Clóvis Graciano
Clóvis Graciano | |
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Nome completo | Clóvis Graciano |
Nascimento | 29 de janeiro de 1907 Araras, Estado de São Paulo |
Morte | 29 de junho de 1988 (81 anos) São Paulo, Estado de São Paulo |
Nacionalidade | brasileiro |
Cônjuge | Maria Aparecida Portugal |
Ocupação | muralista, pintor, desenhista, cenógrafo, figurinista e ilustrador. |
Prêmios | Prêmio de Viagem ao Estrangeiro (1948) |
Movimento estético | Modernismo, figurativismo |
Clóvis Graciano (Araras, 29 de janeiro de 1907 — São Paulo, 29 de junho de 1988) foi um muralista, pintor, desenhista, cenógrafo, figurinista e ilustrador brasileiro.[2]
Destacou-se em vários campos das artes plásticas, principalmente na produção de murais. Há cerca de 120 deles registrados no Brasil, concentrados majoritariamente na cidade de São Paulo.[3]
Em sua carreira, Graciano permaneceu fiel ao figurativismo, jamais tendo atração pelo abstracionismo. Tratou constantemente de temas sociais, como os trabalhadores rurais, operários e retirantes, além de temas históricos como as bandeiras e bandeirantes e indígenas.
Biografia
[editar | editar código-fonte]Juventude
[editar | editar código-fonte]Filho da imigrante italiana Caterina Graziano, nunca foi registrado por seu pai. Em 1927 empregou-se na Estrada de Ferro Sorocabana, em Conchas, interior do estado de São Paulo, passando a pintar postes e porteiras para as estações ferroviárias[3].
Aos 25 anos, combateu na Revolução Constitucionalista de 1932[4].
Em 1934 transferiu-se para São Paulo, como fiscal do consumo, passando a partir daí a dividir seu tempo entre o emprego e a pintura de cavalete. Nesse período, conheceu o pintor Candido Portinari, com quem estabeleceu amizade e de quem recebeu aconselhamentos para iniciar estudos formais em desenho e aquarela[3].
Envolvimento com as artes
[editar | editar código-fonte]Em 1937, já tendo travado contato com a arte de Alfredo Volpi, Clóvis Graciano instalou-se no Palacete Santa Helena e integrou, então, o Grupo Santa Helena, com os artistas Francisco Rebolo, Mario Zanini, Aldo Bonadei, Fulvio Pennacchi, Alfredo Rizzotti, Humberto Rosa e outros, além do próprio Volpi.[5]
Em 1944, deixou o cargo de fiscal de consumo para dedicar-se somente às artes. Até então, vinha participando de concursos e exposições individuais, ganhando prêmios e medalhas.[3]
Ilustrou em 1947 a obra Luzia-Homem, do romancista cearense Domingos Olímpio, para a coleção dos Cem Bibliófilos do Brasil. Além disso, ilustrou diversas outras obras, incluindo livros de Jorge Amado e Dorival Caymmi[3].
Entre 1949 e 1951, foi estudar em Paris após ser contemplado com o prestigiado Prêmio Viagem ao Estrangeiro do Salão Nacional de Belas Artes. Lá visitou museus e travou conhecimentos com outros artistas, além de aprender técnicas de produção de telas à óleo e murais com mosaicos.
Retorno ao Brasil
[editar | editar código-fonte]Ao retornar ao país em 1951, realizou diversos murais em áreas públicas e privadas, ocupando grandes dimensões e utilizando o mosaico e o azulejo. O estilo dos murais (e tabém das pinturas em cavalete) é figurativo, com representação de tipos sociais, tendo a atividade do trabalho como destaque. Em entrevista cedida em 1956 para o jornal Última Hora, Graciano afirma:
"Ultimamente estou procurando na pintura (...) fixar a vida das gentes simples do Brasil. Quero mostrar em meus trabalhos, principalmente nos painéis que serão vistos pelo povo, o que é esse próprio povo. Ele se reconhecerá nos muitos personagens que constituirão minha obra. Como num romance cíclico, o povo aparecerá na figura tosca de um machadeiro, no desempenho dos boiadeiros, nos vultos curvados dos homens que plantaram o café (...). Pedreiros, metalúrgicos, colonos, tipógrafos - esses são os heróis do meu livro".[6]
Em 1971, exerceu a função de diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e presidente da Comissão Estadual de Artes Plásticas e do Conselho Estadual de Cultura.[4]
Além da pintura, Graciano dedicou-se a diversas atividades paralelas, lecionando cenografia na Escola de Arte Dramática de São Paulo (EAD), e ilustrando jornais, revistas e livros, principalmente nos anos 1980.
Destruição do Monumento ao Trabalhador em Goiânia
[editar | editar código-fonte]Em 1959, foi inaugurado um monumento em Goiânia no centro da Praça do Trabalhador, elaborado por dois murais de Clovis Graciano: "Luta dos Trabalhadores" e "Mundo do Trabalho". Os painéis situavam-se em frente à Estação Ferroviária da cidade, e eram dispostos em semicírculo e sustentados por pilastras de concreto ao molde de cavaletes e rodeados por espelhos d'água. O projeto arquitetônico foi assinado pelo arquiteto goiano Elder Rocha Lima.[7]
Por seu poder simbólico, o local se tornou ponto de encontro para manifestações no Dia do Trabalho. O painel se referia a várias cenas relacionadas à luta dos trabalhadores, incluindo referências aos enforcados de Chicago, que lutaram pela jornada de 8 horas no fim do século XIX[8]. Logo, os painéis não eram bem vistos durante a repressão da ditadura militar no Brasil.
Numa madrugada de abril de 1969, ativistas do Comando de Caça aos Comunistas (CCC) derramaram piche fervido nos dois murais. A pasta preta cobriu a quase totalidade das duas superfícies. Nenhuma providência foi tomada para a limpeza e recuperação das pastilhas, que rapidamente se descolavam das duas bases de concreto. Em 1973, o prefeito Manoel dos Reis determinou a raspagem das pastilhas, sem critérios de restauro. Por fim, em 1986, o prefeito Joaquim Roriz determinou a demolição das pilastras de concreto que sustentavam os painéis.[7]
Desde 1990 são propostas iniciativas para reconstrução do monumento, porém sem resultados concretos.
Principais obras
[editar | editar código-fonte]Parte de seus murais foi executada em prédios públicos, enquanto outra se localiza em edifícios privados e residências. Há ainda obras em acervos de museus e coleções particulares do Brasil e do exterior.[9] Estima-se que o artista possua cerca de 100 murais realizadas na cidade de São Paulo, e outros distribuídos pelo país[4].
Mural | Ano | Área | Local | Cidade | Conservação | Técnica |
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Residência Miguel Abujamra[10] | 1950 | Externa | Bairro do Sumaré | São Paulo/SP | Preservado | Mosaico vidroso |
A partida da Bandeira[11] | 1951 | Interna | Edifício O Estado de São Paulo / Hotel Jaraguá | São Paulo/SP | Preservado | - |
Alegoria às Artes[12] | 1952 | Interna | Teatro João Caetano | São Paulo/SP | Preservado | Pintura mural |
Sem título[13] | 1953 | Interna | Edifício Lausanne | São Paulo/SP | Preservado | Pintura mural |
Sem título (em parceria com Di Cavalcanti) | 1953 | Interna | Pavilhão de Recepção de Autoridades do Aeroporto de Congonhas | São Paulo/SP | Preservado | Pintura mural |
Sem título[14] | 1954 | Externa | Mercado do Marapé | Santos/SP | Preservado | Mosaico vidroso |
Sem título | 1955 | Externa | Edifício Bienal, bairro de Moema | São Paulo/SP | Preservado | Mosaico vidroso |
Alabarda | 1959 | Externa | Edifício Nações Unidas | São Paulo/SP | Preservado | Azulejo |
Monumento ao Trabalhador (dois painéis: A Luta do Trabalhador e O Mundo do Trabalho) | 1959 | Externa | Praça do Trabalhador | Goiânia/GO | Demolido | Mosaico vidroso |
Os bandeirantes[15] | 1959 | Externa | Conjunto Industrial da Willys Overland / Ford do Brasil | São Bernardo do Campo/SP | Preservado | Mosaico vidroso |
Armistício de Iperoig | 1962 | Interna | FAAP | São Paulo/SP | Preservado | Azulejo |
Subida da Serra, Os Bandeirantes, Epopeia do Café e A Cidade de Hoje | 1969 | Externa | Avenida Rubem Berta (muro) | São Paulo/SP | Preservado | Azulejo |
Ver também
[editar | editar código-fonte]- ↑ «Premiados em 1966». Prêmio Jabuti. Consultado em 15 de setembro de 2024
- ↑ «Obituário: estados». Jornal do Brasil, ano XCVIII, edição 84, página 12/republicado pela Biblioteca Nacional - Hemeroteca Digital Brasileira. 1 de julho de 1988. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ a b c d e Freitas, Aline Hubner (2023). Clovis Graciano: estratégias de amizade e as inter-relações entre os muralistas mexicanos e os modernistas brasileiros. Campinas: Universidade Estadual de Campinas. Tese (Doutorado)
- ↑ a b c Kwak, Gabriel (março de 2007). «Clovis Graciano: 100 anos de um artista». Getulio: p.61-65. Consultado em 14 de setembro de 2024
- ↑ «Clóvis Graciano». Enciclopédia Itaú Cultural. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Clovis Graciano, o pintor: hino aos trabalhadores». Hemeroteca Digital Brasileira. Última Hora (n.1395): p.3. 5 de janeiro de 1956. Consultado em 21 de setembro de 2024
- ↑ a b Borges, P.C.A. (2017). «Mudanças urbanas e fragilidades da política de memória (A destruição do Monumento ao Trabalhador em Goiânia)». Revista Sociedade e Estado. v.32 (n.2): p.345-370. Consultado em 4 de abril de 2024
- ↑ Peres, Nelio Borges (2020). «Lugares de Memória dos Trabalhadores #17: Monumento ao Trabalhador, Goiânia (GO)». LEHMT. Consultado em 4 de abril de 2024
- ↑ «Clóvis Graciano». Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Consultado em 15 de maio de 2021
- ↑ «Oswaldo Côrrea Gonçalves - arquiteto». Revista Acrópole (n.184). Agosto de 1953. Consultado em 14 de setembro de 2024
- ↑ «Edifício O Estado de São Paulo». Revista Acrópole (n.181): p.190. Maio de 1953. Consultado em 19 de março de 2024
- ↑ Brisola, Sergio (9 de março de 2021). «Painel do Teatro Popular João Caetano». Descubra Sampa. Consultado em 14 de setembro de 2024
- ↑ «Edifício Lausanne». ArquivoArq. Consultado em 14 de setembro de 2024
- ↑ «Inaugurado domingo o Mercado Popular do Marapé». Hemeroteca Digital Brasileira. A Tribuna (n.146): p.5. 14 de setembro de 1954. Consultado em 21 de setembro de 2024
- ↑ «Conjunto Industrial da Willys Overland». Revista Acrópole (n.265). Novembro de 1960. Consultado em 14 de setembro de 2024