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Língua trumai

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Trumai

Trumai

Falado(a) em: Mato Grosso,  Brasil
Região: Parque Nacional Indígena do Xingu
Total de falantes: 97 (2011)[1]
Família: Língua isolada
Códigos de língua
ISO 639-1: --
ISO 639-2: ---
ISO 639-3: tpy
Mapa das áreas indígenas no Brasil

O trumai é uma língua indígena falada pelo povo Trumai na região do Parque Indígena do Xingu, considerado o maior e um dos mais famosos parques indígenas multiétnicos reconhecidos e demarcados no mundo. É uma língua não classificada em nenhuma família e, de acordo com o Ethnologue, considerada em risco de extinção.[2]

Os falantes da língua Trumai totalizam 109 indivíduos distribuídos em 4 localidades: as aldeias de Boa Esperança, Três Lagoas e Steinen e o posto indígena Pavuru, localizados na porção média do Parque Indígena do Xingu no Mato Grosso.[3] A língua está ameaçada de desaparecer[2] devido ao pequeno número de falantes e do uso do português como primeiro idioma por parte dos jovens do povo Trumai, assim, como a influência cultural e linguística dos povos da região do Xingu.[4][5]

Do ponto de vista etimológico, a língua Trumai possui a mesma denominação tanto para seus próprios falantes, quanto externamente, para outras pessoas, ou seja, o endônimo é igual ao exônimo.[5] Essa palavra deriva do nome do povo falante dela: os Trumais[4], porém, não se sabe exatamente a sua origem.[5] A explicação mais lógica para a etimologia do nome Trumai está relacionada à possiblidade de outras tribos terem atribuído essa denominação e ser utilizada até hoje.[5]

A sequência de sons 'tr' encontrada no nome Trumai não se encaixa nos padrões fonológicos dessa língua, porém, a hipótese de que tenha sido um nome escolhido pelo próprio povo ainda é válida, visto que, pode ser uma versão encurtada de um nome anterior que possuía uma vogal entre 't' e 'r'.[5]

Rio que dá nome ao Parque Indígena do Xingu

Origem dos Trumai

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Diferentemente da maioria dos outros povos da região do Xingu que migraram do Norte, acredita-se que os Trumai tenham sido originados no Sudeste e se deslocado até a localização atual, por volta do século XIX, por conta de conflitos intertribais e da colonização.[6][7] Durante toda a história do povo, nunca foi identificado um número significativo de população, devido à guerras e epidemias que os assolaram.[7][8]

Influências externas

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Devido ao pequeno número de falantes da língua, o povo Trumai teve a necessidade de se unir a outros grupos presentes na região (como os Aweti, os Mehinaku e os Nahukwa) para garantir a sobrevivência.[9] Dessa forma, sua cultura sofreu mudanças desde o período em que eles chegaram na região, a exemplo do uso da mandioca, do milho, da rede de dormir e do arco, desconhecidos até então. [10][11]

No que diz respeito às mudanças na língua Trumai, percebe-se o surgimento de novos termos e o desaparecimento de outros, como /weset/ que era utilizado para denominar o tapete utilizado para dormir e não está mais presente na linguagem.[12]

Variações na língua

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Segundo alguns falantes do Trumai, existiu, em alguma época, uma variação da língua, chamada Wahldat, que foi desaparecendo entre as aldeias, com o passar do tempo, resultando em uma única variação como se conhece hoje.[13]

O mito do Pequi

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Em seu Trabalho de Conclusão de Curso, Yamaritu Trumai Suyá, membro da tribo Trumai e graduado no curso de ciências sociais pela UNEMAT, fala sobre a cultura de seu povo e narra o mito do Pequi, história difundida entre os Trumai que explica o surgimento do fruto do pequi para eles.[14]

Segundo o mito do Pequi, as duas esposas de um dono de roças de mandioca estavam traindo-o com outro homem. Ao descobrir, o marido assassinou-o e enterrou-o em um local que deu origem à primeira árvore de pequi, fruto do qual diversos animais passaram a se alimentar.[14] Além disso, o pequi é muito utilizado na culinária regional do cerrado brasileiro, em pratos como o arroz com pequi, conservas, entre outros.

A língua Trumai possui 17 fonemas consonantais, apresentados no quadro abaixo:[15]

Tabela de fonemas consonantais da língua Trumai
Bilabial Labiodental Dental Alveolar Palatoalveolar Palatal Velar Glotal
Oclusiva p t d k ʔ
Nasal m n
Lateral l
Flepe ɾ
Fricativa f s ʃ x h
Aproximante w j

A língua Trumai possui 8 fonemas vocálicos, apresentados no quadro abaixo:[16]

Tabela de fonemas vocálicos da língua Trumai
Anterior Central Posterior
Fechada i ɨ u
Semifechada e o
Semiaberta ɛ ɔ
Aberta a

Acento Tônico

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O Trumai é uma língua de acento fixo, que recai sempre sobre a última sílaba, ou seja, todas as palavras são terminadas com a sílaba tônica. Dessa forma, é possível identificar o início e fim das palavras mais facilmente em uma frase.[17]

Considerando que "ortografia"[a] é o estudo da correta escrita das palavras de uma determinada língua, não foram identificados indícios de que a língua Trumai tenha sido sistematizada de maneira escrita, não havendo, portanto, ortografia da língua Trumai.

Nos escassos trabalhos sobre a língua Trumai, os pesquisadores se valeram de coleta de dados linguísticos junto a falantes nativos[18], não havendo qualquer menção à sistematização escrita da língua.

Além disso, segundo Luciana Storto [19], as 154 línguas indígenas faladas no Brasil, são, em geral, ágrafas, ou seja, de tradição apenas oral e não escrita, o que inclui o Trumai.

Segundo Yamaritu Trumai Suyá, apesar de não haver uma forma escrita dessa língua, há uma tentativa por parte dele de implementar a criação de uma versão escrita do Trumai e ensinar as crianças do povo, de forma a retomar a comunicação em sua língua materna, o que ainda não tem alcançado grandes resultados.[14]

  1. Ortografia: do grego "ortho", que quer dizer correto, e "grafo" que significa escrita.

As classes gramaticais da língua Trumai se dividem em dois grupo: classes abertas, ou seja, aquelas que permitem variações ao longo do tempo (substantivos, adjetivos, quantificadores, verbos e advérbios) e classes fechadas, aquelas que não permitem (pronomes, posposições).[20]

Os substantivos, em Trumai, manifestam as categorias de posse, número e caso gramatical, através de partículas que se ligam a eles.[21]

A categoria de posse é conferida a substantivos através de afixos de posse. Para isso, existem afixos que podem desempenhar a função de pronomes de terceira pessoa. O sufixo -ake, por exemplo, se refere a partes do corpo, enquanto -tsi se refere a relações de parentesco.[22][23]

Exemplos:

kuʃ-ake (O cabelo dela.)

tsi-di (A mulher dele.)

Quanto à expressão de posse com relação a objetos materiais, esta é feita através do sufixo -kte/-kate, que é empregado ao sintagma nominal possuidor. Esse sufixo também pode ser empregado a pronomes. No caso dos pronomes singulares ha, hi e hine, é apenas possível a utilização de -kte, enquanto para hinatl, apenas -kate é admitido. Nos demais casos, ambas as formar são possíveis.[24]

Exemplos:

hai-kte si (A minha canoa.)

axos-kate esak (A rede do menino.)

Os substantivos podem variar em número por meio de clíticos pluralizadores, morfemas que conferem a característica de número gramatical, podendo ser dividido em singular, dual e plural.[21]

Para substantivos singulares, não há uma marca que indique essa situação, ou seja, percebe-se que é singular justamente quando não há nenhuma marca. Os substantivos duais são identificados pela partícula a, que sucede o nome. Já no caso do plural, é utilizado wan como marca pluralizadora. Há ainda um morfema que identifica substantivos pertencentes a um coletivo: pa/paine.[25]

Tabela de marcas pluralizadoras
Marca Número gramatical a que se refere Exemplo Tradução para o português
'sem marca' singular atlat pat panela pequena
a dual axos a as duas crianças
wan plural di wan as mulheres
pa

paine

coletivo axos pa

kʔate paine

coletivo de crianças / criançada

coletivo de peixes / cardume

Caso gramatical

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Por ser uma língua ergativa-absolutiva, o Trumai possui 2 casos gramaticais: caso ergativo e caso absolutivo:[21]

  • Caso ergativo

Em línguas ergativas-absolutivas, o caso ergativo identifica o sujeito de verbos transitivos, marcado pelo sufixo -k/-ek, associado a esse sujeito.[26][27]

Exemplo:

axos-k atlat mapa (A criança quebrou a panela.)

  • Caso absolutivo

O caso absolutivo pode ser utilizado tanto para identificar sujeitos de verbos intransitivos, quanto objetos diretos de verbos transitivos. A marcação desse caso gramatical se dá por meio do 0 lexical, ou seja, a ausência de marcas.[26]

Exemplos:

ha sa-tke t̪ak (Eu não quero dançar.)

faptɨ fatla-n (Ele furou a orelha.)

Quantificadores

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Os quantificadores são palavras que modificam nomes, atribuindo-lhes uma característica de quantidade, equivalentes a "muito" e "pouco" em português:[28]

Tabela de quantificadores
Trumai Português
aʔdɨ muito (contável)
pɨx muito (não contável)
pat pouco
pɨx-t̪ak muito pouco

Exemplo:

aʔdɨ kʔate (Muito peixe.)[29]

Posposições

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As posposições, em Trumai, são sufixos que se ligam a sintagmas nominais, conferindo uma relação entre termos, de forma que atribui uma característica a esse nome.[30]

Tabela de posposições
Posposição Significado Exemplo Tradução para português
ki / n locativo tehnene-ki ha wan axaʔtsi Nós sentamos no chão
ita direção kumaru dat-ita para a casa de Kumaru
lots origem São Paulo-lots de São Paulo
letsi instrumental / meio si-letsi com canoa
tam companhia ha atle-tam com a minha mãe
iets por causa kiki-iets por causa do homem
tis / tsis quando kawihu-tis quando chove
apudan embaixo misu-apudan embaixo da água
malan na beira de misu-malan na beira do rio

Os pronomes podem ser divididos, nessa língua, em: pronomes pessoais e possessivos, demonstrativos e interrogativos. Na língua Trumai, os pronomes são livres, ou seja, podem aparecer longe do verbo a que se referem.[31]

Pronomes pessoais e possessivos

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Esses pronomes podem variar em pessoa gramatical, número, inclusividade (na primeira pessoa) e gênero (na terceira pessoa). Os pronomes abaixo são utilizados tanto na categoria de pessoais quanto de possessivos. [31]

Tabela de pronomes pessoais e possessivos
1ª pessoa 2ª pessoa 3ª pessoa
Singular hai/ha hi hine (masculino)

hinatl (feminino)

Dual ha-a (exclusivo)

ka-a (inclusivo)

hi-a
Plural ha-wan (exclusivo)

ka-wan (inclusivo)

hi_wan hine_wan (masculino)

hinak-wan (feminino)

O pronome hai (primeira pessoa) é utilizado como pronome tônico, enquanto ha ocupa as outras posições.[32]

  • Clítico -n/-e

Além dos pronomes apresentados na tabela, há ainda outra possibilidade que substitui os pronomes pessoais de terceira pessoa: o clítico pronominal -n/-e (não se aplica aos pronomes possessivos). Geralmente, este morfema está localizado na última posição da oração, sendo sempre preso a outra palavra, de modo geral, um verbo. Esse clítico tem a função de se referir ao sujeito de orações intransitivas, porém, não se prendendo a este, sempre a um verbo ou advérbio.[33] A forma -n é utilizada após termos terminados em vogal e -e após consoantes.[34]

Exemplos:

faptɨ fatla-n (Ele furou a orelha.)

[0]-ii sa-n (Ele dança.)

Pronomes demonstrativos

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Na língua Trumai, os demonstrativos possuem distinção de gênero e número.[35]

Tabela de pronomes demonstrativos
Trumai Português
niʔde este
niʔdatl esta
niʔdak-wan estes(as)
kaʔne aquele
kaʔnatl aquela
kaʔnak-wan aqueles(as)

Exemplos:

kaʔnatl di (Aquela mulher.)

kaʔne fa kain feʔde-s (Aquele matou a onça.)

Formas interrogativas
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A partícula responsável pela identificação de uma oração interrogativa é a, considerado um morfema livre, por poder se localizar em qualquer posição da oração, exceto na primeira. Essa partícula, porém, não é obrigatória, sendo a entonação responsável pela fator de interrogação da oração. Geralmente, esse segundo caso é utilizado para confirmar uma informação.[36]

Exemplos:

hi lafku a? (Você nada?)

hi man? (Você come?)

Além da partícula -a, existem também outras formas interrogativas na língua Trumai.[37]

Tabela de formas interrogativas
Trumai Português Exemplo Tradução para o português
te quem [te]-i in kaʔʃɨ-ke? Quem está vindo?
han / hele / tsifan o que tsifan-is axos ma? O que a criança comeu?
hamata / hamun(a) onde hamuna in [ole]-i? Onde está a mandioca?
tuk quanto tuk in [0]-ii api-n Quanto ele está pegando?
hele como hele in hi tak Como é seu nome?

Em Trumai, as ações podem variar em pessoa gramatical, gênero, número, tempo, aspecto/modo. Estas primeiras três classificações acontecem apenas por meio da identificação do sujeito da oração, sem causar alterações na forma do verbo, exceto pela terceira pessoa que pode ser marcada pelo clítico -n/-e. [38]

A categoria de tempo, em Trumai, também não ocorre marcada junto ao verbo, sendo geralmente identificada através de advérbios. Na maioria dos casos, não há uma distinção entre passado e presente, enquanto o futuro é, quase sempre, identificado através do advérbio hatke, que remete justamente a uma ação realizada no futuro. [39]

Apesar de não ser tão utilizado quanto hatke, também existe um advérbio que remete ao passado: kaksu. Quanto ao presente, não há um termo que o represente da mesma forma que acontece com os outros tempos verbais, porém, é possível utilizar nɨʃɨts, traduzido como hoje/agora.[39]

O aspecto de uma ação, por sua vez, é representado por morfemas pospostos ao verbo, ou seja, sufixos que denotam características específicas a ele.[40]

Tabela de morfemas aspectuais
Morfema Aspecto expressado Exemplo Tradução para o português
kma completude jaw falomle-kma A gente acabou de plantar
ik ação realizada antes de outra wana xuʔtsa-ik Primeiro olha.
laktsi ação repetida em intervalos jaw sone-laktsi, jaw suta Cada vez que a gente bebe, a gente urina
ka factivo[a] hai-ts sa-ka-n Eu o fiz dançar
tke volitivo[b] ha sone-tke t̪ak Eu não quero beber
  1. Esse aspecto se refere a uma ação que o sujeito fez acontecer. Nesses casos, geralmente o sujeito está marcado com o sufixo -ts, de forma que identifica o identifica como causativizador
  2. O aspecto volitivo é responsável por garantir um caráter de desejo ao verbo

Evidencialidade

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Apenas uma marca de evidencialidade foi identificada na língua Trumai: o morfema kain. Esse morfema é responsável por conferir a característica de certeza ao verbo, ou seja, a ação é um fato.[41]

Exemplo:

hi ma (Você está comendo.)

hi ma kain (Você está comendo. - é possível ver/confirmar que a pessoa está comendo)

As palavras em Trumai podem ser formadas a partir de dois tipos de derivação: exocêntrica, aquela em que há mudança de classe gramatical; endocêntirca, aquela em que não há mudança de classe.[42]

A derivação exocêntrica pode ocorrer nas formas: nominalizadora (verbo transformado em nome), através do sufixo -t; relativizadora (algo relativo a outro), através do sufixo -k; de utilidade (verbo transformado em nome/para que serve), através do sufixo -kwaʃ.[42]

Tabela de marcas derivacionais exocêntricas
Marcas Tipo de derivação Exemplo Tradução para o português
-t Nominalização ma

ma-t

comer

coisa de comer / alimento

-k Relativização maʔtsi

maʔtsi-k

doença

o que tem doença / doente

-kwaʃ Por utilidade sone

sone-kwaʃ

beber

coisa de beber / copo

Endocêntrica

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A derivação endocêntrica acontece podendo significar: adoração por algo, através do sufixo -sin; abundância, através do sufixo -ke.[42]

Tabela de marcas derivacionais endocêntricas
Marca Tipo de derivação Exemplo Tradução para o português
-sin Por adoração di

di-sin

mulher

adorador de mulher

-ke Por abundância kuʃ

kuʃ-ke

cabelo

cabeludo

Ordem da frase e alinhamento

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Apesar de a ordem dos elementos na oração não ser fixa, já que existe uma certa liberdade na disposição deles, também não é completamente livre, considerando que há algumas regras a respeito dessa ordem. Dentro dos sintagmas, uma distribuição dos sintagmas tende a ser preservada, mesmo que variações possam acontecer.[43]

Sintagma Nominal

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Nos sintagmas nominais, o nome/substantivo tende a aparecer sempre depois de possíveis pronomes e quantificadores, mas antes de adjetivos.[44]

Exemplos:

kaʔnatl di (Aquela mulher.)

ady feʔde (Muita onça.)

atlat pat (Panela pequena.)

Sintagma Verbal

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No caso dos sintagmas verbais, o segundo verbo costuma vir antes do primeiro, sendo cada verbo sucedido por um possível sufixo de aspecto e, por último, por um advérbio de negação (t̪ak).[45]

Exemplos:

ha alax kawa (Eu vou caçar.)

ha xup t̪ak (Eu não sei.)

ha sone-tke t̪ak (Eu não quero beber.)

Dentro da oração, a ordem padrão utilizada na língua Trumai para orações transitivas é SOV, ou seja, sujeito/objeto/verbo, diferentemente do que ocorre nas orações intransitivas, determinadas por SV, sujeito/verbo. Apesar de existir essa ordem padrão, é possível que os elementos apareçam em outra sequência, visto que, não se trata de uma língua completamente fixa.[46]

Alinhamento morfossintático

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A língua Trumai se classifica como uma língua ergativa-absolutiva, ao passo que, uma vez que apresenta oposição entre um verbo transitivo e seu objeto.[21]

A língua Trumai apresenta um sistema de numeração baseado nos dedos das mãos, ou seja, tem "base 5". A seguir estão os vinte primeiros números nessa língua:[47]

Tabela de números em Trumai
Número Trumai Número Trumai
1 mihin 11 huʃ kʼad kɛl wanlekan, mihin apa wakpɛʃkun
2 huʃ 12 huʃ kʼad kɛl wanlekan, huʃ apa wakpɛʃkun
3 huʃtahmɛ 13 huʃ kʼad kɛl wanlekan, huʃtahmɛ apa wakpɛʃkun
4 pinɛ pinɛktɛ len 14 huʃ kʼad kɛl wanlekan, pinɛ pinɛktɛ len apa wakpɛʃkun
5 k’ad apa wakpɛʃkun 15 huʃ kʼad kɛl wanlekan, inɛ kʼad kɛlan apa wakpɛʃkun
6 mihin k’ad kɛl wakpɛʃkun 16 mihin pitsʼ, mihin pitsʼ kɛl wakpɛʃkun
7 huʃ k’ad kɛl wakpɛʃkun 17 mihin pitsʼ, huʃ pitsʼ kɛl wakpɛʃkun
8 huʃtahmɛ k’ad kɛl wakpɛʃkun 18 mihin pitsʼ, huʃtahmɛ pitsʼ kɛl wakpɛʃkun
9 pinɛ pinɛktɛ len k’ad kɛl wakpɛʃkun 19 mihin pitsʼ, pinɛ pinɛktɛ len pitsʼ kɛl wakpɛʃkun
10 k’ad kɛl wanlekan 20 pitsʼ kɛl wanlekan

Abaixo estão alguns animais na língua Trumai e suas respectivas traduções para o português:[48]

Trumai Português Trumai Português
hura’ au crejoá chom japim
karakaka aracuã-do-pantanal kuch kïrïrak araçari-de-crista
atetla hid guiraietapa petltake ariranha
chom anehene guaxé wakup nipts’i tipo de peixe
malatsitsik yuraw tatu-canastra kupiana jacamacira
kupiana nehene jacamarici wakup corvina
wakup nipts’i corvina miúda asulu pomba
asulu nipts’i rolinha ayana’i rato
ayana’i nipts’i rato-d'água k’ate peixe
k’ate yuraw piraíba awara’i raposa
awara’i yuraw cachorro-do-mato malatsitsik tatu
malatsitsik yuraw tatu-canastra kotugu kuegü saracuraçu
tolo kuegü gavião tikugi kuegü periquito

A língua Trumai foi tema da questão 4 da prova da Escola de Linguística de Outono de 2022 na edição Mascate (2021), em que foi abordado o sistema de numeração da língua.[49]

Referências
  1. «Almanaque Socioambiental - Parque Indígena do Xingu» (PDF) 
  2. a b «Trumai | Ethnologue». Ethnologue (Free All) (em inglês). Consultado em 13 de março de 2024 
  3. Guirardello 1992, p. 9.
  4. a b Guirardello 1992, p. 5.
  5. a b c d e «Trumai - Povos Indígenas no Brasil». pib.socioambiental.org. Consultado em 13 de março de 2024 
  6. Guirardello 1992, p. 10.
  7. a b Quain 1955, pp. 8-10.
  8. Guirardello 1992, p. 12.
  9. Franchetto 2011, p. 62.
  10. Franchetto 2011, pp. 66-67.
  11. Guirardello 1992, pp. 13-14.
  12. Guirardello 1992, p. 14.
  13. Guirardello 1992, pp. 17-19.
  14. a b c «Amale: Um mito sobre a origem do pequi» (PDF) 
  15. Guirardello 1992, p. 27.
  16. Guirardello 1992, pp. 35-36.
  17. Guirardello 1992, p. 37.
  18. Guirardello 1992, p. 22.
  19. Storto 2019, p. 22.
  20. Guirardello 1992, p. 50.
  21. a b c d Guirardello 1992, p. 53.
  22. Guirardello 1992, p. 54.
  23. Guirardello 1992, p. 103.
  24. Guirardello 1992, p. 102.
  25. Guirardello 1992, pp. 107-109.
  26. a b Guirardello 1992, pp. 59-60.
  27. Guirardello 1992, p. 100.
  28. Guirardello 1992, p. 56.
  29. Guirardello 1992, p. 57.
  30. Guirardello 1992, pp. 96-98.
  31. a b Guirardello 1992, p. 64.
  32. Guirardello 1992, p. 65.
  33. Guirardello 1992, pp. 103-107.
  34. Guirardello 1992, p. 69.
  35. Guirardello 1992, p. 72.
  36. Guirardello 1992, pp. 87-88.
  37. Guirardello 1992, pp. 89-90.
  38. Guirardello 1992, pp. 57-60.
  39. a b Guirardello 1992, pp. 91-94.
  40. Guirardello 1992, pp. 95-96.
  41. Guirardello 1992, pp. 77-78.
  42. a b c Guirardello 1992, pp. 98-99.
  43. Guirardello 1992, p. 123.
  44. Guirardello 1992, p. 124.
  45. Guirardello 1992, pp. 124-125.
  46. Guirardello 1992, p. 106.
  47. «Prova da Escola de Linguística de Outono da edição Mascate» (PDF) 
  48. Guirardello-Damian, Raquel. Léxico comparativo: explorando aspectos da história trumai. In: Alto Xingu: uma sociedade multilíngue. Editora Museu do Índio, 2011. ISBN 978-85-85986-34-6
  49. «Olimpíada de Linguística - Edição Mascate (2022)» 


Ligações externas

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