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Neurolinguística

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Se procura para o estudo não acadêmico do uso dos próprios recursos mentais e morais para alcançar objetivos pessoais, veja Programação neurolinguística.

Neurolinguística é uma ciência que estuda a elaboração cerebral da linguagem. Ocupa-se com o estudo dos mecanismos do cérebro humano que suportam a compreensão, produção e conhecimento abstrato da língua, seja ela falada, escrita, ou assinalada. Trata tanto da elaboração da linguagem típica (ou seja, sem dificuldades), como dos distúrbios clínicos que geram suas alterações.

Foi originada em meados do século XIX pelo francês Paul Broca e com o alemão Carl Wernicke. O que eles fizeram foi estudar e caracterizar a afasia (nome dado a um distúrbio de linguagem provocado por uma lesão cerebral que pode ser causada tanto por traumatismo, como por acidentes vasculares cerebrais) de pessoas que tinham sofrido alguma lesão no cérebro, e então, depois da morte dos pacientes, a fazer exames post-mortem para determinar que áreas do cérebro haviam sido danificadas.Estudo do processamento normal e patológico da linguagem a partir de construtos e modelos elaborados no campo da Linguística, da Neuropsicologia, da Psicolinguística, da Psicologia Cognitiva. A este item vincula-se ainda o interesse por temas neurolinguísticos tradicionais como neuro-psicofisiologia da linguagem, semiologia das chamadas patologias da língua.

Interdisciplinar por natureza, este campo caminha na fronteira da Linguística, Neurobiologia e Engenharia informática, entre outros. Investigadores de várias especialidades sentem-se atraídos a ele, trazendo consigo técnicas experimentais diversificadas tal como perspectivas teoréticas altamente diferentes.

O termo neurolinguística tem, historicamente, sido associado com afasiologia, o estudo de déficits linguísticos e sobre-capacidades, resultantes de formas específicas de danos cerebrais. Mas esse é um ramo diferente.

Embora a afasiologia seja o núcleo histórico da neurolinguística, o ramo cresceu consideravelmente nos anos recentes, com o uso das novas tecnologias. A língua é um tópico de interesse fundamental em neurociência cognitiva e técnicas modernas de obter imagens do cérebro contribuíram grandemente para um crescente conhecimento da organização anatómica das funções linguísticas. Tais técnicas incluem PET (em português, tomografia de emissão positrônica) e fMRI (mapeamento funcional por ressonância magnética), as quais permitem a obtenção de imagens de alta resolução do uso de energia pelas várias regiões do cérebro durante atividades de processamento linguístico. Até à data, os resultados destas técnicas não contradisseram os resultados existentes vindos da afasiologia.

Infelizmente, estas técnicas não permitem imagens contínuas da atividade cerebral durante a produção ou compreensão de frases. Como uma sequência seria altamente relevante nestas questões, os pesquisadores também aplicam as técnicas electrofisiológicas grosseiras EEG (de electroencefalografia) e MEG (de magnetencefalografia). Têm uma precisão de milissegundos, mas a natureza dos mecanismos cerebrais que geram os sinais eléctricos é desconhecida, tornando-os difíceis de interpretar. Como resultado, EEG e MEG são utilizados primariamente para informar teorias da arquitetura cognitivo-computacional da língua, ignorando a sua implementação neurobiológica precisa. Por exemplo, pode-se suspeitar que de três categorias de palavras que podem acabar uma frase, na verdade, duas usam o mesmo mecanismo, mas a terceira é representada de um modo diferente. Mostrando que as duas resultam numa resposta electrofisiológica idêntica diferente da terceira confirmaria tal hipótese.

Entre técnicas novas não intrusivas para estudar o funcionamento do cérebro, incluindo como funciona a língua, estimulação magnética transcranial também merece referência.

Muito ligado a esta pesquisa está o campo da Psicolinguística, que procura elucidar os mecanismos cognitivos da língua empregando as técnicas tradicionais da Psicologia experimental, incluindo a análise de indicadores como o tempo de reação, número de erros e movimento dos olhos.

Outra metodologia importante em neurociência cognitiva da língua é a modelação computacional, que é capaz de apontar a plausibilidade (ou falta dela) em hipóteses específicas sobre a organização neural da língua e ao mesmo tempo gerar novas predições para futura pesquisa empírica. Atualmente modeladores computacionais estão a colaborar crescentemente com mapeadores cerebrais e psicólogos em programas interdisciplinares coordenados de pesquisa. Tais programas resultaram em previsões novas e importantes da natureza da língua, como também sobre deficiências linguísticas importantes que afetam milhões, como a gaguez ou a dislexia.

Neurociência da linguagem

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A  neurociência da linguagem é um novo campo de estudo derivado da Neurolinguística e estabelece uma interface com a biologia e é pautada na Teoria Linguística. Falamos aqui da diferenciação entre as duas enquanto a primeira está interessada na linguagem sadia e e como ela funciona no cérebro.[1][2]

Década de 80

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A partir da década de 80, algumas técnicas não invasivas de acesso cortical, como as técnicas eletromagnéticas (EEG, MEG), que mapeiam o curso temporal do processamento, além dos hemodinâmicos (fMRI, PET), que marcam localização da área cortical ativada durante um estímulo passaram a ser utilizadas para o estudo da linguagem buscando a compreensão dos mecanismos neurais responsáveis e envolvidos na linguagem.[2]

Um trabalho seminal para esse campo é o de Kutas e Hillyard(1980),[3] em que os autores buscavam efeitos eletrofisiológicos chamados de ERPs - potenciais relacionados a eventos - produzidos quando ocorriam quebras de expectativa semântica através de estímulos linguísticos, como em:

He spread the warm bread with socks.

Ele espalhou o pão quente com meias.

Os resultados mostraram uma onda eletrocortical negativa, próxima dos 400ms após o estímulo inesperado ser mostrado, nomeada de N400 e foram replicados em muitas línguas naturais ao redor do mundo, o que impulsionou descobertas  de novos ERPs, como o P600.

Em Português Brasileiro, a Neurociência da linguagem começou em França (2002) que testou a incongruência semântica em sentenças como Titia comeu a sandália (2002:129).

David Marr propôs, a partir do estudo da visão, um sistema de análise do processamento de informações cognitivas em três níveis:

(1) Computacional: O que o sistema faz? Por que o faz?

(2) Representacional: Como o Sistema faz e que representações e processos ele utiliza;

(3)Físico: Quais sistemas neuronais implementam o Sistema cognitivo?

Esse trabalho de Marr também da década de 80 (Vision, 1982) [4] foi importante para a Neurociência da Linguagem por integrar os níveis de contribuição de diferentes áreas no estudo do sistema cognitivo da linguagem.

Friederici(2002) [5] organizou os dados encontrados nesses estudos e propôs um curso temporal do processamento linguístico formado por quatro fases, que começam na análise primária acústica e vai até os processos de reanálise e reparação, de acordo com os ERPs descobertos.

Problemas atuais

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Pensando sobre as dificuldades no estudo de como funciona a linguagem como sistema cognitivo, suas unidades e processos, Poeppel & Embick(2005) [6] discutiram dois problemas básicos que o neurocientista da linguagem enfrenta: (1) Problema da Incomensurabilidade Ontológica, em que os processos da linguagem não podem ser reduzidos aos estudados a nível dos neurônios e; (2) Problema da Incompatibilidade Granular, que argumenta que as unidades mínimas relacionadas à Linguística, como sintagmas e fonemas, apresentam sua natureza completamente diferente da natureza do que é estudado pela neurociência.

Referências
  1. «NEUROCIÊNCIA E LINGUAGEM: DESAFIOS E SUPERAÇÕES INTERDISCIPLINARES» (PDF) 
  2. a b Sampaio, Thiago Oliveira da Motta; França, Aniela Improta; Maia, Marcus Antônio Rezende (12 de agosto de 2015). «Linguística, psicologia e neurociência: a união inescapável dessas três disciplinas». Revista Linguíʃtica. 11 (1). ISSN 2238-975X. doi:10.17074/linguistica.v11i1.644. Consultado em 5 de janeiro de 2017. Arquivado do original em 6 de janeiro de 2017 
  3. «Reading senseless sentences: brain potencials reflect semantic incongruity». Science 
  4. Vision: a computational investigation into the human representation and pro- cessing of visual information. New York: W.H. Freeman and Company. 
  5. Friederici, Angela D. (1 de fevereiro de 2002). «Towards a neural basis of auditory sentence processing». Trends in Cognitive Sciences. 6 (2): 78–84. ISSN 1364-6613. PMID 15866191 
  6. «The Relation Between Linguistics and Neuroscience. In A. Cutler». In A. Cutler 
  • França, Aniela Improta (2002). Concatenações lingüísticas: estudo de diferentes módulos cognitivos na aquisição e no córtex. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
  • Kutas, M.; Hillyartd, S. A. (1980). Reading senseless sentences: Brain potentials re ect semantic incongruity. Science, 207, 203-208.
  • Marr, David (1982). Vision: a computational investigation into the human representation and processing of visual information. New York : W.H. Freeman and Company.
  • Poeppel, D.; Embick, D. "The relation between Linguistics and Neuroscience". In: Cutler, A. (Ed.) Twenty- rst century Psycholinguistics: four cornerstones. Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum, 2005, p.102-118.