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Opinião (jornal)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Opinião
Periodicidade semanário
Sede Rio de Janeiro
Fundação 23 de outubro de 1972
Fundador(es) Fernando Gasparian

Opinião foi um semanário brasileiro que circulou entre 23 de outubro de 1972 e 8 de abril de 1977.[1] Chegou a atingir a tiragem de 38 mil exemplares semanais em seu primeiro ano, aproximando-se à tiragem da revista Veja, tamanha sua repercussão no cenário nacional. Destacou-se, ao lado dos jornais O Pasquim e Movimento, como um jornal ligado à chamada imprensa alternativa,[2] concentrando-se na veiculação de artigos escritos por jornalistas e intelectuais de oposição ao regime militar. O fim do jornal nas palavras de Fernando Gasparian, dono da empresa que publicava o jornal, se deu "quando não era mais possível aguentar a censura".

O Opinião surgiu no apogeu do regime militar brasileiro, indo às ruas pela primeira vez em 23 de outubro de 1972. Um de seus idealizadores foi Fernando Gasparian, que teve a morte de Rubens Paiva como grande motivação para criar este semanário.[3] Para integrar a equipe de redação, convidou Raimundo Rodrigues Pereira, que passou a atuar como editor-chefe.

A ideia original de Fernando Gasparian era montar um veículo que permitisse discussões e debates intelectuais, inspirado no inglês The New Statesman. Já Raimundo Pereira projetou o jornal inspirado no The Guardian Weekly, também britânico, que se tratava de uma seleção semanal de artigos de outras publicações como o The Guardian, Le Monde e New York Times.

Características editoriais

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O projeto gráfico do Opinião foi elaborado por Elifas Andreato. O formato, as composições e a diagramação do semanário “privilegiava as caricaturas fortes de conteúdo grotesco, mas com traço fino e elegante”.[3]

Algumas das seções de maior destaque dentro do jornal eram Cena Brasileira e Gente Brasileira. Apresentavam aos leitores alguns protagonistas sociais e cenários desconhecidos do Brasil para muitos habitantes dos grandes centros. Exploravam o interior, seu povo e seu cenário. O Opinião também reproduzia, em português, matérias publicadas pelo jornal francês Le Monde e artigos do New York Review of Books.[4] Também publicava matérias do jornal britânico The Guardian.

O jornal contrastava radicalmente com os semanários que tratavam de amenidades e temas cotidianos da classe média, como a própria Veja. Opinião mostrava, ainda, pelos debates e discussões, que a notícia era apenas uma pequena parte da verdade, e que por trás dela existem razões ocultas, interesses, jogadas.[5] Tinha oitenta por cento de seus leitores nas classes A e B.[4] Buscava numa nova esquerda mundial projetos desligados das propostas marxistas revolucionárias que deveriam confluir para a tomada do poder.[4] No jornal havia espaço para mulheres, negros e homossexuais.[4]

O projeto atraiu a colaboração de jornalistas da grande imprensa, com matérias muitas vezes não assinadas. Foi um semanário influente, vendendo em média 29 mil exemplares por edição.

Colaboradores

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Dentre seus colaboradores, destacavam-se :Antonio Candido, Antonio Callado, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Paul Singer, Darcy Ribeiro, Celso Furtado, Otto Maria Carpeaux, Hélio Jaguaribe, Paulo Francis, Lauro de Oliveira Lima, Jean-Claude Bernardet, Aguinaldo Silva, Millôr Fernandes, Oscar Niemeyer, Júlio Cesar Montenegro, Marcos Gomes, Tonico Ferreira, Bernardo Kucinski, Dirceu Brisola, Maurício Azedo[1]

O fim do jornal se deu por conta das restrições impostas pela censura. Juntamente com Movimento e Tribuna da Imprensa, Opinião foi um dos jornais mais afetados pela censura, com base no artigo 9 do AI-5. Opinião resistiu a quatro anos e meio de pressões: 221 edições foram feitas sob censura prévia. Contam os envolvidos que em alguns casos, mais da metade do jornal era censurada, obrigando os envolvidos a escreverem sempre mais matérias do que o necessário. Das 10.548 páginas escritas pelos colaboradores do jornal, somente 5.796 chegaram aos leitores.[6] O número 24 foi apreendido mas voltou a circular; os números 26, 195, 205 e o último número, 231, foram efetivamente apreendidos. As partes censuradas eram por vezes substituídas por tarjas pretas. Além dos problemas com a censura, a sede do jornal sofreu um atentado a bomba, promovido pela auto-intitulada Aliança Anticomunista Brasileira, na madrugada de 15 de novembro de 1976.[7]

Em sua penúltima edição, o jornal anunciava que o próximo número só seria lançado se estivesse livre de censura.[8] Desta forma, a edição 231 foi lançada sem ter sido submetida a avaliação prévia pela censura federal, em Brasília, como ocorria normalmente. Na sequência, os exemplares foram apreendidos nas bancas, e o jornal encerrou suas atividades.

Referências
  1. a b Biblioteca Nacional Digital. Fundação Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital Brasileira. Fac-símiles das 232 edições do jornal Opinião, da n° 0 (23 de outubro de 1972) à n° 231 (1977).
  2. Imprensa Alternativa no Brasil: o caso do jornal Opinião. Por Roberta Kelly de Souza BRITO e Naiana Rodrigues da SILVA. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XIV Congresso de Ciências da Comunicação na Região Nordeste. Recife, 14 a 16 de junho de 2012.
  3. a b KUCINSKI, Bernardo; “Jornalistas e Revolucionários, nos tempos da imprensa alternativa. Scritta Editorial, 1991”.
  4. a b c d Gaspari, Elio (2014). A Ditadura Escancarada 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Intrínseca. 526 páginas. ISBN 978-85-8057-408-1 
  5. CHINEM, Rivaldo; “Imprensa alternativa: jornalismo de oposição e inovação. Editora Ática, 1995.
  6. Censura durante o regime autoritário, por Glaucio Ary Dillon Soares. Trabalho apresentado ao XII Encontro Anual da Anpocs. Águas de São Pedro, 25 a 28 de outubro de 1988.
  7. Hemeroteca Digital Brasileira. Opinião.
  8. Biblioteca Nacional Digital. Fundação Biblioteca Nacional. Hemeroteca Digital Brasileira. Fac-símile da edição n° 230, de 1° de abril de 1977, p. 6 "Fim de uma etapa".

Ligações externas

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