Transição demográfica
Transição demográfica é um conceito que descreve a dinâmica do crescimento populacional, decorrente dos avanços da medicina, urbanização, desenvolvimento de novas tecnologias, taxas de natalidade e outros fatores.
- Em primeiro lugar, explica porque a população mundial disparou nos últimos 200 anos (passando de 1 bilhão de habitantes no ano 1800 aos 7,6 bilhões na atualidade).
- Em segundo lugar, descreve o período de transformação de uma sociedade pré-industrial (caracterizada por ter taxas de natalidade e de mortalidade altas) a uma moderna ou pós-industrial (caracterizada por ter ambas as taxas baixas).[1]
Um processo em quatro fases
[editar | editar código-fonte]A teoria nasce dos estudos iniciados pelo demógrafo estadunidense Warren Thompson, no ano e é hoje mais vigente que nunca. Thompson observou as mudanças (ou transição) que tinham experimentado nos últimos duzentos anos as sociedades industrializadas do seu tempo com respeito às taxas de natalidade e de mortalidade. De acordo com estas observações expôs a teoria da transição demográfica segundo a qual uma sociedade pré-industrial passa, demograficamente falando, por 4 fases ou estágios antes de derivar numa sociedade plenamente pós-industrial.
Fase 1
[editar | editar código-fonte]Fase com elevadas taxas de natalidade compensadas por altas taxas de mortalidade. Muitas crianças morreram antes de atingir a idade adulta, e as doenças e fomes foram generalizadas. A expectativa de vida foi menor do que hoje, mas, em média, mais crianças nasceram para cada mãe. Esta etapa ocorre antes do processo de industrialização/urbanização. O crescimento vegetativo é equilibrado. Nessa época não existiam métodos contraceptivos e as condições de saúde eram precárias.
Fase 2
[editar | editar código-fonte]Os índices de mortalidade iniciam uma importante descida motivada por diferentes razões: a melhoria nas condições sanitárias, a evolução da medicina, e a urbanização, aumentando a expectativa de vida. Os problemas são: explosão demográfica, superpopulação e aumento do desemprego. Hoje em dia, muitos países subdesenvolvidos vivem essa fase. A taxa de natalidade sofre um pequeno declínio.
Fase 3
[editar | editar código-fonte]Ocorre um declínio na taxa de natalidade devido ao acesso à métodos anticoncepcionais, o elevado custo de vida nas cidades, e à educação (fazendo com que o planejamento familiar fique mais difundido). O resultado é um crescimento vegetativo reduzido em relação à segunda fase.
Fase 4
[editar | editar código-fonte]As taxas de natalidade e mortalidade se encontram muito baixas, é criada uma estabilização no crescimento vegetativo, tendo por consequência uma taxa de crescimento natural nula ou negativa.
Para uma fase 5?
[editar | editar código-fonte]Enquanto o modelo original de Transição Demográfica descrito por Warren Thompson apresenta só quatro fases, atualmente se aceita uma quinta fase, onde a mortalidade superará a natalidade, devido ao alto custo de se criar filhos (principalmente em países desenvolvidos), famílias optam por ter um número muito reduzido (entre 1 e nenhum) de filhos para manter o padrão de vida.
Esse efeito é muito temido por analistas, e já está iniciado em países como a Alemanha, Japão e Itália, pois com o decréscimo populacional, o número de idosos tende a superar o de jovens, o que pode acarretar problemas em relação a previdência.
O crescimento demográfico de hoje
[editar | editar código-fonte]O quadro abaixo permite captar a evolução da transição demográfica atualmente. Assim, escolheram-se 20 países - com as taxas de natalidade e mortalidade correspondentes a uma estimativa da CIA para o ano de 2020 - que põem de manifesto os diferentes ritmos existentes à hora de completar as 5 fases do processo.
É importante assinalar, no entanto, que na atualidade não há nenhum país que se encontre ainda na fase 1 porque, felizmente, as taxas de mortalidade próximas de 40 ou 50‰ não são registradas há décadas.
Estado | Taxa de natalidade (em ‰) |
Taxa de mortalidade (em ‰) |
Características | Fonte | |
---|---|---|---|---|---|
Fase 1 | - | 40-50 | 40-50 | Na atualidade não há nenhum estado no mundo que apresente Taxas de Mortalidade tão altas. Para encontrar algum país do Terceiro Mundo nesta fase, teria que se remontar à primeira metade do século XX; e até o século XVIII para encontrar algum risco. | |
Fase 2 | Níger | 47,5 | 10,2 |
A Taxa de Natalidade (TN) mantém-se alta. Por contra, a Taxa de Mortalidade (TM) experimenta uma forte baixada que se traduz num forte aumento da população. |
[2] |
Mali | 42,2 | 9 | [3] | ||
Uganda | 42,3 | 5,3 | [4] | ||
Angola | 42,7 | 8,5 | [5] | ||
Somália | 38,7 | 12,4 | [6] | ||
Fase 3 | Haiti | 21,7 | 7,4 | A TN inicia uma baixada, mas como a TM continua reduzindo-se o crescimento demográfico segue sendo marcadamente positivo. | [7] |
Camboja | 21,3 | 7,3 | [8] | ||
Filipinas | 22,9 | 6 | [9] | ||
Laos | 22,4 | 7,2 | [10] | ||
Argélia | 20 | 4,4 | [11] | ||
Fase 4 | Reino Unido | 10,78 | 10,18 |
A TN e a TM reduzem-se até chegar a valores muito parecidos, pelo qual se produz um crescimento insignificante ou o estancamento (como no caso da Suécia). |
|
Noruega | 11,67 | 9,45 | |||
Espanha | 10,1 | 9,63 | |||
Japão | 9,47 | 8,95 | |||
Suécia | 10,36 | 10,36 | |||
Fase 5 | Alemanha | 8,33 | 10,55 |
A TN segue experimentando uma baixada até o ponto que se situa por baixo da TM, com o qual o crescimento demográfico é negativo (perdem-se habitantes). |
|
Itália | 8,89 | 10,3 | |||
Eslovénia | 8,95 | 10,22 | |||
Lituânia | 8,62 | 10,92 | |||
Áustria | 8,81 | 9,7 |
Fonte: dados obtidos do CIA World Factbook Arquivado em 6 de janeiro de 2019, no Wayback Machine..
Algumas considerações
[editar | editar código-fonte]De acordo com o exposto até aqui se podem obter algumas conclusões:
- O resultado final ao início e ao fim do processo é o mesmo: um crescimento natural baixo. Ora, as circunstâncias são radicalmente opostas: na etapa 1 porque as taxas natalidade e mortalidade são muito altas; e na etapa 4 porque as mesmas taxas se equalizam em valores baixos.
- Desde suas origens e até o século XVIII, a humanidade esteve ancorada no estágio 1 da transição demográfica. Podemos observar no gráfico 2 que encontra-se à direita, a lentidão com que cresceu a população mundial durante este longo período de tempo.
- Com o estalido da Revolução Industrial, em meados do século XVIII, os países hoje desenvolvidos fizeram o salto no estágio 2, iniciando o rápido crescimento da população mundial que reflete o gráfico 2. Os países ricos completaram todo o processo no final do século XX, momento no qual estabilizaram à baixa suas taxas de natalidade e mortalidade. Portanto, a transição demográfica começou aqui lentamente ao longo de uns 250 anos.
- Os países em via de desenvolvimento ou do Terceiro Mundo, em mudança, iniciaram a transição demográfica mais tarde e repentinamente. Atualmente, a maioria deles -sobretudo os países africanos- se encontram no estágio 2 do processo: mantêm a natalidade muito alta, mas em geral, estão reduzindo consideravelmente a mortalidade. Outros países, especialmente em América Latina, em Ásia e também algum de África, já se encontram na fase 3 do processo porque reduziram muitíssimo a mortalidade e, ao mesmo tempo, estão diminuindo paulatinamente a natalidade.
- Os demógrafos consideram que o atual ritmo de crescimento da população mundial tem data de caducidade, dado que os países em via de desenvolvimento, tarde ou temporão, completarão a transição demográfica e acabarão desfrutando de umas taxas de natalidade e mortalidade semelhantes as que têm os países desenvolvidos. Por esta razão, os demógrafos consideram que a catástrofe malthusiana prognosticada por Thomas Malthus ao princípio do século XIX não acabará produzindo-se.
- A moderação no crescimento da população mundial dependerá da velocidade com que os países em via de desenvolvimento sejam capazes de completar a transição demográfica. Segundo cálculos da ONU, se os países pobres aceleram o ritmo, no ano 2050 terão no planeta uns 7,5 bilhões de habitantes. Se, por contra, o processo se modera a população mundial se poderia situar aquele ano em cerca dos 11 bilhões de habitantes.
Ver também
[editar | editar código-fonte]- ↑ Kirk, Dudley (1996). «Demographic Transition Theory». Population Studies. 50 (3): 361. ISSN 0032-4728. Consultado em 26 de fevereiro de 2020
- ↑ «Niger: People and Society». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 8 de junho de 2020
- ↑ «Mali». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 10 de novembro de 2015
- ↑ «Uganda». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 18 de outubro de 2015
- ↑ «Angola». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 6 de maio de 2020
- ↑ «Somalia». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 1 de julho de 2016
- ↑ «Haiti». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 31 de janeiro de 2016
- ↑ «Cambodia». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2010
- ↑ «Philippines». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 19 de julho de 2015
- ↑ «Laos». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 29 de dezembro de 2010
- ↑ «Algeria». The World Factbook. Central Intelligence Agency. Consultado em 26 de fevereiro de 2020. Cópia arquivada em 30 de setembro de 2012