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Incerteza

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 Nota: Para outros significados, veja Incerteza (desambiguação).

Incerteza é um termo usado, com diversos significados, em muitos campos, incluindo filosofia, física, estatística, economia e finanças, psicologia. Pode referir-se a uma situação em que não se pode prever exatamente o resultado de uma ação ou o efeito de uma condição. Pode também referir-se ao grau de imprecisão de medidas físicas ou, simplesmente, ao desconhecido.

Em economia, uma distinção clássica entre risco e incerteza é a proposta por Frank Knight, da Universidade de Chicago, em sua obra Risk, Uncertainty, and Profit ( Risco, Incerteza e Lucro), de 1921. Segundo ele, risco é uma incerteza mensurável - uma "falsa incerteza". Assim, o risco de que um evento ocorra é dado por uma distribuição de probabilidades.

" Incerteza deve ser entendida num sentido radicalmente distinto da familiar noção de risco, da qual nunca foi convenientemente separada (...) Incerteza mensurável, ou risco no sentido próprio do termo, é tão diferente de incerteza não mensurável que, de fato, não é, de modo algum, uma incerteza." [1]

O risco designa uma situação em que as possibilidades do futuro são conhecidas. Já a incerteza se refere a uma situação em que não se conhecem essas possibilidades. Knight distingue portanto as situações arriscadas (nas quais a distribuição de probabilidades dos casos possíveis não é conhecida) das situações incertas (nas quais nem mesmo os casos possíveis são conhecidos). Uma incerteza knightiana é portanto uma situação em que o futuro não é e nem pode ser conhecido.

Quase quinze anos depois de Frank Knight ter publicado Risco, Incerteza e Lucro, John Maynard Keynes publicou a A Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda. No capítulo 12 do livro ("The State of Long Term Expectation"; em português, "O estado da expectativa a longo prazo"), Keynes aprofunda a distinção, originalmente proposta por Knight, entre risco (uma situação em que a probabilidade de futuros resultados pode ser derivada através da teoria da probabilidade e inferência estatística) e incerteza (uma situação em que uma previsão de resultados futuros, suas probabilidades e impacto econômico se baseiam em estimativas subjetivas).[2]

Assim como Knight, Keynes, que analisou profundamente a importância da incerteza na dinâmica econômica, define como incertos os fenômenos aos quais não se pode aplicar o cálculo de probabilidade:[3]

"Por conhecimento 'incerto', esclareço, não quero dizer meramente distinguir o que é conhecido com certeza do que é apenas provável. O jogo de roleta não é sujeito, neste sentido, a incerteza ... ou ... a expectativa de vida é apenas levemente incerta. Mesmo a previsão do tempo é apenas moderadamente incerta. O sentido em que estou usando o termo é o de que a perspectiva de uma guerra europeia é incerta ou o preço do cobre e a taxa de juros daqui a vinte anos... Sobre esses assuntos não há base científica para estabelecer nenhum cálculo de probabilidade, qualquer que seja. Nós simplesmente não sabemos."

Numa economia movida a expectativas, quando a incerteza sobre o futuro não pode ser reduzida através de modelos probabilísticos, os agentes econômicos acabam por seguir aquilo que Keynes denominou animal spirits:

"O estado das expectativas de longo prazo, em que baseamos nossas decisões, não depende somente, portanto, da previsão mais provável que possamos fazer. Depende também da confiança que depositamos nessa previsão (...) Se esperarmos por grandes mudanças, mas estivermos muito incertos quanto à forma exata que essas mudanças irão assumir, então nossa confiança será débil. 'O estado de confiança', como chamam, é uma questão à qual os homens práticos sempre prestam a máxima e mais ansiosa atenção. Mas os economistas não têm analisado isto com cuidado, contentando-se, habitualmente, em discutir o assunto em termos genéricos. Em particular, não tem ficado claro que a sua relevância para os problemas econômicos se manifesta como grande influência sobre o investimento [...] Entretanto não há muito a ser dito sobre o estado de confiança a priori. Nossas conclusões devem depender principalmente da real observação dos mercados e da psicologia dos negócios..." [4]

Incerteza de medidas

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Ver artigo principal: Incerteza de medição

Refere-se à dificuldade de prever eventos futuros em razão de eventuais erros em medidas físicas já realizadas.

Definição oficial da União Europeia

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A incerteza, segundo a Diretiva Comunitária 2007/589/CE, é definida como o parâmetro associado ao resultado da determinação de uma quantidade, que caracteriza a dispersão dos valores que poderiam razoavelmente ser atribuídos a essa determinada quantidade (incluindo os efeitos de fatores sistemáticos e aleatórios), expresso em percentagem e que descreve um intervalo de confiança próximo do valor médio, compreendendo 95% dos valores inferidos.[5]

A incerteza de uma medida exprime-se por uma faixa de valores que provavelmente estão próximo do valor real. Isso pode ser denotado por barras de erros em um gráfico ou como um valor ± incerteza ou como porção decimal (incerteza). [6][7] Esta última notação é utilizada, por exemplo, pela IUPAC para representar a incerteza com relação à massa atômica de um elemento químico. Assim, uma incerteza quanto ao último dígito da massa atômica do elemento é indicada por um algarismo entre parênteses. Por exemplo: 1,00794(7) indica ±0,00007.[8]

Referências
  1. Uncertainty must be taken in a sense radically distinct from the familiar notion of risk, from which it has never been properly separated(...) A measurable uncertainty, or 'risk' proper, as we shall use the term, is so far different from an unmeasurable one that it is not in effect an uncertainty at all. Knight, F.H. (1921) Risk, Uncertainty, and Profit. Boston, MA: Hart, Schaffner & Marx; Houghton Mifflin Company
  2. «Understanding and Predicting Uncertainty Shocks, Part 1». Consultado em 7 de outubro de 2010. Arquivado do original em 1 de julho de 2011 
  3. "By ‘uncertain’ knowledge, let me explain, I do not mean merely to distinguish what is known for certain from what is only probable. The game of roulette is not subject, in this sense, to uncertainty ... Or ... the expectation of life is only slightly uncertain. Even the weather is only moderately uncertain. The sense in which I am using the term is that in which the prospect of a European war is uncertain, or the price of copper and the rate of interest twenty years hence ... About these matters there is no scientific basis on which to form any calculable probability whatever. We simply do not know". KEYNES, J. M. "Risk, Uncertain and Profit". The General Theory and After: defence and development. London: Macmillan (The collected writings of John Maynard Keynes, edited by D.Moggridge, vol. XIV) apud Caos, Incerteza e teoria pós-keynesiana por Fernando Ferrari Filho e Jorge Paulo de Araújo. UFRGS, 2000.
  4. The state of long-term expectation, upon which our decisions are based, does not solely depend on the most probable forecast we can make. It also depends on the confidence with which we make this forecast (...) If we expect large changes but are very uncertain as to what precise form these changes will take, then our confidence will be weak. 'The state of confidence', as they term it, is a matter to which practical men always pay the closest and most anxious attention. But economists have not analyzed it carefully and have been content, as a rule, to discuss it in general terms. In particular, it has not been made clear that its relevance to economic problems comes through its important influence on [investment]...There is, however, not much to be said about the state of confidence a priori. "
  5. [1]Arquivado em 2 de abril de 2015, no Wayback Machine. Decisão da Comissão de 18 de Julho de 2007 que estabelece orientações para a monitorização e a comunicação de informações relativas às emissões de gases com efeito de estufa, nos termos da Directiva 2003/87/CE do Parlamento Europeu e do Conselho [notificada com o número C(2007) 3416 (Texto relevante para efeitos do EEE) (2007/589/CE)
  6. Erro, precisão e exatidão
  7. Erros e algarismos significativos Arquivado em 2 de abril de 2015, no Wayback Machine.. Por André Costa.
  8. AVERILL, Bruce A.; ELDREDGE, Patricia. Principles of General Chemistry. Appendix H: Periodic Table of Elements, p. 3007

Ligações externas

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