Euryale de Jesus Zerbini
Euryale de Jesus Zerbini (Guaratinguetá, 13 de janeiro de 1908- 28 de outubro de 1982)[1] foi um general-de-brigada do Exército Brasileiro, irmão do médico Euríclides de Jesus Zerbini e de Eurydice Pereira Leite, Eurypedes Rubens Zerbini e Eunice Zerbini Viariz.[2] Era casado com Teresinha de Godoi, uma das líderes do movimento pela anistia, com quem teve dois filhos - a advogada Eugênia Cristina e o engenheiro Euryale Jorge.[3][4]
Euryale de Jesus Zerbini | |
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Dados pessoais | |
Nascimento | 13 de janeiro de 1908 Guaratinguetá, SP, Brasil |
Morte | 28 de outubro de 1982 (74 anos) |
Nacionalidade | Brasileira |
Cônjuge | Therezinha Zerbini |
Progenitores | Mãe: Ernestina Teani Zerbini Pai: Eugenio Zerbini |
Vida militar | |
Força | Exército Brasileiro |
Hierarquia | General de brigada |
Comandos | Infantaria Divisionária da 2.ª DI |
Carreira até e durante o golpe
[editar | editar código-fonte]Participou da Revolução Constitucionalista do lado paulista. Foi comandante em Caçapava, Quitaúna, e da divisionária de Lorena. Em 9 de janeiro de 1964 assumiu seu último comando, a Infantaria Divisionária da 2a Divisão de Infantaria.[5] Sendo leal a João Goulart, era elemento fundamental no II Exército, em São Paulo, do "dispositivo militar" do Presidente - os comandantes de confiança deixados em altos postos para assegurar ao governo o Exército.[6] No momento do golpe militar de 1964 ainda era recém-chegado em sua posição, mas conhecia dois coronéis comandando Regimentos de Infantaria (RI) no Vale do Paraíba: Lacerda, antigo aluno, do 5o, e Sousa Lobo, companheiro de revolução, do 6o.
Na Semana Santa de março de 1964, estava em Campos do Jordão. Na terça-feira seguinte, dia 31, ouviu após o almoço da rebelião de Mourão Filho em Minas Gerais, e às 16:00 foi chamado a uma reunião pelo comandante do II Exército, Amauri Kruel, na qual estariam todos os generais, incluindo seu superior, Aluísio de Miranda Mendes, da 2a DI. Não chegou a participar: na entrada, foi interpelado por um major que lhe pediu que se encontrasse com o general Aluísio. Eram 18:30-19:00. Na casa de Aluísio, na avenida Brigadeiro Luís Antônio, Zerbini foi perguntado de sua posição, e declarou-se legalista, fiel à ordem constitucional, contrário ao levante em Minas Gerais e disposto a prender Kruel se ele aderisse ao golpe. De mesma opinião, Aluísio o enviou a seu quartel em Caçapava para controlar as forças no Vale do Paraíba -os dois regimentos de infantaria e um batalhão de engenharia de combate- e se necessário poder deslocar-se tanto ao Rio de Janeiro quanto a São Paulo.
Saindo, viu sua casa cercada pela Guarda Civil e Força Pública, mas seguiu adiante e chegou a Caçapava às 21:00. Encontrando-se com Sousa Lobo e telefonando a Lacerda, tomou para si o Vale do Paraíba e deu ordens preventivas. O 5o RI formaria na direção de Itajubá, onde estava um batalhão de engenharia mineiro, e ao túnel da via Dutra. O 6o iria na direção de Campos do Jordão e na ponte sobre o Paraíba à altura de Jacareí. Seus regimentos deram resposta: fizeram reconhecimento, não encontraram nada anormal, o batalhão em Itajubá estava no quartel, e eles, também, estavam de prontidão nos quartéis. Enquanto isso, tentava falar com Aluísio, mas só conseguiu às 22:30. Seu comandante exigiu em nome de Kruel que retornasse a São Paulo, mas ele recusou e a ligação foi suspensa. A esta hora a reunião, com sua ausência notável, prosseguia em São Paulo e Kruel estava prestes a aderir ao levante.
Zerbini expôs sua situação às 23:00 ao chefe da Casa Militar, Assis Brasil, que o ligara: estava em boa posição, os comandantes eram obedientes, mas seria derrotado se a totalidade do II Exército se sublevasse. Assis Brasil o prometeu à sua disposição um reforço vindo do Rio de Janeiro, o Grupamento de Unidades-Escola (GUEs), incluindo blindados. Em outra conversa, com o próprio Presidente, declarou que não sabia a posição de Kruel em São Paulo. Pouco depois a adesão aberta do II Exército ao golpe se concretizava, e suas forças convergiam pela via Dutra na direção do Rio de Janeiro.
Ao longo da madrugada o controle no Vale do Paraíba escapou de suas mãos. As ordens diretas de Kruel chegaram aos regimentos de Zerbini, que o rejeitaram e se juntaram à marcha. À 01:00 do 1o de Abril telefonou ao 5o Regimento de Infantaria e descobriu que o quartel estava vazio e o regimento saíra em caminhões. Enviou uma patrulha motorizada para esclarecer a situação, mas ela não lhe forneceu nenhuma informação. Já Sousa Lobo, do 6o, o telefonou às 06:00 para informá-lo que seguia a Resende. A noite era de pouco contato: não conseguia falar com seu comandante da 2a DI. Uma de suas poucas conversas foi com o comandante da zona aérea de São Paulo, que não pôde aterrissar em Caçapava pelo tempo tempestuoso. Sua única chance era o reforço, mas ainda não chegara (só partiria de manhã), e assim, buscava agora atrasar a marcha do II Exército.
Entre as 06:00 e as 07:00 conseguiu contato com a esposa de Aluísio, descobrindo que ele avançava a Resende junto com o esquadrão de Reconhecimento Mecanizado. Seguiu na direção de seu comandante, encontrando-o a 2 km de Caçapava, entre Caçapava e São José dos Campos. Aluísio declarou-se aderido ao golpe mas concordou em levá-lo a Resende, de onde poderia seguir ao Rio de Janeiro. Em Caçapava Zerbini ainda escreveu uma carta esclarecendo seus motivos a Kruel.[7]
Chegando em Resende à tarde, foi convidado pelo 1o Tenente José Pordeus Maia a um cafezinho com o comandante da Academia Militar de Agulhas Negras, o general Médici. O tenente o arrastou a um elevador e o levou à sala do comandante, onde foi preso, isto é, impedido de sair do prédio. A esta hora Médici já tinha se aliado a Kruel e aderido ao golpe, desde cedo na manhã posicionando seus cadetes na Via Dutra para resistir ao avanço do GUEs que vinha do Rio de Janeiro.[8][9]
Na Academia soube da vinda do comandante do I Exército do Rio de Janeiro, o general Âncora, e o esperou no salão onde estavam cerca de 200 oficiais. Quando ele chegou, às 15:00, Zerbini lhe pediu um comando para prosseguir a resistência, mas ouviu que Goulart não estava no Rio de Janeiro e nem era mais Presidente, o governo estava acéfalo e ele não tinha mais o que fazer. O próximo a chegar foi Kruel, às 18:00, para negociar com Âncora. Kruel negou ter recebido a carta de Zerbini e combinou que se encontrassem no seu QG em São Paulo no dia seguinte para esclarecer a situação.
Zerbini passou a noite do dia 1o ao 2o em Caçapava, e na madrugada foi ao Campo de Marte em busca de um vôo ao Rio Grande do Sul, onde ainda havia resistência. Porém ouviu de seu comandante que a base estava cercada e sem aviões. No rádio, ambos ouviram que Goulart havia deixado Porto Alegre e o governo. Sem outra opção, encontrou-se com Kruel, que lhe falou da conversa que teve com Goulart na noite do dia 31, exigindo seu rompimento com a esquerda, e ordenou que esperasse em sua casa.
Após o golpe
[editar | editar código-fonte]No dia 3 foi chamado ao Ministério da Guerra, e chegando ao Rio de Janeiro à meia-noite, apresentou-se na manhã do dia 4 ao novo Ministro, Costa e Silva, que o direcionou ao I Exército. Lá foi informado de sua prisão e direcionado ao Forte de Copacabana,[7] onde permaneceu por 45 dias.[10] Foi o primeiro na lista dos militares que perderam seus direitos políticos por 10 anos pelo Ato Institucional n.o 1[11] e logo reformado.
Á Comissão Nacional da Verdade sua filha Eugênia depôs que em fevereiro de 1970 foi violentada na sede da Operação Bandeirantes ao levar roupas para a mãe, que estava detida ali.[12]
Faleceu de rompimento da veia aórtica.[1]
A estrada SP-66 antiga Rio-São Paulo recebe em um dos seus trechos, o nome de Rodovia General Euryale de Jesus Zerbini. Guaratinguetá, sua terra natal, também lembrou o militar dando o seu nome a uma das ruas da cidade. Os municípios de São Paulo e Jacareí também homenagearam o general Zerbini.
- ↑ a b França, Eduardo. «13 de janeiro». Projeto V.I.P. Consultado em 24 de junho de 2020
- ↑ «Euryale de Jesus Zerbini». Geni.com
- ↑ Isto é online - Editora Três
- ↑ A anistia em julgamento - Revista Veja
- ↑ «Antigos Comandantes». 12ª Brigada de Infantaria Leve (Amv). Consultado em 24 de junho de 2020
- ↑ Gaspari, Elio. (2002). A ditadura envergonhada. [S.l.]: Companhia das Letras. OCLC 685130447
- ↑ a b Silva, Hélio. 1964: Golpe ou Contra Golpe? L&PM, 2014.
- ↑ Mayrink, José Maria (28 de março de 2014). «Se houvesse confronto, seria um massacre». O Estado de São Paulo. Consultado em 23 de maio de 2020
- ↑ Motta, Aricildes de Moraes (coord.) (2003). 1964 – 31 de Março: O Movimento Revolucionário e a sua História. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército. p. 211, Tomo 10
- ↑ «Militares que disseram NÃO». Memórias da ditadura. Consultado em 24 de junho de 2020
- ↑ Ato Institucional - Direitos Políticos
- ↑ Madeiro, Carlos (11 de novembro de 2013). «Filha de general cassado pela ditadura diz que foi estuprada ao visitar a mãe presa». UOL Notícias. Consultado em 24 de junho de 2020