. [S.l.]: Springer. pp. 161–99. ISBN 9783540926771
- ↑ Ross, Ronald (1907). «The Inoculation Accident at Mulkowal». Nature. 75 (1951): 486–87. doi:10.1038/075486c0
- ↑ Echenberg, Myron. «Pestis redux: the initial years of the third bubonic plague pandemic, 1894–1901.» (PDF). Journal of World History. 13 (2). ISSN 1045-6007. Consultado em 7 de janeiro de 2021
- ↑ «Haffkine Institute - For Training, Research and Testing». Haffkine Institute. Consultado em 7 de janeiro de 2021
- ↑ William Roberts (ed.). «Facts and ideas from anywhere; The amish, body weight, and exercise; obesity related costs; neurologist, author, master of Pembroke college of Oxford University, and breaker of the 4-minute mile record, Bannister, Roger, Sir; Editorial» (PDF). Baylor University Medical Center Proceedings. Consultado em 7 de janeiro de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 12 de agosto de 2017
- ↑ Lutzker, Edythe (1 de janeiro de 1978). «Cameron Prizewinner: Waldemar M. Haffkine, C. I. E.». Clio Medica: Acta Academiae Internationalis Historiae Medicinae. 13 (3–4): 269–76. ISBN 9789004418257. PMID 89932. doi:10.1163/9789004418257_030
- ↑ Besson, Albert (1994). Practical bacteriology, microbiology and serum therapy (medical and veterinary). Londres: Palala Press. p. 468. ISBN 978-1340857646
- ↑ «Noted Bacteriologist Succumbs at 70 in Lausanne». The New York Times. Consultado em 7 de janeiro de 2021
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Obras de ou sobre Waldemar Haffkine no Internet Archive
- Haffkine Research Institute
- Waldemar Haffkine: Pioneer of Cholera vaccine Arquivado em 22 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine. na American Society for Microbiology
- Plague Vaccine Design na Food and Drug Administration (FDA)
- Biography no Jewishgen
- The Holy Scientist Arquivado em 24 de fevereiro de 2012, no Wayback Machine. at windsofchange.net
- Great scientist, great Jew, Rabbi M. Friedman at cjnews.com
- The Last Resort: The Man Who Saved the World from Two Pandemics, Udi Edery no the National library of Israel
- Waldemar Haffkine: The vaccine pioneer the world forgot, Joel Gunter and Vikas Pandey at the BBC.Com