Luciana de Oliveira Dias
Luciana de Oliveira Dias | |
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Nome completo | Luciana de Oliveira Dias |
Nascimento | 01 de agosto de 1970 (54 anos) Goiânia, GO |
Nacionalidade | brasileira |
Etnia | afro-brasileira |
Alma mater | Universidade Federal de Goiás, Universidade de Brasília |
Ocupação | |
Prêmios | Troféu Lélia Gonzalez - Comenda Zumbi dos Palmares 2019 |
Luciana de Oliveira Dias ou simplesmente Luciana Dias (Goiânia, GO, 1 de agosto de 1970) é uma antropóloga, professora universitária, escritora e ativista antirracismo do movimento social negro brasileiro.[1][2]
Filiada à tradição da antropologia hermenêutica, Luciana é uma das principais representantes da antropologia das relações raciais no Brasil, sendo uma das autoras que vem desenvolvendo o conceito de "mulheres-raízes" e pesquisadora de migrações internacionais e do feminismo negro no Brasil.[2][3]
Biografia
[editar | editar código-fonte]Filha de uma costureira goiana, a Dona Fia, que veio a se tornar uma professora, e de um pedreiro baiano, o Seu Raimundo Preto, Luciana nutria interesse desde a sua juventude em se tornar uma cientista para melhor entender a sociedade e a humanidade. Com este propósito, ela foi aprovada no vestibular para o curso de graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal de Goiás (UFG).[4]
Após a concluir sua graduação em Ciências Sociais na UFG, ela prosseguiu os seus estudos de pós-graduação stricto sensu no mestrado, onde defendeu a dissertação "Discursos Reguladores da Feminilidade no Pensamento Social Brasileiro", sob orientação da professora Mireya Suárez, e no doutorado em Antropologia na Universidade de Brasília (UnB), nos quais ela desenvolveu suas pesquisas no campo da antropologia e da interculturalidade.[2][4][5]
Durante a sua pesquisa de doutorado, Luciana desenvolveu sua pesquisa de campo etnográfico no México, onde ela morou por um tempo para estudar os povos indígenas mexicanos que migraram para lá. Investigando a realidade dos indígenas que estudavam durante o turno noturno em uma escola destinada a jovens e adultos situada na Cidade do México, ela identificou situações de interações sociais semelhantes às dos negros brasileiros, que resultou na tese de doutorado "Intersubjetividades constitutivas das identidades étnico-raciais e de gênero nos espaços escolares de contextos urbanos do Brasil e México", defendida em 2008, sob orientação do professor Cristhian Teófilo da Silva e com a coorientação de Antonio Carrillo Avelar, professor da Universidade Autônoma do México (UNAM).[6]
Em 2010, Luciana Dias foi aprovada no concurso público para ser professora de Antropologia na Faculdade de Ciências Sociais da UFG, vindo a lecionar diversas disciplinas do campo antropológico, a exemplo de "Antropologia e Relações Étnico-Raciais" e de "Didática e Prática de Ensino em Ciências Sociais", e da área de educação intercultural, a exemplo de "Direitos Indígenas", na graduação, enquanto que na pós-graduação da UFG, ela ensina disciplinas como "Gênero e Sexualidade: (des)construir conceitos e linguagens" e "Relações étnico-raciais e o princípio da igualdade".[2]
Na UFG, Luciana Dias ocupou diversos cargos do campo universitário como os de coordenadora do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos (PPGIDH) entre 2014 e 2016, e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) entre 2019 e 2020.[1][7]
Em novembro de 2019, Luciana foi agraciada com o "Troféu Lélia Gonzalez" que integra a "Comenda Zumbi dos Palmares" conferida pelo governo estadual de Goiás por meio da Secretaria estadual de Desenvolvimento Social.[1][8]
Em 2022, Luciana Dias foi designada para o cargo de Secretaria de Inclusão da Universidade Federal de Goiás,[5] tendo atuado em questões relevantes das políticas de identidade, tais como as políticas de ações afirmativas em vestibulares e concursos públicos, do reconhecimento de nome social, entre outras atividades. Nesta condição, Luciana foi nomeada para o exercer o cargo de conselheira do Conselho Estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito de Goiás.[9][10][11]
Pensamento
[editar | editar código-fonte]Mulheres-raízes
[editar | editar código-fonte]No artigo "Orí e cabaça são femininas: mulheres-raízes e suas insurgências na intelectualidade brasileira", publicado em 2020, Luciana Dias em conjunto com Cristiane Souza e Carlos Henning propõem uma categoria analítica denominada de "mulheres-raízes". Portanto, esta concepção busca alcançar parte da potência do empreendimento teórico, político e prático de intelectuais como Sueli Carneiro, Lélia Gonzalez e Beatriz Nascimento em favor de construção de laços de solidariedade entre mulheres negras, e entre essas e outras subjetividades, mas também de denúncia e de resistência às estruturas e práticas racistas, machistas, elitistas e coloniais ainda presentes no Brasil que afetam de modo desproporcional sobretudo às mulheres negras no território brasileiro.[4]
A categoria de análise "mulheres-raízes", desenvolvida por Luciana Dias em conjunto com os referidos pesquisadores[4], busca destacar a importância e contribuição das mulheres, integrantes das mais diversas áreas, na produção de ciência e no enfrentamento da ausência de reconhecimento e destaque para elas, em um processo de invisibilização dessas cientistas.[12]
Esta concepção corrobora a ideia de que falta uma autêntica democratização e equidade de gênero na produção do conhecimento científico. Por este motivo, faz-se necessário reconhecer e incentivar a produção científica pelas mulheres, não apenas do campo das ciências exatas e naturais, como também das demais áreas do conhecimento, além de levar em conta as disparidades de raça que existem dentro do demarcador de gênero.[13]
A concepção de mulheres-raízes seria um contraponto à noção presente nas ciências sociais da existência de pais fundadores desse campo científico, porém, quando se pensa na produção do saber científico, além desses pais fundadores, haveriam também as mulheres-raízes. Sucede, que tais mulheres passam por um processo de invisibilização em que elas nem sempre são reconhecidas.[12]
Baseada na ideia de mulheres-raízes, Luciana de Oliveira Dias sintetiza essa categoria afirmando que "É necessário a gente construir uma outra forma de produzir conhecimento, reconhecendo a agência e a autoria de mulheres."[12]
Prêmios e Honrarias
[editar | editar código-fonte]Obras
[editar | editar código-fonte]Principais livros
[editar | editar código-fonte]- Intersubjetividades constitutivas das identidades étnico-raciais e de gênero nos espaços escolares de contextos urbanos do Brasil e México. Tese (Doutorado em antropologia, 2008). Universidade de Brasília, Brasília.[6]
- Interculturalidades e relações étnico-raciais (Fundação Cultural Palmares, 2014). ISBN 9788575720387
- Migrações internacionais e políticas públicas: goianos(as) no mundo (Goiânia: Editora Espaço Acadêmico e Editora da PUC-Goiás, 2015), obra coordenada por ela com A.F. Lucena.
- O Lugar da Vida: por uma compreensão das migrações (Goiânia: Espaço Acadêmico, 2017), obra coordenada por ela com A.F. Lucena.
- PYHCOP CATI JI JÕ PJI: Território Gavião - MA (Goiânia: Editora da Imprensa Universitária, 2017), obra coordenada por ela com outras autorias.
- Interfaces do Gênero I: Cultura, Educação e Étnico-Racialidades (Goiânia: Gráfica da UFG, 2017), obra coordenada por ela com L.M. Grisolio.
Principais capítulos e artigos
[editar | editar código-fonte]- "Desigualdades étnico-raciais e políticas públicas no Brasil". Revista da ABPN (Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/As) (2012).
- "Reflexos no Abebé de Oxum: por uma narrativa mítica insubmissa e uma pedagogia transgressora". Revista Articulando e Construindo Saberes (UFG, 2020).
- "Orí e cabaça são femininas: mulheres-raízes e suas insurgências na intelectualidade brasileira". Revista Humanidades & Inovação (UNITINS, 2020), em coautoria.
- "Negritando esperanças nas encruzilhadas dos saberes – Pelo reconhecimento de uma epistemologia negra no espaço acadêmico" in Saberes das lutas do movimento negro educador, obra coordenada por Nilma Lino Gomes (Vozes, 2022).
- "Ações afirmativas e políticas reparatórias: avanços e desafios". Revista Cadernos de Campo (USP, 2022).
- ↑ a b c d «Coordenadora do PPGAS é premiada por luta antirracista». PPGAS/FCS/UFG. 2019. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ a b c d «Aula inaugural no Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da UFSC discute antirracismo na docência universitária». 25 de abril de 2023. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ «LUCIANA DIAS: 'O MOVIMENTO NEGRO PODE APRENDER MUITO COM A UNIVERSIDADE, MAS A UNIVERSIDADE TAMBÉM TEM MUITO A APRENDER COM O MOVIMENTO NEGRO'». Lab Notícias. 2019. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ a b c d Luciana de Oliveira, Dias; Souza, Cristiane Santos; Henning, Carlos Eduardo (2020). «ORÍ E CABAÇA SÃO FEMININAS: MULHERES-RAÍZES E SUAS INSURGÊNCIAS NA INTELECTUALIDADE BRASILEIRA». UNITINS. Revista Humanidades & Inovação. 7 (25). Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ a b «10 anos da Lei de Cotas no Brasil». Brasil Escola. 29 de agosto de 2022. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ a b «Intersubjetividades constitutivas das identidades étnico-raciais e de gênero nos espaços escolares de contextos urbanos do Brasil e México». Observatório de Educação do Instituto Unibanco. 2008. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ «Direitos humanos e violência são debatidos em evento». UFG. 25 de novembro de 2015. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ a b «Governo de Goiás condecora personalidades com Comenda Zumbi dos Palmares». Governo Estadual de Goiás. 20 de novembro de 2019. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ «A Secretária de Inclusão da UFG, Profa. Luciana de Oliveira Dias, toma posse no Conselho Estadual de Direitos Humanos, Igualdade Racial e Combate ao Preconceito». UFG. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ «UFG aprova uso de nome social em diplomas e documentos para pessoas trans». Jornal Opção. 24 de janeiro de 2023. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ «Juiz tira vaga de cotista negra e manda nomear candidato branco para vaga em concurso». Terra. 26 de novembro de 2022. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ a b c «Secretária da SIN representa UFG em encontro do prêmio Nobel». UFG. 22 de dezembro de 2023. Consultado em 24 de março de 2024
- ↑ «Mulheres na ciência: "Medidas são necessárias, mas não podem ser pontuais", avalia pesquisadora». Jornal Opção. 4 de março de 2024. Consultado em 24 de março de 2024
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