Queimada (licor)
Tradição
[editar | editar código-fonte]O ritual da preparação está dirigido a afastar os maus espíritos e as meigas (bruxas) que espreitam, segundo a tradição, para maldizê-los, quer por diversão, por vingança ou por qualquer outro motivo. Qualquer ocasião é boa para realizar uma queimada: uma festa, reuniões familiares ou de amigos. Após a ceia, na obscuridade da noite (que é um bom momento para realizá-la), os comensais reúnem-se ao redor do pote no qual se elabora, preferivelmente com as luzes apagadas. Um dos presentes é encarregado de lhe dar o toque final, erguendo com uma concha o líquido em chamas e deixando-o cair pouco a pouco no recipiente enquanto pronuncia o esconjuro, criando-se um ambiente especial.
Ingredientes
[editar | editar código-fonte]Os seus ingredientes principais são a aguardente e o açúcar, aos que geralmente é adicionada também casca de limão ou laranja. Também podem ser adicionados alguns grãos de café sem moer, pedaços de maçã e uvas, os quais se acrescentam de forma independente segundo a tradição de cada região.
Preparação
[editar | editar código-fonte]Num pote de barro cozido (preferivelmente um especial para a queimada) botam-se a aguardente e o açúcar na proporção de uns 120 gramas deste por litro daquela, os demais ingredientes e mexe-se tudo.
Num recipiente menor (normalmente a concha com a que se serve) colhe-se, à parte, uma pequena quantidade de queimada, sem limão nem café, molham-se os bordos da concha com a bebida e ateia-se fogo. Enquanto está ardendo, mete-se a concha no recipiente grande até se estender o fogo por toda a superfície. A seguir, mexe-se devagar, deixando que subam as chamas do álcool, criando cascatas com elas. Mexe-se até se esgotar quase o álcool todo, fazendo que a queimada se apague por si só, à exceção dos bordos, que normalmente não se apagam. É no final deste processo quando se recita o esconjuro.
A queimada é servida quente, sem ser retirado nenhum dos ingredientes.
Esconjuro
[editar | editar código-fonte]O esconjuro da queimada foi escrito por Mariano Marcos Abalo em 1967 e revisto em 1974.[1]
Mochos, corujas, sapos e bruxas.
Demônios, trasgos e diabos,
espíritos das enevoadas veigas.
Corvos, píntigas e meigas:
feitiços das mezinheiras.
Podres canhotas furadas,
lar dos vermes e alimárias.
Fogo das Santas Companhas,
mau-olhado, negros feitiços,
cheiro dos mortos, trovões e raios.
Uivar do cão, pregão da morte;
focinho do sátiro e pé do coelho.
Pecadora língua da má mulher
casada com um homem velho.
Averno de Satã e Belzebu,
fogo dos cadáveres ardentes,
corpos mutilados dos indecentes,
peidos dos infernais cus,
mugido do mar embravecido.
Barriga inútil da mulher solteira,
falar dos gatos que andam à janeira,
guedelha porca da cabra mal parida.
Com este fole levantarei
as chamas deste fogo
que assemelha o do Inferno,
e fugirão as bruxas
a cavalo das suas vassoiras,
indo se banhar na praia
das areias gordas.
Ouvi, ouvi! os rugidos
que dão as que não podem
deixar de se queimar na aguardente
ficando assim purificadas.
E quando esta beberagem
baixe pelas nossas goelas,
ficaremos livres dos males
da nossa alma e de feitiço todo.
Forças do ar, terra, mar e fogo,
a vós faço esta chamada:
se é verdade que tendes mais poder
que a humanas pessoas,
aqui e agora, fazei que os espíritos
dos amigos que estão fora,
participem connosco desta Queimada.
- ↑ R. Queimaliños (9 de agosto de 2005). La Voz de Galicia, ed. ««O café na queimada é unha copia dos cataláns»». Consultado em 21 de maio de 2008. Arquivado do original em 9 de julho de 2015
Ver também
[editar | editar código-fonte]Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- «A alumiar a queimada, em culturagalega.org» (em galego)