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Fosfomicina

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

A fosfomicina, vendida sob a marca Monuril, entre outras, é um antibiótico usado principalmente para tratar infecções do trato urinário inferior.[1] Não é indicado para infecções renais.[1] Ocasionalmente é usado para infecções da próstata.[1] Geralmente é tomado por via oral.[1]

Embora o uso durante a gravidez não tenha sido considerado prejudicial, tal uso não é recomendado.[2] Uma dose única durante o período de amamentação parece ser segura.[2] A fosfomicina funciona interferindo na produção da parede celular bacteriana.[1]

A Fosfomicina foi descoberta em 1969 e aprovada para uso médico nos Estados Unidos em 1996.[1][3] Ela está na Lista de Medicamentos Essenciais da Organização Mundial da Saúde.[4] A Organização Mundial da Saúde classifica a fosfomicina como criticamente importante para a medicina humana.[5] Ela está disponível como medicamento genérico.[6] Originalmente a fosfomicina era obtida a partir de certos tipos de bactérias Streptomyces, mas hoje é produzido por síntese química.[3]

Usos médicos

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A fosfomicina é usada para tratar infecções da bexiga, onde geralmente é administrada em dose única por via oral.[7]

A fosfomicina oral não é recomendada para crianças com menos de 12 anos.[8]

Já foram propostos outros usos além das infeçcões do trato urinário[9] e o problema global do avanço da resistência antimicrobiana levou a um interesse renovado em seu uso.[10]

A fosfomicina pode ser usada como um para tratar infeções complicadas, incluindo a pielonefrite aguda. O regime padrão para as infecções complicadas é uma dose oral de 3g administrada uma vez a cada 48 ou 72 horas para um total de 3 doses ou uma dose de 6g a cada 8 horas por 7 a 14 dias quando a fosfomicina é administrada na forma IV.[11]

A fosfomicina intravenosa está sendo cada vez mais utilizada no tratamento de infecções causadas por bactérias multirresistentes, principalmente como uma droga parceira, a fim de evitar a ocorrência de resistências e aproveitar sua atividade sinérgica com outros antimicrobianos. A dose diária para adultos geralmente varia de 12 a 24 gramas.[12]

O desenvolvimento de resistência bacteriana sob terapia é uma frequente e torna a fosfomicina inadequada para terapia sustentada. Mutações que inativam o transportador não essencial de glicerofosfato tornam as bactérias resistentes à fosfomicina.[13][14][15]

A prescrição de fosfomicina em conjunto com algum outro antimicrobiano reduz o risco de desenvolvimento de resistência por parte das bactérias. A fosfomicina atua sinergicamente com muitos outros antibióticos, incluindo cefalosporinas, carbapenêmicos, daptomicina e aminoglicosídeos.[12]

Já foram identificadas enzimas que conferem resistência à fosfomicina, sendo codificadas tanto cromossomicamente quanto em plasmídeos.[16]

Três enzimas de resistência à fosfomicina relacionadas (chamadas FosA, FosB e FosX) são membros da superfamília da glioxalase. Essas enzimas funcionam por ataque nucleofílico ao carbono 1 da fosfomicina, que abre o anel epóxido, tornando o fármaco ineficaz.

As enzimas diferem pela identidade do nucleófilo utilizado na reação: glutationa para FosA, bacilitiol para FosB,[17][18] e água para FosX.[16]

Em geral, as enzimas FosA e FosX são produzidas por bactérias Gram-negativas, enquanto FosB é produzida por bactérias Gram-positivas.[16]

FosC usa ATP e adiciona um grupo fosfato à fosfomicina, alterando suas propriedades e tornando a droga ineficaz.[19]

Efeitos colaterais

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A droga é bem tolerada e tem uma baixa incidência de efeitos colaterais prejudiciais.[7]

Mecanismo de ação

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Apesar do nome (que termina em -omicina), a fosfomicina não é um macrolídeo, mas sim um membro de uma nova classe de antibióticos fosfônicos. A fosfomicina é bactericida e inibe a biogênese da parede celular bacteriana ao inativar a enzima UDP- <i id="mwkQ">N''-acetilglucosamina-3-enolpiruviltransferase, também conhecida como MurA.[20] Esta enzima catalisa uma etapa na biossíntese do peptidoglicano, a ligação do fosfoenolpiruvato (PEP) ao grupo 3'-hidroxila da UDP-<i id="mwmA">N''-acetilglucosamina. Esta fração de piruvato fornece o ligante que faz a ponte entre o glicano e a porção peptídica do peptidoglicano. A fosfomicina é um análogo de PEP que inibe MurA por alquilação de um resíduo de cisteína do sítio ativo (Cys 115 na enzima Escherichia coli).[21][22]

A fosfomicina entra na célula bacteriana através do transportador de glicerofosfato.[23]

A fosfomicina (originalmente conhecida como fosfonomicina) foi descoberta em um esforço conjunto da Merck and Co. e da Compañía Española de Penicilina y Antibióticos (CEPA) da Espanha. Foi isolado pela primeira vez por triagem de culturas de Streptomyces fradiae isoladas de amostras de solo, analisando a capacidade de causar a formação de esferoplastos em bactérias em crescimento. A descoberta foi descrita em uma série de artigos publicados em 1969.[24] A CEPA começou a produzir fosfomicina em escala industrial em 1971 em suas instalações de Aranjuez.[25]

O agrupamento completo de genes biossintéticos de fosfomicina de Streptomyces fradiae foi clonado e sequenciado e a produção heteróloga de fosfomicina em Streptomyces lividans foi alcançada.[26]

A produção em larga escala de fosfomicina é conseguida fazendo um epóxido de ácido cis-propenilfosfônico, produzindo uma mistura racêmica.[27]

Referências
  1. a b c d e f «Fosfomycin Tromethamine Monograph for Professionals». Drugs.com (em inglês). Consultado em 29 de outubro de 2019 
  2. a b «Fosfomycin (Monurol) Use During Pregnancy». Drugs.com (em inglês). Consultado em 29 de outubro de 2019 
  3. a b Antibiotic and Chemotherapy E-Book (em inglês). [S.l.]: Elsevier Health Sciences. 2010. ISBN 9780702047657 
  4. World Health Organization model list of essential medicines: 21st list 2019. Geneva: World Health Organization. 2019. WHO/MVP/EMP/IAU/2019.06. License: CC BY-NC-SA 3.0 IGO 
  5. Critically important antimicrobials for human medicine 6th revision ed. Geneva: World Health Organization. 2019. ISBN 9789241515528 
  6. British national formulary : BNF 76 76 ed. [S.l.]: Pharmaceutical Press. 2018. pp. 560–561. ISBN 9780857113382 
  7. a b Patel SS, Balfour JA, Bryson HM (abril de 1997). «Fosfomycin tromethamine. A review of its antibacterial activity, pharmacokinetic properties and therapeutic efficacy as a single-dose oral treatment for acute uncomplicated lower urinary tract infections». Drugs. 53 (4): 637–56. PMID 9098664. doi:10.2165/00003495-199753040-00007 
  8. «MONURIL SACHETS 3G». Consultado em 26 de maio de 2014 
  9. Falagas ME, Giannopoulou KP, Kokolakis GN, Rafailidis PI (abril de 2008). «Fosfomycin: use beyond urinary tract and gastrointestinal infections». Clinical Infectious Diseases. 46 (7): 1069–77. PMID 18444827. doi:10.1086/527442Acessível livremente 
  10. Falagas ME, Grammatikos AP, Michalopoulos A (outubro de 2008). «Potential of old-generation antibiotics to address current need for new antibiotics». Expert Review of Anti-Infective Therapy. 6 (5): 593–600. PMID 18847400. doi:10.1586/14787210.6.5.593 
  11. Zhanel GG, Zhanel MA, Karlowsky JA (28 de março de 2020). «Oral and Intravenous Fosfomycin for the Treatment of Complicated Urinary Tract Infections». Hindawi Limited. The Canadian Journal of Infectious Diseases & Medical Microbiology. 2020. 8513405 páginas. PMC 7142339Acessível livremente. PMID 32300381. doi:10.1155/2020/8513405Acessível livremente 
  12. a b Antonello RM, Principe L, Maraolo AE, Viaggi V, Pol R, Fabbiani M, et al. (agosto de 2020). «Fosfomycin as Partner Drug for Systemic Infection Management. A Systematic Review of Its Synergistic Properties from In Vitro and In Vivo Studies». Antibiotics. 9 (8). 500 páginas. PMC 7460049Acessível livremente. PMID 32785114. doi:10.3390/antibiotics9080500Acessível livremente 
  13. Navas J, León J, Arroyo M, García Lobo JM (outubro de 1990). «Nucleotide sequence and intracellular location of the product of the fosfomycin resistance gene from transposon Tn2921». Antimicrobial Agents and Chemotherapy. 34 (10): 2016–8. PMC 171982Acessível livremente. PMID 1963292. doi:10.1128/AAC.34.10.2016 
  14. Kahan FM, Kahan JS, Cassidy PJ, Kropp H (maio de 1974). «The mechanism of action of fosfomycin (phosphonomycin)». Annals of the New York Academy of Sciences. 235 (1): 364–86. Bibcode:1974NYASA.235..364K. PMID 4605290. doi:10.1111/j.1749-6632.1974.tb43277.x 
  15. Castañeda-García A, Blázquez J, Rodríguez-Rojas A (abril de 2013). «Molecular Mechanisms and Clinical Impact of Acquired and Intrinsic Fosfomycin Resistance». Antibiotics. 2 (2): 217–36. PMC 4790336Acessível livremente. PMID 27029300. doi:10.3390/antibiotics2020217Acessível livremente 
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  24. «Chapter 2, Rational approaches to antibiotic discovery: pre-genomic directed and phenotypic screening». Antibiotic Discovery and Development. [S.l.]: Springer. 2011. 46 páginas. ISBN 978-1-4614-1400-1. doi:10.1007/978-1-4614-1400-1_2 
  25. Encros About us: Our history.
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