Chav
Chav, chava, charva ou charver é um termo pejorativo aplicado a certos jovens do Reino Unido.[1] A imagem estereotipada de um chav é a de um adolescente ou jovem adulto agressivo, vindo da classe trabalhadora, que veste roupas de marca e tem estilo casual, costuma brigar e se envolver em criminalidade trivial, e é frequentemente visto como desempregado ou em um emprego com baixo salário.[2] O termo pode ter se originado da língua romani.[3][4] A forma em inglês da palavra assume um significado depreciativo, e começou a aparecer nos grandes dicionários em 2005.[5][6]
O termo chav possui muitas alternativas regionais; no Nordeste da Inglaterra há a variante charva ou charv, usada no condado de Tyne and Wear.[7] Charver era uma palavra comum de grande, porém não irrestrita, popularidade em Newcastle através da segunda metade do século XIX, sinônimo de garoto ou criança e derivado de chawvo, uma expressão romani que significa "uma pessoa jovem, um amigo".[8] Durante a década de 1990, charver sofreu uma desfiguração semântica, e crescimento massivo em uso pelos falantes do Geordie e alguns dialetos relacionados. A mudança no significado da palavra foi feita com a intenção de insultar; nesse ponto charver e chav tornaram-se sinônimos, apesar de este último ainda não ter entrado no linguajar comum.[9] É provável que o termo chav seja um derivado recente de charver, mas é também possível que as duas palavras sejam completamente distintas etimologicamente.[7][9] Outros termos equivalentes a chav incluem scally, predominante no noroeste da Inglaterra (incluindo Liverpool) e townie, uma palavra agora aparentemente envolvida por chav. Palavras semelhantes em uso fora da Inglaterra incluem ned ou scunner na Escócia, spide ou skanger na Irlanda e spide, milly (de Mill-girl) e steek na Irlanda do Norte.
Um documentário da BBC TV sugeriu que chav é uma evolução de subculturas juvenis da classe trabalhadora anteriores associadas a estilos de roupas comerciais peculiares, como skinheads e casuais.[10] Entretanto, chav não é um sinônimo direto de "pessoa da classe trabalhadora"; o termo refere-se a um tipo específico de comportamento, modo de falar e se vestir que é longe de ser universal entre a classe trabalhadora britânica.[11] O termo tem sido associado a delinquência juvenil, à geração da Ordem do Comportamento Antissocial e à cultura yob.
Popularização na mídia
[editar | editar código-fonte]Das suas origens como um termo chulo, o uso da palavra foi dispersado tão rapidamente que em 2004 ela se tornou uma palavra imensamente popular em jornais nacionais e linguajar comum no Reino Unido. O livro Larpers and Shroomers: The Language Report de Susie Dent, publicado pela Oxford University Press, designou-a "palavra do ano"[12] em 2004.[13] Uma pesquisa em 2005 descobriu que, apenas em dezembro de 2004, 114 artigos de jornais britânicos usaram esse termo. A popularidade da palavra levou à criação de sites dedicados a catalogar e ridicularizar o estilo de vida chav.
A "cultura chav" tem sido extensivamente retratada pela mídia britânica:
- O grupo de rap galês Goldie Lookin Chain foi descrito como tanto personificação quanto sátira da estética chav, apesar de o próprio grupo negar qualquer rótulo, simplesmente zombando do assunto.[14] A revista de tuning automobilístico britânica Max Power chegou a ter um Mk3 Vauxhall Cavalier bege com adesivos para fazerem-no parecer um distintivo típico da Burberry, denominou-o "Chavalier" e o entregou à banda.
- O futebolista Wayne Rooney[15] e sua esposa Coleen,[16] a rapper Lady Sovereign,[17] a modelo Katie Price,[18] a atriz Danniella Westbrook,[19] a ex-participante do Big Brother Jade Goody[20] e a cantora e apresentadora de televisão Kerry Katona[21] também foram rotulados como chavs pelos tabloides britânicos.
- A personagem Lauren Cooper e suas amigas Lisa and Ryan da série de comédia britânica The Catherine Tate Show exibem claro estilo chav de vestimenta, comportamento, maneirismos e interesse musical.[22] Outro sketch de comédia do Reino Unido, Little Britain apresenta uma personagem com características semelhantes, Vicky Pollard.[22]
Críticas ao estereótipo
[editar | editar código-fonte]O uso disseminado do estereótipo chav tem sofrido críticas; alguns argumentam[23] que isso se deve simplesmente a esnobismo e elitismo,[24] e que problemas sociais sérios como a presença da Ordem do Comportamento Antissocial, gravidez na adolescência, delinquência e alcoolismo em áreas de baixos salários não deveriam ser tratadas com escárnio. Críticos do tema argumentam que seus proponentes são "neo-esnobes",[25] e que a crescente popularidade levanta questões sobre como a moderna sociedade britânica lida com mobilidade social e classes.[19]
Efeito comercial
[editar | editar código-fonte]- A Burberry é uma marca de roupas cujos produtos foram inicialmente associados ao estereótipo chav. A Burberry argumenta que sua associação com o senso de moda chav está ligada a versões falsificadas das roupas. "Eles são as notícias de ontem", disse Stacey Cartwright, CEO da Burberry. "[As roupas] eram, em sua maioria, imitações, e o Reino Unido é responsável por apenas 10% das nossas vendas, de qualquer maneira."[26] A companhia tomou várias medidas para distanciar-se do estereótipo: cessou a produção de boné de beisebol de marca própria em 2004[27] e diminuiu o uso do design típico, com tartan e xadrez, a tal extensão que essas características agora só aparecem em forros internos e outras posições pouco valorizadas das suas roupas.[28][29] A Burberry também tomou ações legais contra infrações em alto nível da marca. Em agosto de 2006, uma empresa de riquixás automotivos (conhecidos como tuk-tuks) da cidade de Brighton, na costa sul da Inglaterra, criou um "Chavrolet" que levava o tartan da Burberry pintado no distintivo. No entanto, a companhia teve que recolher o veículo quando a Burberry ameaçou processá-la por infringir copyright.[30]
- A grande cadeia de supermercados Asda tentou registrar a palavra chav para uma nova linha de confecção de bolos.[31] Um porta-voz disse: "Com slogans de personagens em programas de televisão como Little Britain and The Catherine Tate Show providenciando-nos mais e mais gírias contemporâneas, nossos queridos Tanto-Faz — agora apelidados chavs — tornaram-se muito populares entre crianças e os mais crescidos também. Achamos que precisávamos dá-los algum respeito e decidimos patentear nossos queridos."[32][33]
- Muitas características normalmente associadas aos estereótipos de homo e metrossexual são espelhados pela moda chav, com predominância de roupas de marca.[34]
Ver também
[editar | editar código-fonte]- ↑ Ward, David (19 de outubro de 2004). «Get hip to chav as this year's wizard word» (em inglês). The Guardian. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ Preston, John (26 de outubro de 2008). «Chambers Slang Dictionary: chavs, chuddies and Sally Gunnell» (em inglês). The Telegraph. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ Tyler, Richard (24 de julho de 2008). «Savvy Chavvy: social entrepreneurs engage gypsies» (em inglês). The Telegraph. Consultado em 24 de dezembro de 2008
- ↑ Quinion, Michael. «Chav» (em inglês). World Wide Words. Consultado em 23 de fevereiro de 2009
- ↑ «'Asbo' and 'chav' make dictionary» (em inglês). BBC News. 8 de junho de 2005. Consultado em 2 de setembro de 2006
- ↑ Tweedie, Neil (10 de agosto de 2005). «Don't be a plank. Read this and get really clueful» (em inglês). The Telegraph. Consultado em 2 de setembro de 2006
- ↑ a b «Charver Taak» (em inglês). Durham & Tyneside Dialect Group. Janeiro de 2002. Consultado em 30 de dezembro de 2008
- ↑ «Charver» (em inglês). The GonMad Cumbrian Dictionary. Consultado em 2 de janeiro de 2009
- ↑ a b Bromley, Sarah (abril de 2007). «In the name of the Charver» (em inglês). Consultado em 2 de janeiro de 2009
- ↑ British Style Genius. Temporada 1. Episódio 5. 4 de novembro de 2008. No minuto 59. BBC
- ↑ «Charva» (em inglês). Reference.com. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ Noel-Tod, Jeremy (3 de abril de 2005). «Colourful whitewash» (em inglês). The Times Literary Supplement. Consultado em 30 de maio de 2007
- ↑ «AskOxford: Larpers and Shroomers: the Language Report». Oxford University Press. Consultado em 4 de março de 2006
- ↑ «Goldie Lookin' Chain: Chain reaction» (em inglês). The Independent. 13 de agosto de 2004
- ↑ Wheeler, Brian (30 de junho de 2005). «Leave chavs alone, say MPs» (em inglês). BBC News
- ↑ Patrick, Guy (2005). «Chav a merry Xmas, Roo» (em inglês). The Sun
- ↑ Davis, Johnny (15 de abril de 2006). «Lady Sovereign: The country's fourth biggest chav» (em inglês). The Independent
- ↑ Byrnes, Sholto (11 de setembro de 2005). «Say cheese! Camilla and the Queen of Chav enjoy two right royal» (em inglês). The Independent
- ↑ a b Smith, Alison (14 de junho de 2006). «Media student 'expert on chavs'» (em inglês). BBC News
- ↑ McVeigh, Karen (19 de outubro de 2004). «Doff your caps to the chavs …they're THE word of 2004» (em inglês). The Scotsman
- ↑ Pearlman, Natasha (6 de outubro de 2006). «The Chav Rich List» (em inglês). Daily Mail
- ↑ a b Fuller, Simon (16 de março de 2009). «Chavs on TV» (em inglês). Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ Hampson, Tom (15 de julho de 2007). «Ban the Word Chav» (em inglês). The Guardian
- ↑ John, Harris (11 de abril de 2006). «Bottom of the Class» (em inglês). The Guardian. Consultado em 24 de fevereiro de 2007
- ↑ Bennett, Oliver (28 de janeiro de 2004). «Sneer nation» (em inglês). The Independent
- ↑ King, Ian (12 de janeiro de 2005). «Burberry not chavin' it» (em inglês). The Sun
- ↑ «End Of 'Hooligan' Cap» (em inglês). Sky News. 10 de setembro de 2004. Consultado em 6 de março de 2007
- ↑ «The £16m woman takes on Burberry» (em inglês). The Times. 16 de outubro de 2005
- ↑ Tweedie, Neil (12 de outubro de 2005). «Check out the height of ferret fashion. Burberry has» (em inglês). The Telegraph
- ↑ Kwintner, Adrian (13 de setembro de 2006). «"Burberry drives tuk-tuk off road"» (em inglês). Brighton & Hove Argus. Consultado em 18 de setembro de 2006
- ↑ Boal, Catherine (23 de agosto de 2006). «ASDA bid for 'chav' candy» (em inglês). Consultado em 2 de abril de 2009
- ↑ Martin, Allison (22 de agosto de 2006). «It Asda be Chav» (em inglês). The Daily Mirror. Consultado em 1 de abril de 2009
- ↑ Donohue, Alex (22 de agosto de 2006). «Asda aims to go 'chavtastic' for confectionery range» (em inglês). Consultado em 2 de abril de 2009
- ↑ Wilkinson, Carl (17 de abril de 2005). «Not gays, just guys…» (em inglês). The Guardian. Consultado em 2 de abril de 2009
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Keith Hayward e Majid Yar (2006). «The "chav" phenomenon: Consumption, media and the construction of a new underclass». Crime, Media, Culture. 2 (1). doi:10.1177/1741659006061708. 9–28
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Larcombe, Duncan (10 de abril de 2006). «Future bling of England» (em inglês). The Sun Online. Consultado em 6 de março de 2007
- Lewis, Jemima (1 de fevereiro de 2004). «In defence of snobbery» (em inglês). Daily Telegraph. Consultado em 6 de março de 2007
- Jackson, Melissa (10 de janeiro de 2005). «Music to deter yobs by». BBC News Magazine (em inglês). bbc.co.uk. Consultado em 6 de março de 2007