Anarquismo em Hong Kong
O anarquismo em Hong Kong surgiu como parte do movimento anarquista chinês, quando muitos anarquistas buscavam refúgio do Império Qing no território. O anarquismo cresceu em conjunto com o movimento revolucionário chinês, antes do território se tornar novamente uma área de refúgio dos anarquistas, seguindo a vitória comunista na guerra civil chinesa. Desde então os anarquistas fizeram parte do movimento de oposição em Hong Kong, primeiro contra o governo colonial britânico, e depois contra o crescente autoritarismo do Governo de Hong Kong.
História
[editar | editar código-fonte]Em 1841, a Hong Kong britânico era ocupada pelo Império Britânico, e fazia parte das colônias da coroa. A ilha de Hong Kong era oficialmente cedida pela Império Qing e o território sob o domínio Britânico foi estendido em seguida pelas convenções de Pequim. Greves contra a administração colonial Britânica ocorreram pouco tempo após o início da ocupação, e continuaram durante o século XIX, com muitos trabalhadores em Hong Kong deixando seus postos e retornando para China em protesto.[1] Hong Kong também se tornou um ponto de influência de ideias revolucionárias entre a população chinesa, agora fora do domínio Qing, onde um grupo de estudantes conhecido como os Quatro bandoleiros (Yeung Hok-ling, Sun Yat-sen, Chan Siu-bak and Yau Lit) discutiam abertamente a derrubada da dinastia Qing.[2][3] Os bandoleiros, juntamente com o anarquista chinês Zhang Renjie, estavam entre os membros fundadores do Tongmenghui em 1905. Zhang se juntou ao ramo em Hong Kong em1907, depois de garantir a remoção de qualquer menção do Tian do juramento da organização.[4]
Liu Shifu também se mudou para Hong Kong em 1906, onde ele se tornou editor de um jornal local. Entretanto, após a tentativa de assassinato frustrada contra o comandante militar Li Chun, Liu foi aprisionado por três anos, sendo liberado apenas porque seus escritos haviam impressionado as autoridades locais. Retornou para Hong Kong em 1909, onde ele e Chen Jiongming fundaram o Corpo Chinês de Assassinato, um grupo militante anarquista dedicado à propaganda pelo ato. Com o início da Revolução Xinhai, Shifu retornou à China, onde o corpo de assassinato continuava suas atividades.[5]
Chen Jiongming se tornou instrumental na organização do movimento sindical através da china meridional, apoiando os trabalhadores no direito de barganha coletiva. Durante a greve dos marinheiros de Hong Kong em 1922, apesar das tentativas de supressão das autoridades coloniais britânicas, Chen ajudou na vitória da greve,[6] com os patrões aceitando as demandas de aumento salarial.[7] Depois da derrota de Chen na guerra Yunnan–Guangxi, ele fugiu para Hong Kong, onde continuou a advogar a unificação da China de baixo-para-cima. Ele fundou então o partido Zhi Gong, que defendia o federalismo na China e o estabelecimento de um sistema pluri-partidário, criticando o sistema de partido único do Kuomintang.[8]
Depois da eclosão do movimento 30 de Maio, a greve do Cantão-Hong Kong foi iniciada, em que manifestantes chineses chamaram por um boicote da Hong Kong Britânica e uma greve geral contra as autoridades coloniais britânicas.[9][10] Em torno de 250.000 chineses deixaram a colônia por Guangdong,[9] causando uma paralisia na economia de Hong Kong.[10] Durante a greve, Zhang Renjie sucedeu o recém falecido Sun Yat-sen enquanto secretário do Kuomintang, trazendo uma liderança distintamente anarquista para o partido, ao lado de Li Shizeng, Wu Zhihui e Cai Yuanpei. Entretanto, Chiang Kai-shek começou à ascender no partido e depôs os Quatro Anciões, marcando uma transição para a direita no partido. Chiang iniciou o massacre de Xangai, durante o qual milhares de militantes de esquerda foram assassinados, iniciando a guerra civil chinesa.[11]
Depois invasão japonesa da Manchúria, Chen Jiongming e o partido Zhi Gong criticaram o governo nacionalista de Chiang Kai-shek por sua recusa de confrontar o Império do Japão, organizaram então um boicote ao produtos chineses em Hong Kong. Entretantom após a morte de Chen e da ocupação japonesa de Hong Kong, o partido foi quase que completamente massacrado e começou à tender ao Marxismo-Leninismo após o fim da segunda guerra.
Seguindo o fim da guerra civil chinesa e a proclamação da República Popular da China em 1949, muitos anarquistas fugiram para Hong Kong. Apesar da crescente violência entre nacionalistas e comunistas em Hong Kong, a colônia se tornou um território de refúgio para as pessoas que fugiam da repressão na República Popular Chinesa, com mais de 60.000 refugiados se movendo para a ilha durante o Grande Salto Adiante.[12]
Em 1969, o movimento estudantil de Hong Kong começou a ficar desiludido com o Partido Comunista da China devido aos eventos da Revolução Cultural e os tumultos de 1967 em Hong Kong, resultando em um interesse crescente pelo anarquismo e Trotskyismo por parte dos estudantes.[13] Desse movimento surgiu o 70s Front, um organização socialista libertária que mobilizava contra a administração colonial britânica e o partido comunista chinês, publicando as revistas 70s Bi-weekly em Língua chinesa e a Minus em Língua Inglesa.[14][15] Entretanto, conflitos ideológicos entre trotskyistas e anarquistas levaram à um ruptura na organização,[16] com muitos trotskyistas deixando a organização para formar outra.[13] Isso levou à dissolução do grupo no início de 1980.
A ascensão de Deng Xiaoping na China trouxe uma onda de liberalização econômica conhecida como socialismo com caracteristicas chinesas. O novo regime uma declaração que garantia a transferência da soberania de Hong Kong para a República Popular da China. Em seguida a esquerda de Hong Kong sofreu uma ruptura entre os campos pro-democracia e pro-Beijing. Coletivos anarquistas, como o Autonomous 8A, começaram a formar parte do amplo movimento de oposição.[17] Anarquistas tem desde então participado de um número de ações contra o crescente autoritarismo em Hong Kong, incluindo o Occupy Central (2011–2012), os protestos em Hong Kong em 2014, também conhecido como Revolução dos Guarda Chuvas,[18] e os Protestos em Hong Kong em 2019–2020 contra a lei de extradição.[19]
- ↑ Po-lung, Leung (3 de agosto de 2019). «Hong Kong Political Strikes: a brief history». Traduzido por Promise Li; Edward Hon-Sing Wong
- ↑ Bard, Solomon. Voices from the past: Hong Kong, 1842-1918. [2002] (2002). HK university press. ISBN 962-209-574-7, ISBN 978-962-209-574-8. pg 183.
- ↑ L Fu. (2009). From surgeon-apothecary to statesman: Sun Yat-sen at the Hong Kong College of Medicine. J R Coll Physicians Edinb 2009; 39:166–72
- ↑ Tzu-yu, Feng (1953). «The Master of the Hsin Shih-chi, Chang Chingchiang». An Informal History of the Revolution (em chinês). II. Taipei: T'ai-wan Shang-wu Yin-shu Kuan. p. 229. OCLC 647145855
- ↑ Shifu, Liu (1927). Shifu wen cun. Col: Ge xin cong shu, 3 (em chinês). Guangzhou: Ge xin shu ju. OCLC 1090531991
- ↑ Dingyan Chen, Leslie H. (1999). Chen Jiongming and the Federalist Movement: Regional Leadership and Nation Building in Early Republican China. Col: Michigan monographs in Chinese studies, 86. Ann Arbor: Center for Chinese Studies, University of Michigan. p. 142–148. ISBN 9781938937071. OCLC 1007291359
- ↑ Lau, Kit-ching Chan (1990). China, Britain, and Hong Kong. [S.l.]: Chinese University Press. p. 169–172 – via Google Books
- ↑ Dingyan Chen, Leslie H. (1999). Chen Jiongming and the Federalist Movement: Regional Leadership and Nation Building in Early Republican China. Col: Michigan monographs in Chinese studies, 86. Ann Arbor: Center for Chinese Studies, University of Michigan. p. 267–268. ISBN 9781938937071. OCLC 1007291359
- ↑ a b Carroll, John Mark (2007). A concise history of Hong Kong. [S.l.]: Rowman & Littlefield. p. 100. ISBN 978-0-7425-3422-3
- ↑ a b Jens Bangsbo, Thomas Reilly, Mike Hughes. [1995] (1995). Science and Football III: Proceedings of the Third World Congress of Science and Football, Cardiff, Wales, 9–13 April 1995. Taylor & Francis publishing. ISBN 0-419-22160-3, ISBN 978-0-419-22160-9. p 42-43.
- ↑ Mayhew, Bradley (março de 2004). Shanghai 2nd ed. [S.l.]: Lonely Planet. p. 51. ISBN 978-1-74059-308-3. Consultado em 22 de julho de 2009
- ↑ Jisheng, Yang (2012). Tombstone: The great Chinese famine, 1958–1962. New York: Farrar, Straus and Giroux. p. 473–474. ISBN 9780374277932. OCLC 772608480
- ↑ a b Alexander, Robert Jackson (1991). International Trotskyism 1929-1985: A Documented Analysis of the Movement. [S.l.]: Duke University Press. p. 217–220
- ↑ 70s Front (1975). «Group profile: Hong Kong 70s Front». Libero International (3). CIRA-Nippon. Consultado em 23 de fevereiro de 2021
- ↑ Knabb, Ken (outubro de 1978). «A Radical Group in Hong Kong». Bureau of Public Secrets. Consultado em 23 de fevereiro de 2021
- ↑ Li, Promise (17 de abril de 2020). «The Radical '70s Magazine That Shaped the Hong Kong Left». The Nation. Consultado em 26 de fevereiro de 2021
- ↑ Li, Promise (3 de abril de 2020). «A Left Case for Hong Kong Self-Determination». Spectre. Consultado em 26 de fevereiro de 2021
- ↑ «Black Versus Yellow: Class Antagonism and Hong Kong's Umbrella Movement». Ultra. 2015
- ↑ «Hong Kong: Anarchists in the Resistance to the Extradition Bill». CrimethInc. 22 de junho de 2019. Consultado em 26 de fevereiro de 2021
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Autonomous 8A - Anarchist collective in Hong Kong
- Hong Kong section - The Anarchist Library
- Hong Kong section - Libcom.org