Dope aeronáutico
Dope aeronáutico ou simplesmente dope[1] é a designação de um tipo de laca de ação plastificante que é aplicada em aeronaves revestidas de tecido. Ela contrai e endurece o tecido esticado sobre as fuselagens, o que os torna herméticos e à prova de intempéries, aumentando sua durabilidade e vida útil.[2][3] A técnica tem sido comumente aplicada a aviões reais e também e modelos estáticos ou voadores.[4][5]
Atributos
[editar | editar código-fonte]As técnicas de aplicação do dope têm sido empregadas na construção de aeronaves desde o início do vôo mais pesado que o ar; o tecido do revolucionário Wright Flyer utilizou do dope, assim como muitas das aeronaves que logo se seguiram.[6] Sem a aplicação do dope, os revestimentos de tecido perdiam durabilidade e, ao mesmo tempo, eram altamente inflamáveis, ambos os fatores os tornando muito menos viáveis.[6]
Na década de 1910, uma grande variedade de agentes de dope passou a ser amplamente utilizada, enquanto fórmulas inteiramente originais eram regularmente introduzidas na indústria.[3] Os agentes de dope típicos incluem nitrocelulose, acetato de celulose e butirato de acetato de celulose.[7] Os dopes líquidos costumam ser altamente inflamáveis; a nitrocelulose, por exemplo, também é conhecida como o propelente explosivo "guncotton". Frequentemente, os dopes têm pigmentos coloridos adicionados para facilitar a aplicação uniforme e estão disponíveis em uma ampla gama de cores.[8]
O dope foi aplicado a vários tecidos de aeronaves, como o madapollam;[9] nas décadas mais recentes, também foi aplicado a poliéster e outros tecidos com trama fina semelhante e qualidades absorventes.[10] Como as coberturas de tecido de poliéster se tornaram um padrão em toda a indústria, o uso de tecidos de algodão e linho foram efetivamente eliminados.[6] Além das mudanças nos materiais aos quais o dope é aplicado, os métodos de aplicação também foram refinados para reduzir o encolhimento, melhorar a aderência e aumentar a vida útil.[11]
Na década de 1910, foi reconhecido que, embora a prática fosse altamente benéfica, certos tipos de agentes de dope representavam um risco para a saúde dos trabalhadores.[3] Embora se acreditasse que os dopes à base de acetato e nitrato apresentavam poucos riscos por si próprios, os compostos voláteis que os dissolviam antes da aplicação eram tóxicos. A profissão médica em várias nações ficou ciente dessa ameaça pouco antes da Primeira Guerra Mundial e promoveu a necessidade de ventilação adequada no local de trabalho em fábricas onde o dope era realizado como uma medida atenuante.[3] Especificamente no Reino Unido, estudos foram realizados sobre os impactos potenciais sobre a saúde de vários tipos de dope, concluindo que aqueles produzidos de acordo com as especificações da Royal Aircraft Factory os tornavam menos sujeitos a resultar em doenças do que vários outros.[12] Investigações sobre problemas de saúde em torno dos dopes também foram conduzidas durante a Segunda Guerra Mundial.[13]
Devido a motores mais potentes e técnicas aerodinâmicas avançadas, o uso de alumínio (e subsequentemente de compósitos) suplantou o tecido como o material primário usado na indústria de aviação na segunda metade do século XX.[6] Várias aeronaves leves, incluindo planadores, kits feitos em casa e aeronaves esportivas leves, continuaram a usar tecidos. Assim, as técnicas de dope continuam a ser empregadas, embora em menor grau do que no início da aviação.[11][14] Existem vários métodos de cobertura que não usam processos de revestimento de dope, uma vez que foram concebidos métodos de tratamento alternativos. Materiais e técnicas idênticas devem ser usadas durante a manutenção como foram empregadas na construção, portanto, aeronaves construídas tradicionalmente continuam a usar técnicas de dope ao longo de suas vidas operacionais.[6]
Acidentes
[editar | editar código-fonte]Numerosos acidentes ocorreram como resultado do uso incorreto de técnicas de aplicação do dope. Exemplos de erros comuns incluem misturá-lo com outros produtos químicos, seu uso em tecidos errados ou sua aplicação em superfícies contaminadas ou mal preparadas.
Durante a investigação do desastre do dirigível R101 em 1930, foi constatado que práticas impróprias de uso de dope resultaram no tecido do dirigível tornar-se quebradiço e fácil de danificar.[15]
Entre as hipóteses para o desastre do dirigível Hindenburg de 1937, a "Teoria da Pintura Incendiária", apresentada por Addison Bain,[16] é que uma faísca entre segmentos de cobertura de tecido inadequadamente aterrados do Hindenburg iniciou o fogo, e que a faísca acendeu a "altamente inflamável entelagem externa com dope de óxido de ferro e butirato de acetato de celulose impregnado de alumínio (CAB), que permanecem potencialmente reativos mesmo após a cura total. Essa hipótese foi contestada.
Em 27 de abril de 1995, o projetista, construtor e figura significativa de aeronaves caseiras, Steve Wittman e sua esposa morreram quando seu "Wittman O&O Special" quebrou em voo devido à delaminação e separação do tecido da asa, resultando em vibração aeroelástica da asa. A investigação do US "National Transportation Safety Board" constatou que as camadas e tipos de dope que foram usados na aeronave não tinham "as melhores qualidades adesivas" e referiu-se ao "Manual de Revestimento e Pintura de Polifibras" para processos adequados de uso.[17]
- ↑ Divisão de Instrução Profissional (23 de outubro de 2002). «Mecânico de Manutenção Aeronáutica - Entelagem» (PDF). Instituto de Aviação Civil (IAC). p. 3-8. Consultado em 12 de dezembro de 2021
- ↑ Crane, Dale: Dictionary of Aeronautical Terms, third edition, page 170. Aviation Supplies & Academics, 1997. ISBN 1-56027-287-2
- ↑ a b c d Hamilton, Alice (Fevereiro de 1918). «Dope poisoning in the making of aircraft». Monthly Review of the U.S. Bureau of Labor Statistics. 6 (2): 37–64. JSTOR 41829278
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- ↑ «Cellulose Acetate Manufacture and Acetate Dope Airplane Coating Report». National Air and Space Museum, Smithsonian Institution. Consultado em 12 de dezembro de 2021
- ↑ Aircraft Spruce and Specialty (2021). «Poly Fiber Poly-Tone Finish». www.aircraftspruce.com. Consultado em 12 de dezembro de 2021
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- ↑ Wills, Philip (1966). British Gliding Association Handbook. [S.l.: s.n.]
- ↑ a b Alexander, Ron. «Covering with Dope». aircraftspruce.com. Consultado em 12 de dezembro de 2021
- ↑ «Aircraft (Supply Of Dope)». Hansard. 21 de junho de 1916. Consultado em 12 de dezembro de 2021
- ↑ Hunter, Donald; Reginald Milton; Kenneth M. A. Perry; H. J. Berrie; J. F. Loutit; T. S. Marshall (1 de outubro de 1944). «Investigation for signs of Benzene Intoxication in workers using aeroplane dope and rubber solvents» (PDF). oem.bmj.com. Consultado em 12 de dezembro de 2021
- ↑ Berry, Michael C. «The Straight Dope on Fabric-Covered Airplanes». Piper Aircraft. Consultado em 12 de dezembro de 2021
- ↑ Gordon, J. E., Structures (or, Why Things Don't Fall Down), chapter 16: "A Chapter of Accidents." Penguin Books, 1978.
- ↑ Bain, A.; Van Vorst, W.D. (1999). «The Hindenburg tragedy revisited: The fatal flaw found». International Journal of Hydrogen Energy. 24 (5): 399–403. doi:10.1016/S0360-3199(98)00176-1
- ↑ National Transportation Safety Board (Dezembro de 1995). «Brief of Accident» (PDF). Consultado em 12 de dezembro de 2021. Cópia arquivada (PDF) em 22 de março de 2012