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Primeira Guerra Balcânica

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Primeira Guerra Balcânica
Parte das Guerras dos Balcãs

Em sentido horário: artilharia búlgara, forças sérvias entrando em Mitrovica, tropas otomanas na Batalha de Kumanovo e o rei Jorge I da Grécia se encontrando com o czar Fernando I da Bulgária em Salonica
Data 8 de outubro de 1912 a 30 de maio de 1913
Local Bálcãs
Desfecho Vitória da Liga Balcânica
Beligerantes
Liga Balcânica
 Bulgária
 Grécia
 Sérvia
 Montenegro

Camisas-vermelhas
Voluntários albaneses
Voluntários armênios


Apoio

 Rússia
 Império Otomano

Voluntários circassianos
Voluntários albaneses


Apoio

 Áustria-Hungria
Comandantes
Fernando I
Vladimir Vazov
Georgi Vazov
Mihail Savov
Ivan Fichev
Vasil Kutinchev
Nikola Ivanov
Radko Dimitriev
Stiliyan Kovachev
Georgi Todorov
Jorge I
Constantino I
Panagiotis Danglis
Pavlos Kountouriotis
Pedro I
Alexandre
Jorge
Radomir Putnik
Petar Bojović
Stepa Stepanović
Božidar Janković
Živojin Mišić
Pavle Jurišić Šturm
Nicolau I
Danilo
Pedro
Janko Vukotić
Radomir Vešović
Maomé V Raxade
Mehmed Kâmil
Mahmud Shevket
İsmail Enver
Hüseyin Nazım
Mehmet Zeki
Mehmet Esat Rendição (militar)
Kölemen Abdullah
Ali Rıza
Hasan Tahsin Rendição (militar)
İsmail Hakkı Okday
Hasan Rıza 
Mehmed Şükrü
Essad Toptani Rendição (militar)
Hüseyin Rauf
Forças
450+ mil homens
230 mil homens
125 mil homens
44,5 mil homens
436 mil homens
Baixas
c. 108 mil mortos ou feridos 340 mil mortos, feridos ou capturados

A Primeira Guerra Balcânica, também conhecida como Primeira Guerra dos Bálcãs (português brasileiro) ou Balcãs (português europeu), foi um conflito militar que durou de outubro de 1912 a maio de 1913 e colocou a Liga Balcânica (Sérvia, Montenegro, Grécia e Bulgária) contra o Império Otomano. As forças combinadas dos Estados balcânicos conseguiram superar as forças otomanas, numericamente inferiores e em desvantagem estratégica, conseguindo um rápido sucesso. Como resultado da guerra, quase todos os territórios europeus do Império Otomano foram conquistados e divididos entre os aliados, e um estado independente albanês foi criado, por pressão da Áustria-Hungria e da Itália. Apesar deste sucesso, as nações balcânicas permaneceram insatisfeitos com o resultado da guerra, e as tensões internas que surgiram com a retirada da ameaça otomana, que até então os unira, logo resultou na Segunda Guerra Balcânica.

As tensões entre os Estados balcânicos sobre suas aspirações às províncias da Rumélia ocupadas pelos otomanos, como a Rumélia Oriental, a Trácia e a Macedônia, foram interrompidas pela intervenção das grandes potências nos Bálcãs em meados do século XIX, que visavam garantir a proteção das maiorias cristãs da região e a manutenção do status quo. Em 1867, a Grécia, a Sérvia e Montenegro já haviam assegurado suas independências, confirmadas pelo Tratado de Berlim uma década mais tarde. Mas a questão da viabilidade do domínio otomano renasceria com a Revolução dos Jovens Turcos em julho de 1908, que compeliu o sultão Abdulamide II a restaurar a suspensa Constituição Otomana, e com os significativos desenvolvimentos ocorridos entre 1909 e 1911.

As aspirações sérvias sobre o território da Bósnia e Herzegovina foram defraudadas pela Áustria-Hungria, que anexou formalmente a província em outubro de 1908, pelo que os sérvios voltaram suas atenções para o Cosovo, que historicamente consideram sua terra natal, e para uma possível expansão para o sul. Oficiais gregos, que haviam se revoltado em agosto de 1909, haviam assegurado a indicação de um governo progressista liderado por Eleftherios Venizelos que, segundo esperavam, conseguiria resolver a questão da ilha de Creta a seu favor e reverter a derrota na Guerra Greco-Turca de 1897. A Bulgária, que ganhou sua independência do Império Otomano em abril de 1909 e tinha a amizade do Império Russo, também cobiçava territórios otomanos na Trácia e na Macedônia, para garantir sua expansão. Em março de 1910, uma insurreição albanesa eclodiu no Cosovo, e em agosto do mesmo ano o Montenegro seguiu o precedente aberto pela Bulgária e se tornou uma monarquia.

Em 1911, a Itália iniciou a invasão da Tripolitânia, no norte da África, à qual se seguiu a ocupação das ilhas do Dodecaneso. As decisivas vitórias militares italianas sobre o Império Otomano influenciaram os Estados balcânicos a preparar uma guerra contra os otomanos. Com esse fim, ocorreram diversos encontros entre os vários representantes das nações balcânicas durante a primavera de 1912, que resultaram em uma rede de alianças militares que se tornaria conhecida como a Liga Balcânica.

As grandes potências, sobretudo a França e a Áustria-Hungria, reagiram a estas reuniões diplomáticas tentando dissuadir a Liga de provocar a guerra, mas falharam. No final de setembro, tanto os Estados da Liga quando o Império Otomano haviam mobilizado seus exércitos. O Montenegro foi o primeiro país a declarar guerra, em 25 de setembro. Os outros três membros da aliança enviaram um ultimato ao Império Otomano em 13 de outubro, e declararam guerra no dia 17 do mesmo mês

Planos de batalha

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Os quatro aliados não haviam planejado um plano geral de batalha, e não fizeram nenhum esforço para coordenar suas forças. Pelo contrário, a guerra acabaria por ser conduzida por cada Estado individualmente, e assim sendo, ela pode ser separada em quatro frentes de batalha geograficamente definidas. Búlgaros enfrentam a maior parte das forças otomanas, que protegiam as rotas para Constantinopla, especialmente na Trácia e na Macedônia. Sérvios e montenegrinos atuaram em Cosovo, em sanjaco, no norte da Macedônia e na região que viria a formar a Albânia. Os gregos concentraram seus esforços de guerra no sul da Macedônia e na direção de Salônica.

A Bulgária, então conhecida como a "Prússia dos Bálcãs",[1] era militarmente o mais poderoso dos quatro aliados, com um grande, bem-treinado e bem-equipado exército.[2] O exército de 60 mil homens foi expandido para 370 mil combatentes durante a guerra,[2] com uma mobilização total de 600 mil soldados, numa população de 4,3 milhões de habitantes.[3] O suposto comandante das operações era o Czar Ferdinando, enquanto o atual comando estava nas mãos do General Michail Sakov. Os búlgaros também possuíam uma pequena marinha composta por seis navios torpedeiros, que estavam restritos a operações na costa do Mar Negro.[4]

As forças búlgaras concentraram seus ataques na Trácia e na Macedônia. Esta última viria a ser dividida entre Sérvia e Grécia, apesar de originalmente estas duas regiões pertencerem ao reino (foram retiradas do reino búlgaro em 1878, no Tratado de Berlim, no qual as potências europeias tentaram impedir o surgimento de um país poderoso nos Bálcãs). A maior força de ataque foi deixada na Trácia, formando três exércitos. O primeiro, sob o comando do general Vasil Kutinchev tinha três divisões de infantaria e foi deixado no sul de Jambol, com vistas a fazer operações ao longo do rio Tundzha. O segundo exército ficou sob o comando do general Nikola Ivanov, com duas divisões de infantaria e uma brigada, foi deixado a oeste do primeiro exército e designado a capturar a poderosa fortaleza de Adrianópolis (atual Edirne). De acordo com os planos, o terceiro exército, sob o comando do general Radko Dimitriev, foi deixado a leste do primeiro, e estava protegido pela divisão de cavalaria que o escondia das divisões turcas. O terceiro exército tinha três divisões de infantaria designadas a cruzar o monte Stranja e a tomar a fortaleza de Lozengrado (Kirk Kilisse). As divisões de número 2 e 7 receberam papéis independentes, operando na Trácia Ocidental e na Macedônia Oriental, respectivamente. Vievo foi um exemplo de vila da qual os turcos foram expulsos sob a eficácia da milícia búlgara.

As forças búlgaras infringiram pesadas perdas aos otomanos. Avançando sob terreno desconhecido pouco reconhecido e sem o auxílio de mapas. Chegaram até Chataldja (ou Çatalca) a 30 quilômetros de Constantinopla. Rechaçados por uma pesada barragem de artilharia.[5]

Apesar de muito menor em números que o exército búlgaro, a força militar da Sérvia também era considerável. A Sérvia convocou aproximadamente 230 mil homens para formar dez divisões de infantaria, duas brigadas independentes, e uma divisão de cavalaria sob o comando do ex-Ministro da Guerra Radomir Putnik.[3] O Alto Comando sérvio, em suas previsões feitas antes do início da guerra, concluiu que o melhor campo para uma batalha decisiva contra o exército otomano seria o planalto de Ovče Polje, próximo a Escópia. Assim sendo, as principais forças formaram três exércitos que avançaram sobre Escópia, enquanto uma brigada independente ajudava os montenegrinos no Sanjaco de Novi Pazar.

O primeiro exército era comandado pelo general Petar Bojović, e era um dos mais poderosos em número de forças, enquanto se dirigia para tomar Escópia. O segundo exército era comandando pelo general Stepa Stepanović, e consistia em um exército misto de sérvios e búlgaros. Formou-se a esquerda do primeiro exército e avançou contra a cidade de Stracin. A inclusão de uma força búlgara ao exército deveu-se a um acordo pré-guerra feito entre os comandantes dos exércitos sérvio e búlgaro, mas essa divisão recusou-se a obedecer ao General Stepanović logo que a guerra começou, e seguiu apenas ordens do Alto Comando búlgaro. O terceiro exército era comandado pelo general Božidar Janković e, estando na ala direita do exército, tinha a tarefa de libertar o Cosovo e então juntar-se aos outros exércitos para a esperada batalha de Ovče Polje.

O cruzador blindado Georgios Averof, nau capitânia da frota grega. Era, à data, o mais moderno navio de guerra das marinhas envolvidas no conflito, tendo cumprido um papel crucial nas operações no Mar Egeu.

A Grécia era considerada a mais fraca dos três principais aliados, desde que havia sofrido uma humilhante derrota contra os otomanos na Guerra Greco-Turca de 1897, e não se esperava que contribuísse decisivamente contra o exército turco. O reino grego mostrou-se capaz de juntar apenas 120 mil combatentes para suas forças de guerra. Entretanto, a Grécia possuía uma poderosa marinha, que acabou por se tornar vital para a liga, já que era a única forma de prevenir que reforços turcos chegassem aos Bálcãs transferidos da Ásia. Previamente, o embaixador grego em Sófia declarou, com exagero, durante as negociações que levaram a Grécia a ingressar na Liga: "A Grécia pode prover um exército de 600 mil combatentes para o esforço de guerra. (...) 200 mil homens em terra, e a marinha estará apta a impedir 400 mil homens de desembarcar [...] entre Salônica e Galípoli.[4]

O exército ainda estava sendo reorganizado por uma missão militar francesa quando a guerra começou. Com a mobilização, ele dividiu-se em dois. O Exército de Tessália, sob o comando do Príncipe Constantino I, ao lado do general Panagiotis Danglis, abrigava sete divisões da infantaria, uma brigada da cavalaria e quatro batalhões de evzones independentes, chegando a aproximadamente 100 mil homens. Esta força deveria tomar posições fortificados da fronteira turca e avançar contra a Macedônia, com o objetivo de tomar Salônica.

Além deste, de 10 mil a 13 mil homens divididos em oito batalhões foram designados a compor o Exército de Epiro, sob o comando do general Konstantinos Sapountzakis, que deveria avançar sobre a região de Epiro. Como não havia esperanças de captura da altamente fortificada capital Janina, sua missão inicial era simplesmente enfraquecer as forças turcas da área, até que reforços fossem enviados e o Exército de Tessália fosse bem-sucedido nas suas operações.

A marinha grega, neste ínterim, deveria isolar as ilhas do Mar Egeu que ainda estavam sob o domínio otomano e asseguradas pela supremacia naval do Sultão. A Marinha do Egeu, sob o comando de Pavlos Kountouriotis foi designada para esta tarefa, e consistia em três navios de guerra, sete destróiers e o novíssimo cruzador blindado Georgios Averof, nos quais os planos de dominação naval grega se baseavam.[6] Outras forças menores consistiam de navios torpedeiros que deveria atacar qualquer resistência otomana.

Os montenegrinos tinham uma reputação de experientes lutadores, mas seu exército era pequeno e antiquado.[3] Depois de completar a mobilização na primeira semana de outubro, Montenegro organizou seu exército de 35,6 mil combatentes em quatro divisões.[3] O comandante era supostamente o Rei Nicolau I, mas o comando efetivo estava nas mãos do general Lazorović. O principal foco montenegrino era a captura da importante cidade de Escodra, enquanto operações secundárias eram realizadas em Novi Pazar.

Império Otomano

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Em 1912, os otomanos viram-se numa posição de extrema dificuldade. Ainda se encontravam envolvidos numa guerra com os italianos na Líbia, que durou até 15 de Outubro, poucos dias antes do início das hostilidades nas Balcãs. O Império Otomano estava então desprovido de capacidade de reforçar significativamente as suas posições na península balcânica e as relações com os Estados da região tinham-se degradado ao longo do ano.[7]

As capacidades militares otomanas também estavam minadas devido à instabilidade causada pela Revolução dos Jovens Turcos e pelo golpe contrarrevolucionário levado a cabo vários meses depois. Um esforço foi feito para reorganizar o exército com a ajuda de uma missão alemã, mas os seus efeitos foram questionáveis.[3] O exército regular (nizam) era bem-equipado e treinado, mas as unidades de reserva (redif) que o complementava era geralmente composto de cidadãos locais não muçulmanos, que tinha pouquíssimas habilidades para lutar.[7]

Em teoria, os otomanos poderiam sentir-se muito superiores numericamente contra a Liga Balcânica, mas com o Mar Egeu pela marinha grega, teriam que transportar todos os exércitos da Ásia por terra, por uma única linha férrea. Mesmo na Europa, os otomanos não possuíam um plano único contra os seus oponentes, e as suas forças lutaram isoladas, sem uma coordenação geral.

Batalhas da Primeira Guerra Balcânica
Nome Atacante Comandante Defensor Comandante Data Vencedor
Batalha de Sarantaporo Gregos Constantino I da Grécia Otomanos 22 Out 1912 Gregos
Batalha de Kumanovo Sérvios Gen. Radomir Putnik Otomanos Gen. Zekki Paxá 23 Out 1912 Sérvios
Batalha de Kirk Kelesse Búlgaros Gen. Radko Dimitriev, Gen. Ivan Fichev Otomanos Mahmud Muhtar Paxá 24 Out 1912 Búlgaros
Batalha de Lule-Burgas Búlgaros Gen. Radko Dimitriev, Gen. Ivan Fichev Otomanos Abedalá Paxá 28-31 Out 1912 Búlgaros
Batalha de Giannitsa Gregos Constantino I da Grécia Otomanos Hasan Tahsin Paxá 1 Nov 1912 Gregos
Batalha de Prilepo Sérvios Otomanos 3 Nov 1912 Sérvios
Batalha de Pente Pigadia Gregos Ten. Gen. Konstantinos Sapountzakis Otomanos Esat Paxá 6-12 Nov 1912 Gregos
Batalha de Vevi Gregos Otomanos 15 Nov 1912 Otomanos
Batalha de Bitola Sérvios Gen. Petar Bojović Otomanos Gen. Zekki Paxá 16-19 Nov 1912 Sérvios
Batalha de Caliacra Búlgaros Cap. Dimitar Dobrev Otomanos Hyusein Rauf Bei 21 Nov 1912 Búlgaros
Batalha de Elli Gregos Con. Alm. Pavlos Kountouriotis Otomanos Alm. Ramiz Bey 16 Dez 1912 Gregos
Batalha de Lemnos Gregos Con. Alm. Pavlos Kountouriotis Otomanos 18 Jan 1913 Gregos
Batalha de Bulair Otomanos Feti Bey Búlgaros Gen. Georgi Todorov 26 Jan 1913 Búlgaros
Batalha de Şarköy Otomanos Enver Bey Búlgaros Gen. Stiliyan Kovachev 26-28 Jan 1913 Búlgaros
Batalha de Bizani Gregos Constantino I da Grécia Otomanos Esat Paxá 5-6 Mar 1913 Gregos
Cerco de Edirne Búlgaros e Sérvios Gen. Georgi Vazov, Gen. Stepa Stepanovic Otomanos Gen. Ghazi Shulkri Paxá 11-13 Mar 1913 Búlgaros e Sérvios
Notas
  1. DILLON, The Inside Story of The Peace Conference, cap.XV
  2. a b HALL, The Balkan Wars, p.16
  3. a b c d e HALL, The Balkan Wars, p.18
  4. a b HALL, The Balkan Wars, p.17
  5. CLARK, Christopher (2014). Sonâmbulos como eclodiu a primeira guerra mundial. São Paulo: Compainha das letras. 281 páginas 
  6. ERICKSON, Defeat in Detail, p.155
  7. a b HALL, The Balkan Wars, p.19
O Commons possui uma categoria com imagens e outros ficheiros sobre Primeira Guerra Balcânica
  • ERICKSON, Edward J.; BUSH, Bright C. (2003). Defeat in Detail. The Ottoman Army in the Balkans, 1912-1913 (em inglês). [S.l.]: Greenwood Publishing Group. ISBN 0-275-97888-5 
  • HALL, Richard C. (2000). The Balkan Wars, 1912-1913. Prelude to the First World War (em inglês). [S.l.]: Routledge. ISBN 0-415-22946-4 
  • SCHURMAN, Jacob Gould (2004). The Balkan Wars 1912 to 1913 (em inglês). [S.l.]: Kessinger Publishing. ISBN 1-4191-5345-5 
  • DILLON, Emile Joseph (1920). The Inside Story of The Peace Conference (em inglês). Nova Iorque: Harper & Brothers Publishers  (disponível online)