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Carlos Latuff

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Carlos Latuff
Carlos Latuff
Nome completo Carlos Henrique Latuff de Sousa[1]
Nascimento 30 de novembro de 1968 (55 anos)
Rio de Janeiro
Nacionalidade Brasileiro
Área Chargista e ativista.

Carlos Henrique Latuff de Sousa[1] (Rio de Janeiro, 30 de novembro de 1968) é um chargista e ativista político brasileiro.

De origem libanesa e portuguesa,[2] Latuff iniciou sua carreira como ilustrador em 1989, numa pequena agência de propaganda situada no centro do Rio de Janeiro. Tornou-se cartunista depois de publicar sua primeira charge num boletim do Sindicato dos Estivadores, em 1990, e permanece trabalhando para a imprensa sindical até os dias de hoje. Desde 2019 é chargista do portal Brasil 247.[3]

Com o advento da Internet, Latuff deu início ao seu ativismo artístico, produzindo desenhos copyleft para o movimento zapatista. Após uma viagem aos territórios ocupados da Cisjordânia, em 1999, tornou-se um simpatizante da causa palestina, no contexto do conflito israelo-palestino, e, desde então, passou a dedicar boa parte do seu trabalho a esse tema, assumindo uma posição claramente antissionista.[4]

Tem trabalhos espalhados por todo o mundo.[4] É de sua autoria a primeira charge brasileira participante do Concurso Internacional de Caricaturas sobre o Holocausto, evento organizado em 2006 pelo jornal iraniano Hamshahri, em resposta às caricaturas de Maomé, publicadas pelo Jyllands-Posten da Dinamarca. O Concurso deu lugar a uma exposição de 204 obras vindas de todo o mundo, no Museu de Arte Contemporânea de Teerã. Latuff obteve o segundo lugar, com um desenho que retrata um palestino em desespero diante do muro da Cisjordânia, usando o uniforme dos prisioneiros de campos de concentração nazistas. No uniforme, aparece o Crescente, um símbolo muçulmano, no lugar da Estrela de David, símbolo do judaísmo e que era usada pelos prisioneiros judeus nos campos.

Desenho de Carlos Latuff apresentado no Concurso Internacional de Caricaturas sobre o Holocausto, 2006

Em 2009, Latuff visitou acampamentos da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), no estado de Rondônia, a convite do próprio movimento. A convivência com os camponeses o levou a também produzir charges relacionadas com a questão agrária no Brasil.[5][6]

As grandes manifestações de protesto de 2011, que se espalharam por todo o mundo árabe - a "Primavera Árabe" -, repercutiram no trabalho de Latuff, que quase diariamente produzia charges sobre eventos associados a esses movimentos. Na época, o Conselho Supremo das Forças Armadas (SCAF) do Egito, a Líbia e a OTAN eram seus temas mais frequentes. Esses trabalhos sobre a "Primavera Árabe" tornaram-se importantes para os povos que viveram esses acontecimentos, e era comum encontrar reproduções de caricaturas de Latuff em cartazes exibidos por manifestantes nas ruas, dentro e fora do Mundo Árabe,[7] conforme registrado pelos meios de comunicação brasileiros e internacionais. "É um trabalho autoral, mas não se trata da minha opinião. É preciso que seja útil para os manifestantes, e que eles possam usar aquilo como uma ferramenta," explicou o chargista.[8] "Charge incomoda", resume.[4]

Controvérsias

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Antissionismo e antissemitismo

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Em 2006, Latuff participou do Concurso Internacional de Caricaturas sobre o Holocausto, no Irã - um evento que, segundo seus organizadores, pretendia colocar em questão o duplo padrão, adotado pelo Ocidente, com relação aos limites da liberdade de expressão.[9] O evento foi objeto de fortes críticas por parte de várias figuras públicas, incluindo representantes do Departamento de Estado dos Estados Unidos, o Ministro das Relações Exteriores de Israel, Secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan[10] e a Liga Antidifamação.[11] Latuff disse que sua participação no concurso "se deu para questionar os dois pesos e duas medidas no Ocidente em relação às charges de Maomé":

"Fazer caricaturas sobre profetas muçulmanos e o Islã é tido como liberdade de expressão, mas caricaturas sobre o Holocausto, que é um fato histórico e não um dogma religioso, é passível de cadeia. Também queria tratar dos holocaustos do dia-a-dia, como o do povo palestino, que vive sob ocupação israelense há décadas (...)".[12]

Em consequência de sua participação no concurso, Latuff também foi objeto de ameaças veiculadas por um site ligado à extrema-direita israelense.[13][14]

Posteriormente, no contexto da Guerra de Gaza de 2008-2009, o jornal britânico The Guardian também criticou Latuff e outros cartunistas, por fazerem uso de "estereótipos judeofóbicos", em suas caricaturas.[15]

Mais tarde, durante a Guerra de Gaza de 2012, suas charges novamente criticaram a investida militar de Israel contra a Faixa de Gaza. Em virtude do seu notório apoio à causa palestina e por assimilar constantemente os sionistas aos nazistas, Latuff foi classificado, pelo Centro Simon Wiesenthal, não como antissionista mas como antissemita - o terceiro do mundo, segundo o Centro, precedendo até mesmo grupos de hooligans neonazistas europeus.[16][17] Em resposta à inclusão do seu nome na lista, Latuff divulgou uma nota, esclarecendo sua posição como antissionista:
"Crítica ou mesmo ataque à entidade política chamada Israel não é ódio aos judeus, porque o governo israelense NÃO representa o povo judeu, assim como nenhum governo representa a totalidade de seu povo. Essa não foi a primeira e nem será a última vez que tal incidente acontece, e por entender que tais acusações são orquestradas por quem apoia a colonização da Palestina, seguirei com minha solidariedade ao povo palestino."[18] Na ocasião, Latuff também recebeu manifestações de solidariedade, com destaque para a carta aberta do cineasta Sílvio Tendler, intitulada "Antissionistas, sim; antissemitas, não", na qual ele escreve:

"Um centro criado para caçar criminosos nazistas, que perseguiram, mataram, deportaram, torturaram judeus durante a Segunda Guerra, agora é utilizado, de forma equivocada, para embaralhar sionismo com semitismo.[19]

Referências
  1. a b Chargista brasileiro entra na polêmica. Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), 15 de fevereiro de 2006.
  2. «Al Jazeera repercute ameaças sofridas por cartunista Carlos Latuff». Operamundi. 9 de agosto de 2013. Consultado em 29 de setembro de 2022 
  3. Redação Brasil 247, Carlos Latuff, Brasil 247, 25 de março de 2022
  4. a b c "Charge incomoda", diz brasileiro que retratou Primavera Árabe. Terra, 12 de agosto de 2011
  5. Nº 61, AND (janeiro de 2010). «O artista que serve ao povo». A Nova Democracia. Consultado em 16 de dezembro de 2020 
  6. Latuff, Carlos (novembro de 2009). «Os palestinos da Amazônia». A Nova Democracia. Consultado em 16 de dezembro de 2020 
  7. Latuff inspirando os manifestantes mundo afora contra os sionistas. Maria Frô, 14 de Janeiro de 2009
  8. Cartunista brasileiro, astro da primavera árabe, 'esboça' Líbia do futuro. Por Júlia Dias Carneiro. BBC Brasil, 24 de agosto, 2011.
  9. Iranian TV Report on International Holocaust Cartoon Contest in Tehran (excertos do programa com transcrição em inglês). Iranian news channel (IRINN), 20 de setembro de 2006.
  10. «Moroccan wins Iran Holocaust cartoon contest». NBC News. 2 de novembro de 2006 
  11. ADL: Arab Media Review: Anti-Semitism and Other Trends July - December 2006: Iranian Holocaust Cartoon Contest Arquivado em 2010-08-06 no Wayback Machine, 24 de janeiro de 2007
  12. «Folha de S.Paulo - Brasileiros são premiados em concurso anti-semita - 03/11/2006». www1.folha.uol.com.br. Consultado em 5 de dezembro de 2020 
  13. Grupo de extrema direita israelense ameaça cartunista ativista brasileiro. Por Dafne Melo. Originalmente publicado por Brasil de Fato, 26 de setembro de 2006.
    Citação: "Deveriam ter cuidado desse Carlos há muito tempo, de um jeito ou de outro".
  14. Direita Israelense ameaça cartunista brasileiro. Vermelho (portal),
  15. «Cartoon symbols of the Israeli-Palestinian conflict». the Guardian (em inglês). 19 de dezembro de 2008. Consultado em 5 de dezembro de 2020 
  16. Latuff e a lista dos antissemitas Como a estratégia de associar posições contrárias às políticas israelenses ao ódio contra judeus é utilizada para desqualificar quem se opõe ao governo de Israel. Fórum, 19 de setembro de 2013.
  17. «ONG israelense: cartunista brasileiro é 3º "mais antissemita do mundo"». Terra. Consultado em 5 de janeiro de 2019 
  18. Marina Mattar (28 de dezembro de 2012). «"Governo israelense não representa o povo judeu", diz cartunista listado como antissemita». Opera Mundi. Consultado em 5 de dezembro de 2020 
  19. Silvio Tendler: "Antissionistas, sim; antissemitas, não". Fórum, 2 de janeiro de 2013·

Ligações externas

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