Teógnis de Niceia
Teógnis de Niceia foi um bispo de Niceia, excomungado por ser partidário da heresia ariana. Isto deu-se após a realização do Primeiro Concílio Ecumênico, ocorrido naquela cidade no ano de 325, quando ele foi acusado por sua negligência em não ter denunciado Ário e sua doutrina antitrinitária, que fora condenada naquele concílio.
A Formação teológica
[editar | editar código-fonte]Pouco é sabido sobre a vida pregressa de Teógnis, sabe-se que ele teve a sua formação teológica na Escola de Antioquia, o Didaskaleion, uma escola teológica ou catequética, cujo fundador e primeiro reitor fora Luciano de Antioquia. Era uma escola de estudos doutrinários, científicos, discursivos e filosóficos e que contava dentre seus ingressos, com teólogos de renome, como Diodoro de Tarso, Teodoro de Mopsuéstia, Ário, Eusébio de Nicomédia, Maris de Calcedônia, Eudóxio, Astério de Petra, Efrém, o Sírio, Nestório e João Crisóstomo, entre outros. As diferenças existentes entre as escolas de Antioquia e a de Alexandria e a de Cesareia, eram gritantes e ao mesmo tempo sutis. A primeira, por seu tempo, adotava o sentido basicamente discursivo, textual (ou literal), preliminar ou histórico, enquanto que a alexandrina servia-se de uma dialética alegórica. Entende-se assim porque no campo teológico as divergências grassavam.
O Concílio de Niceia
[editar | editar código-fonte]O rumo de todas as divergências encaminhou-se finalmente para um único palco, depois de inúmeros sínodos e de concílios nacionais, regionais ou plenários. Sob este aspecto o Concílio de Niceia, por ser ecumênico ou geral, unificou a razão de ser de todas as idéias oriundas destas assembleias partidárias, já que muitos destes sínodos ou concílios eram consensualmente partidários. Este palco foi o Palácio imperial, em seu saguão principal. Os trabalhos do Concílio, foi então a cidade de Niceia, em 20 de maio. O concílio fora convocado por insistência de Constantino para unificar de vez as várias divergências e tendências teológicas surgidas no seio da igreja e para também dirimir dúvidas e questões polêmicas. O concílio reuniu, de per si, duas alas conflitantes e evidentes dentro do cristianismo: Os ortodoxos e os arianos.
Os 318 participantes, entre bispos, prelados, assistentes, concluiriam pela condenação do arianismo e pela formulação de uma profissão de fé, chamada de Credo de Niceia, cuja elaboração foi confiada ao bispo Ósio de Córdoba, a qual foi subscrita por todos os presentes a exceção de uma pequena parcela do partido ariano, contados como 17 já que Eusébio de Cesareia, também ariano, recebeu o credo no dia posterior. Eram eles, além da clássica vanguarda de Ário, que representavam representavam o grupo teológico de apoio e defesa às ideia de Ário, composta por Segundo, bispo de Ptolemaida.[1][2][3]; Teonas, bispo de Marmárica.[1][2][3]; Eusébio, bispo de Berito, Nicomédia (?-325 e 328-338) e Constantinopla (338-341, rival de Paulo I de Constantinopla).[2][4]; Teógnis de Niceia, bispo de Niceia.[2][5]; Maris, bispo de Calcedônia.[1][6].
Além destes, outros prelados de influência que representavam o partido eram: Secundiano[7] e Ursácio de Singiduno; Eustácio de Sebaste, Valente de Múrcia; Eusébio de Emesa,[8] (c. 339 ou 341);[9] Gregório da Capadócia;[10] Narciso de Nerônias; Estêvão I de Antioquia;[11] Leôncio de Antioquia;[12][13] Atanásio de Anazarbo;[14] mestres de Aécio; Patrófilo de Citópolis;[15] Astério;[16][17][18] Úlfilas;[19][20][21]; Vereca e Batuíno, presbíteros mártires entre os Godos; Auxêncio de Durostoro e Paládio de Raziaria;[7] Zópiro de Barca[22]; Dates de Pentápole; Paulino de Tiro;[23][24][25] Acácio de Cesareia; Anfião de Sídon; Teódoto de Laodiceia; Teodoro da Trácia; Narciso de Irenópolis; Samósata de Niceia; Segundo de Teucira; Demófilo de Constantinopla; Jorge de Laodiceia; Gregório de Capadócia; Potâmio de Olisipo; Saturnino de Arles; Auxêncio de Milão; Menofanto de Éfeso; Leôncio de Salona; Pisto de Alexandria,[26] Aécio e Euzoio de Antioquia; Úlfila da Dácia; Ajax da Gália; Marcos de Aretusa; Jorge I de Alexandria; Maximino da Ilíria.
Após o Concílio
[editar | editar código-fonte]De todos somente 5 arianos não subscreveram o credo, eram eles Eusébio de Nicomédia, Teógnis de Niceia, Maris de Calcedônia, Teonas de Marmárica, Segundo de Ptolemaida. Temendo entretanto o exílio Teógnis, Eusébio e Maris firmaram o documento mas, poucos meses depois os dois primeiros revogaram suas assinaturas, provocando com isso a ira de Constantino que a ambos baniu para a Gália e ainda mandou que fossem queimados publicamente todos os escritos destes. O exílio todavia representou uma imputação complexa demais, uma árdua prova na vida de ambos e não tardou muito para que ambos enviassem uma carta de retratação ao imperador, concordando com o credo e este além do perdão concluiu por restaurá-los em seus episcopados.[27][28]
Quanto a Teonas de Marmárica, Segundo de Ptolemaida juntamente com alguns sacerdotes egípcios, Constantino mandou que se os exilasse na Ilíria. Já o historiador Sócrates, o Escolástico em sua História Eclesiástica, afirma que Eusébio, Teógnis e Ário foram os únicos enviados para o exílio.
Teógnis e Eusébio foram desde o principio os maiores nomes de apoio ao arianismo, a vanguarda de Ário.
Segundo o historiador ariano Filostórgio, tudo não passou de uma confusão de terminologia de “como em substância", em vez de "da mesma substância" e que tanto Teógnis quanto Eusébio não eram em verdade passíveis daquela culpa imposta.
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Josef Lenzenweger, História da Igreja Católica - Edições Loyola
- Teodoreto, Santo Atanásio, - vide Hermant. Tillemont, t. 6, pp 213, 240; Ceillier, t. 4.
- Alban Butler, "As Vidas dos Padres, mártires e outros santos principais", vol. II. Edição de 1864 publicado pela D. & J. Sadlier, & Company
- Sócrates Scholastictus, História Eclesiástica; I: 8
- Samuel Eliot, History of liberty - Little, Brown and company, 1853
- Heather, Peter (1991). Goths in the Fourth Century. [S.l.]: Liverpool University Press. ISBN 0853234264
- ↑ a b c Sócrates de Constantinopla, História da Igreja , livro 1,
- ↑ a b c d Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio, livro 1, capítulo 9.
- ↑ a b Condemned by Alexandre de Alexandria, ver Sócrates, História Eclesiástica, livro 1, capítulo 6.
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História Eclesiástica, livro 1, capítulos 6, 8 & 14, e livro 2, capítulo 7.
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História Eclesiástica, livro 1, capítulos 6, 8 & 14.
- ↑ Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio, livro 1, capítulo 9 e livro 4, capítulo 12.
- ↑ a b Heather 1991, p. 135-136.
- ↑ (possivelmente era também um Homoiousiano e/ou Sabeliano)
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História Eclesiástica, livro 2, capítulo 9.
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História Eclesiástica, livro 2, capítulos 10-11.
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História da Igreja , livro 2, capítulo 26.
- ↑ Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio, livro 3, capítulo 17.
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História Eclesiástica, livro 2, capítulos 26 & 35.
- ↑ Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio, livro 3, capítulo 15.
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História da Igreja , livro 2, capítulo 38.
- ↑ que, de acordo com Sócrates de Constantinopla, considerou Jesus como exemplo do poder de Deus, e de acordo com Filostórgio, defendeu o tradicionalismo Homoiousiano
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História da Igreja , livro 1, capítulo 36.
- ↑ Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio, livro 4, capítulo 4.
- ↑ primeiro bispo dos Godos (341 ?-c. 383), e tradutor da Bíblia, que concordou com a fórmula Homoiana em Constantinopla
- ↑ Sócrates de Constantinopla, História da Igreja , livro 2, capítulo 41.
- ↑ Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio, livro 2, capítulo 5.
- ↑ pode ser também Zópiro, Zefírio ou Zéfiro de Barca
- ↑ Atiya, Aziz S.. A Enciclopédia copta. Nova Iorque: Macmillan Publishing Company, 1991. ISBN 0-02-897025-X.
- ↑ Filostórgio, em Fócio, Epítome da História Eclesiástica de Filostórgio , livro 1, capítulo 9.
- ↑ A vida de Alexandre I de Alexandria
- ↑ Pisto era o candidato indicado pelo Concílio de Tiro para ocupar o cargo de bispo em substituição a Alexandre de Alexandria mas, por imposição de Júlio I, o bispo foi Atanásio
- ↑ Teodoreto. História Eclesiástica: Epístola do imperador Constantino contra Eusébio e Teógnis, endereçada aos nicomedenses. (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo: 19, vol. I.
- ↑ Sócrates Escolástico. História Eclesiástica: Alexandre, bispo de Constantinopla, quando à beira da morte propôs a eleição de Paulo ou de Macedônio como seu sucessor. Capítulo: 6, vol. II.; Teodoreto. História Eclesiástica: Epístola do imperador Constantino contra Eusébio e Teógnis, endereçada aos nicomedenses. (em inglês). [S.l.: s.n.]. Capítulo: 19, vol. I.