Márcio Souza
Márcio Souza | |
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Em 2022, durante entrevista à
Associação ArtBrasil | |
Nome completo | Márcio Gonçalves Bentes de Souza |
Nascimento | 4 de março de 1946 Manaus, Amazonas |
Morte | 12 de agosto de 2024 (78 anos) Manaus, Amazonas |
Nacionalidade | brasileiro |
Ocupação | escritor jornalista dramaturgo |
Prémios | Troféu APCA (1997) |
Magnum opus | Mad Maria e Galvez - Imperador do Acre |
Website | www.marciosouza.com.br |
Márcio Gonçalves Bentes de Souza (Manaus, 4 de março 1946 – Manaus, 12 de agosto de 2024) foi um jornalista, dramaturgo, editor, roteirista e romancista brasileiro.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Fez o curso primário no Grupo Escolar Princesa Isabel, cursou o ginasial e científico no Colégio Dom Bosco, em Manaus. Na sua cidade natal, ainda jovem, começou a trabalhar como crítico de cinema no jornal O Trabalhista, do qual seu pai era sócio. Em 1965 assumiu a coordenação das edições do governo do estado do Amazonas, mas, logo em seguida, deixou a cidade para estudar Ciências Sociais, de início, em Brasília, depois em São Paulo, onde ingressou Universidade de São Paulo (USP). Perseguido pela ditadura militar, interrompeu os estudos em 1969 e começou a vida profissional no cinema, como crítico, roteirista e diretor. Na dramaturgia, escreveu peças como As folias do látex e Tem piranha no pirarucu. Como roteirista, foi autor, entre outros, de Rapsódia Incoerente, Prelúdio Azul, e Manaus Fantástica.[1]
Esteve preso em 1966 pela exibição da peça francesa A idade do ouro; em 1969 e 1972, em virtude de sua militância política. Além disso, teve censurada a sua peça Zona Franca, meu amor. Regressou a Manaus em 1972, onde passou a integrar o Teatro Experimental do Serviço Social do Comércio - Tesc/Sesc, grupo que discutia temas ligados à cultura local.
Em 1976, assumiu o cargo de diretor de planejamento da Fundação Cultural do Amazonas.
No ano de 1990, exerceu o cargo de diretor do Departamento Nacional do Livro e foi também presidente da Fundação Nacional de Artes (Funarte) entre 1995 e 2003, no governo de Fernando Henrique Cardoso. Ocupou ainda a presidência do Conselho Municipal de Política Cultural da cidade de Manaus.
Em 1997, Lealdade[2][3][4] recebeu o prêmio da Associação Paulista de Críticos no gênero ficção.[5]
Foi professor assistente na Universidade de Berkeley e escritor residente nas universidades de Stanford, Austin e Dartmouth. Como palestrante foi convidado pela Sorbonne, Heldelberg, Coimbra, Universidade Livre de Berlin, Harvard University e Santiago de Compostela. Foi acadêmico titular da Academia Amazonense de Letras, na cadeira nº 25, eleito em 11 de setembro de 2004 e recebido em 25 de outubro do mesmo ano.[6]
Carreira artística
[editar | editar código-fonte]O seu primeiro livro, uma obra de crítica cinematográfica, data de 1967, O mostrador de sombras.[7]
Em 1970, dirigiu o filme A Selva, baseado no romance do escrito português Ferreira de Castro. Trata-se de um drama, produzido pela L.M. Produções Cinematográficas Ltda, com locações em Manaus/AM.[8]
Com a obra Galvez - Imperador do Acre,[9][10] iniciou sua carreira literária, em 1976. A obra não foi teria sido bem aceita pelas autoridades da região que a consideraram um desrespeito à História oficial, não observando, porém, que, na nota introdutória, o seu autor alertava para a ficcionalidade da narrativa: " (...) o livro despertou forte reação adversa nos meios oficiais amazonenses, que viram nessa narrativa uma forma injusta de revelar a narrativa".[11][12]
Escreveu diversas obras inseridas no ambiente sociocultural da Amazônia,[13][14] tais como Mad Maria,[15] Plácido de Castro contra o Bolivian Syndicate, Zona Franca, meu amor e Silvino Santos: o cineasta do ciclo da borracha, entre outras.[16][17] Entre 1981 e 1982, publicou em folhetins, no jornal Folha de S.Paulo, o romance A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi.[18][19] Mad Maria foi adaptada como minissérie e exibida em rede nacional de televisão, fato que popularizou a obra do autor.[20][21]
O autor, em entrevista, reconheceu a influência de Machado de Assis em sua ficção, especialmente a ironia que pontua as suas obras, assim como aponta a fragmentação trazida pelo Modernismo como um ponto marcante, ainda que admita certa linearidade narrativa em suas histórias. "O humor (...) incrustado mimeticamente na linguagem, me veio primeiro a partir do sarcasmo machadiano".[22]
Destacou-se também como cineasta e ensaísta (A selva; A expressão amazonense do neolítico à sociedade de consumo). Mais recentemente, tem se dedicado a uma teatrologia sobre os anos em que a antiga Província do Grão-Pará,[23] que fora durante todo o período colonial um estado separado, atravessou a séria crise de sua anexação ao Brasil e de revoltas contra o poder do Rio de Janeiro e/ou contra a desigualdade social, de que padeciam sobretudo os negros e os indígenas.[24]
A sua experiência com o cinema e a censura política parece ter rendido o romance Operação silêncio,[25] em que o protagonista Paulo Conti tenciona realizar um filme sobre a violência - política - entre os colonizadores, como forma de denúncia, mas se valendo do financiamento do governo nacional para os custos de sua produção. "O romance discute ainda a relação entre a arte, sobretudo o cinema, e a revolução, o papel social do escritor e do cineasta no auge do regime militar e a necessidade de diminuir a distância entre o artista e sua época".[26]
Morte
[editar | editar código-fonte]Márcio morreu na madrugada de 12 de agosto de 2024, aos 78 anos.[27]
Obras
[editar | editar código-fonte]Literatura
[editar | editar código-fonte]- Mostrador de Sombras, UBE/Amazonas e Editora Sérgio Cardoso. 1969
- Galvez – Imperador do Acre, Edições Governo do Estado do Amazonas. 1976
- A Expressão Amazonense, Editora Alfa-ômega, São Paulo. 1977
- Operação Silêncio, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro. 1978
- Teatro Indígena do Amazonas, Editora Codecri, Rio de Janeiro. 1979
- Feira Brasileira de Opinião, Editora Global, São Paulo. 1979
- Malditos Escritores, Movimento, São Paulo. 1979
- Mad Maria, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro. 1980
- Tem Piranha no Pacu, Editora Codecri, Rio de Janeiro. 1980
- A Resistível Ascensão do Boto Tucuxi, Editora Marco Zero, Rio de Janeiro. 1982
- A Ordem do Dia, Editora Marco Zero, Rio de Janeiro. 1983
- O Palco Verde, Editora Marco Zero, São Paulo. 1983
- A Condolência, Editora Marco Zero, São Paulo. 1984
- O Brasileiro Voador, Editora Marco Zero, São Paulo. 1985
- O Empate Contra Chico Mendes, Editora Marco Zero, São Paulo. 1986
- O Fim do Terceiro Mundo, Editora Marco Zero, São Paulo;1989
- Breve História da Amazônia, Editora Marco Zero, São Paulo. 1992
- A Caligrafia de Deus, Editora Marco Zero, São Paulo. 1993
- Anavilhanas, o Jardim do Rio Negro Editora Agir, Rio de Janeiro. 1996
- Lealdade, Editora Marco Zero, São Paulo. 1997
- Teatro Completo – Volumes I, II e III, Editora Marco Zero, São Paulo. 1997
- Um Olhar sobre a Cultura Brasileira, com Francisco Weffort. Edição do Ministério da Cultura, Brasília. 1998
- Silvino Santos, o cineasta do ciclo da borracha, Edições Funarte, Rio de Janeiro. 1996
- Parque do Jaú, Editora Agir, Rio de Janeiro. 2000
- Fascínio e Repulsa, Edições do Fundo Nacional de Cultura, Rio de Janeiro. 2000
- Entre Moisés e Macunaíma, com Moacyr Scliar, Editora Garamond, Rio de Janeiro. 2000
- Desordem, Editora Record Rio de Janeiro. 2001
- Pico da Neblina, Editora Agir, Rio de Janeiro. 2001
- Breve História da Amazônia, Editora Agir, Rio de Janeiro. 2001
- Políticas Culturais Brasileiras, Editora Manole, São Paulo. 2002
- A Expressão Amazonense, edição revista, Editora Valer, Manaus. 2002
- Galvez, Imperador do Acre, versão em quadrinhos. Secult-Pará, Belém. 2004
- A paixão de Ajuricaba, Editora Valer, 2005
- Ajuricaba, o Caudilho das Selvas, Editora Callis, 2006
- O Nascimento do Rio Amazonas, Editora Lazuli, 2006
- História da Amazônia, Editora Valer, 2009
- A Substância das Sombras, Cinema Arte do Nosso Tempo, Editora Valer, 2010
- Amazônia Indígena, Editora Record, 2015
Ver também
[editar | editar código-fonte]- ↑ Santos, Maíra Bastos dos (11 de agosto de 2009). «Galvez imperador do Acre, de Márcio de Souza: um "folhetim oficial" da história do Brasil»
- ↑ «Folha de S.Paulo - Márcio Souza remexe história esquecida - 12/7/1997». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019
- ↑ MESQUITA, Maria Cláudia de.; CARLOS, Ana Maria. "A intertextualidade em Lealdade de Marcio Souza". XI Congresso da Abralic. - pdf
- ↑ Mesquita, Maria Cláudia de [UNESP (18 de dezembro de 2009). «Literatura e história: uma leitura de Lealdade (1997), de Márcio Souza». Aleph: 103 f.
- ↑ Londrina, Folha de. «Melhores de 97 recebem prêmio APCA». Folha de Londrina. Consultado em 4 de março de 2021
- ↑ Academia Amazonense de Letras. «Márcio Souza». Consultado em 23 de junho de 2023
- ↑ «Jornal Rascunho». Consultado em 7 de fevereiro de 2019
- ↑ «Clássico de Márcio Souza será filme de abertura da Mostra do Cinema Amazonense». Cine Set. 22 de novembro de 2017. Consultado em 4 de março de 2021
- ↑ todasasmusas.org - pdf
- ↑ Silva Júnior, Renato Otero da (2006). «Galvez imperador do Acre: o discurso do romance e a ficcionalização da história». bdtd.ibict.br. Consultado em 6 de fevereiro de 2019
- ↑ DIMAS, Antonio. Literatura comentada. Márcio Souza. São Paulo: Abril Educação, 1982.
- ↑ «Folha de S.Paulo - Em "Galvez", Marcio Aurelio analisa as ignorâncias do país - 14/04/2005». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 6 de fevereiro de 2019
- ↑ Carvalho, João Carlos de [UNESP (6 de julho de 2001). «Amazônia revisitada: de Carvajal a Márcio Souza». Aleph: 280 f.
- ↑ «Academia Amazonense de Letras promove debate sobre a obra de Márcio Souza | Entretenimento». A Crítica. Consultado em 6 de fevereiro de 2019
- ↑ Gomes, Márcia Letícia; Nenevé, Miguel (2012). «A ficção descolonizadora em Márcio Souza: uma análise de Mad Maria sob uma perspectiva pós-colonial»
- ↑ Márcio Souza, um escritor que discute a Amazônia | Impressões do Brasil | TV Brasil | Cidadania, consultado em 7 de fevereiro de 2019
- ↑ «Marcio Souza». www.tirodeletra.com.br. Consultado em 7 de fevereiro de 2019
- ↑ Notícias, Redação Amazonas (24 de maio de 2018). «Senac AM inaugura primeira biblioteca voltada à educação profissional da região norte de Manaus». Amazonas Notícias. Consultado em 7 de fevereiro de 2019
- ↑ Minuzzi, Luara Pinto (12 de setembro de 2015). «A IRRESISTÍVEL ASCENSÃO DO BAIXO OU A POLÍTICA CARNAVALIZADA EM A RESISTÍVEL ASCENSÃO DO BOTO TUCUXI, DE MÁRCIO SOUZA». Revista e-scrita: Revista do Curso de Letras da UNIABEU. 6 (2): 133–140. ISSN 2177-6288
- ↑ Xavier, Nilson. «Mad Maria». Teledramaturgia. Consultado em 6 de fevereiro de 2019
- ↑ «Fábio Assunção relembra minissérie Mad Maria». Jornal O Mamoré. Consultado em 6 de fevereiro de 2019
- ↑ CADERNOS DE LITERATURA BRASILEIRA. Marcio Souza. Instituto Moreira Salles, 2005.
- ↑ Mesquita, Maria Cláudia (5 de novembro de 2008). «A TRAJETÓRIA DO HERÓI NAS CRÔNICAS DO GRÃO-PARÁ E RIO NEGRO DE MÁRCIO SOUZA». Revista do SETA - ISSN 1981-9153 (0). ISSN 1981-9153. Consultado em 4 de março de 2021
- ↑ OLIVEIRA, Jeciane de Paula. "Tecendo a palavra: A constituição de si e a perspectivação do espaço-tempo em Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro, de Márcio Souza". 2018, 201p. Tese (Doutorado em Estudos Literários). Universidade Estadual do Mato Grosso, 2018.
- ↑ Costa, Izabelly Cruz da (31 de julho de 2009). «A realidade fragmentada: a relação entre literatura e cinema em Operação silêncio, de Márcio Souza, e Relato de um certo oriente, de Milton Hatoum»
- ↑ VIEIRA, André Soares. "Operações estéticas e políticas em Marcio Souza". Scripta Uniandrade.
- ↑ «Morre em Manaus Márcio Souza, um dos maiores ícones da literatura e do teatro no AM». A Crítica. Consultado em 12 de agosto de 2024
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Grupo Editorial Record Entrevista com o autor Entrevista com o autor
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