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A Dama do Lago (romance)

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
The Lady in the Lake
A Dama do Lago (romance)
capa da primeira edição
Autor(es) Raymond Chandler
Idioma inglês
País USA
Género Romance policial
Editora Alfred A. Knopf
Lançamento 1943
Cronologia
The High Window
The Little Sister

A Dama do Lago (The Lady in the Lake, no original em inglês) é uma novela policial de 1943 de Raymond Chandler em que intervem o detetive particular de Philip Marlowe.

Assinalável pela colocação de Marlowe fora dos ambientes habituais de Los Angeles, em grande parte da história, o enredo complexo do romance trata inicialmente do caso de uma mulher desaparecida numa pequena localidade nas montanhas a cerca de 130 km da cidade.

O livro foi escrito pouco depois do ataque a Pearl Harbor havendo referências ao recente envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial.

Derace Kingsley, um empresário rico, contrata Marlowe para encontrar a sua esposa, Crystal, que se encontra desaparecida. Kingsley recebeu um telegrama de Crystal há cerca de duas semanas comunicando que ela queria divorciar-se dele para se casar com o seu namorado, o playboy Chris Lavery. Mas quando Kingsley o encontrou, Lavery alegou que não a tinha visto e não sabia onde ela estava.

Marlowe começa a sua investigação com uma visita a Lavery na cidade vizinha de Bay City. E enquanto vigia a casa de Lavery, Marlowe é ameaçado por um agente policial durão, Al Degarmo, sob suspeita de que está a assediar o vizinho de Lavery, o médico Almore. Marlowe descobre que a esposa de Almore morreu em circunstâncias suspeitas e que a sua morte foi provavelmente abafada pela polícia.

Marlowe prossegue as suas investigações na cabana de férias de Kingsley em Little Fawn Lake. Kingsley deu-lhe uma recomendação para o caseiro, Bill Chess. Chess está deprimido por ter sido abandonado por sua esposa, Muriel, na mesma época em que Crystal desapareceu. Enquanto caminham ao longo do lago, Marlowe e Chess descobrem um corpo afogado que Chess identifica como a sua esposa, inchada pela decomposição e quase irreconhecível, exceto por suas roupas e jóias. Chess é preso pelo assassinato da sua esposa e Marlowe retorna com dúvidas para Los Angeles. No caminho, ele entrevista alguns empregados do hotel onde estava estacionado o automóvel de Crystal que se lembram de uma mulher que combina com a descrição desta e dizem que um homem estava com ela; pela descrição, o homem também se assemelha a Lavery.

Marlowe retorna a Bay City para entrevistar Lavery novamente. Na casa deste, encontra a Sra. Fallbrook, que diz ser a proprietária e encontrou uma arma nas escadas. Depois que ela sai, Marlowe verifica que a arma foi disparada e, após uma busca, encontra Lavery assassinado no banheiro. A seguir ele visita Kingsley, o qual lhe oferece um bónus de 500 dólares para que prove que Crystal não foi a assassina. Marlowe volta para a casa de Lavery, chama a polícia e relata o assassinato.

De volta ao seu escritório, Marlowe encontra uma nota da secretária de Kingsley dando-lhe o endereço dos pais da esposa do Dr. Almore. Marlowe visita-os e descobre que a enfermeira de Almore se chamava Mildred Haviland. Eles também lhe dizem que acreditam que o médico matou a filha deles drogando-a e depois colocando-a na garagem com o motor do carro ligado. O detetive que eles contrataram foi preso por conduzir embriagado e agora não sabem do paradeiro dele. Marlowe vai à casa do detetive sendo rejeitado pela esposa, sendo a seguir perseguido por um carro da polícia. Tal como aconteceu antes com o detetive, a polícia força Marlowe a beber bebida alcoólica e o prende por excesso de velocidade, resistência à prisão e conduzir embriagado. Mas Marlowe consegue convencer o capitão da polícia da sua inocência e é libertado.

Voltando ao seu escritório, Marlowe recebe um telefonema de Kingsley, que lhe diz que Crystal ligou, pedindo $500. Kingsley dá o dinheiro a Marlowe para fazer a entrega. Mas quando encontra Crystal no local combinado, Marlowe insiste que ela responda às suas perguntas antes de receber o dinheiro. Crystal concorda, mas isso no apartamento próximo onde ela está hospedada. Lá ele a acusa de ser a assassina de Lavery. Quando ela aponta uma arma para Marlowe, alguém o atinge por trás com um bastão .

Marlowe acorda tresandando a álcool e com Crystal deitada morta na cama, nua, ensanguentada e estrangulada até à morte. De imediato a polícia de Bay City bate à porta. Degarmo tenta incriminar Marlowe pelo assassinato de Crystal, mas Marlowe convence-o de que os dois podem incriminar Kingsley com mais facilidade. Eles procuram-no e descobrem-no em Little Fawn Lake e dirigem-se juntos para lá para obter alguma prova que Marlowe insinua que se encontra lá.

No confronto final na cabana, Marlowe revela que a mulher assassinada em Bay City, supostamente Crystal Kingsley, era na verdade Mildred Haviland, morta num ataque de ciúmes por Al Degarmo, que era seu ex-marido. A mulher assassinada em Little Fawn Lake, supostamente Muriel Chess, era na verdade Crystal Kingsley, morta por Mildred Haviland, que passa a assumir a identidade da assassinada. Mildred havia sido enfermeira do Dr. Almore, e havia assassinado a esposa deste e também havia assassinado Lavery.

Degarmo tenta escapar, mas é morto ao atravessar o dique duma barragem guardada por sentinelas militares com ordens para atirar contra potenciais sabotadores.

Chandler escreveu muitas das suas novelas através dum processo que ele chamou de canibalização de contos seus anteriores. Ele pegava em histórias previamente publicadas em revistas pulp e reelaborava-as para se encaixarem num todo coerente. Para The Lady in the Lake Chandler baseou-se em histórias com o detetive John Dalmas: o homónimo "The Lady in the Lake" (publicado em 1939), "Bay City Blues" (1938) e "Nenhum Crime nas Montanhas" (1941).[1]

O hábil trabalho de mistura impressionou Jacques Barzun, que referenciou esta novela no seu A Catalogue of Crime: "A exposição da situação e do personagem é feita com ritmo e habilidade notáveis, mesmo para Chandler. Este conto soberbo se move através de um labirinto de quebra-cabeças e revelações até à sua conclusão perfeita. Marlowe faz um uso maior de pistas físicas e raciocínio nesta façanha do que em qualquer outra. É a obra-prima de Chandler."[2]

O romance também figurou em estudos mais completos da obra de Chandler. Um autor comenta que o título do livro é uma referência explícita à Dama do Lago, a feiticeira do romance arturiano, especialmente por ter como foco uma mulher misteriosa que muda de papéis em diferentes momentos da narrativa.[3] Isso, por sua vez, reflete a ambiguidade entre o que parece evidente a um observador e o que realmente aconteceu. A dama afogada no lago compartilha a mesma aparência e caráter moral da sua assassina. A verdadeira distinção entre elas, entre a vítima e a assassina, só fica clara no final do romance. A ambiguidade é reforçada pelo fato de que cada vez que entra na ação, a assassina surge disfarçada com um nome diferente. Mildred Haviland havia desaparecido após o assassinato da esposa do Dr. Almore e depois se casou com Bill Chess, usando o nome Muriel; abandonando esse papel, ela personifica Crystal Kingsley no hotel em San Bernardino; e ela engana Marlowe apresentando-se como a Sra. Fallbrook, a dona do apartamento de Chris Lavery após o assassinato deste.[4]

O romance de 1943 foi adaptado ao cinema no filme homónimo A Dama do Lago, de 1947, tendo nele sido usada uma técnica experimental de cinematografia para sugerir o desnível entre a narrativa na primeira pessoa do romance, representando a experiência subjetiva, e a realidade que deve ser deduzida de factos tão ambíguos. Marlowe, o detetive, não é visto, exceto ocasionalmente no reflexo de espelhos. Em vez disso, a visão da câmara toma o lugar dele e o público no cinema tem que partilhar a experiência dele desse modo. Em última análise, foi uma experiência insatisfatória, pois proporcionou uma experiência puramente visual; o espectador não podia compartilhar suas lutas heroicas com a garrafa de uísque, não podia defender-se do soco lançado na direção da câmera ou avaliar o toque da sirene ou da mulher sedutora. O que o público realmente compartilhou com o narrador foi “uma disparidade entre a promessa de subjetividade e a sua realização”, que é, em última análise, também a experiência do leitor com a narrativa escrita.[5]

A partir do filme de 1947, houve uma adaptação radiofónica de 60 minutos que foi transmitida a 9 de fevereiro de 1948 como parte do Lux Radio Theatre, com Robert Montgomery e Audrey Totter que retomam os seus papéis no filme.[6]

Foram ainda transmitidas adaptações radiofónicas do romance no Reino Unido: uma de Bill Morrison integrada no The BBC Presents: Philip Marlowe a 7 de novembro de 1977, e outra de Stephen Wyatt para a BBC Radio 4 a 12 de fevereiro de 2011.[7]

Edições em português

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  • A Dama do Lago, Raymond Chandler, Abril Controljornal Edipresse, Biblioteca Visão, Coleção Lipton, 2001, ISBN972-611-708-9
Referências
  1. Toby Widdicombe, A Reader's Guide to Raymond Chandler, Greenwood Press 2001, pp.36-7
  2. Quoted online
  3. Andrew M. Hakim, "Troubling Bodies of Evidence" in New Perspectives on Detective Fiction: Mystery Magnified, Routledge 2015, ch.1
  4. Peter Wolfe,Something More Than Night: The Case of Raymond Chandler, Bowling Green State University, 1985, p.179
  5. J. P. Telotte, “The Real Thing Is Something Else: Truth and Subjectivity in The Lady of the Lake”, chapter 6 of Voices in the Dark: The Narrative Patterns of Film Noir, University of Illinois, 1989
  6. Podomatic Inc.
  7. BBC Programmes

Ligações externas

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