Era Viking
Era Viking ou Era Viquingue (em sueco: Vikingatiden; em dinamarquês: Vikingtid; em norueguês: Vikingtiden; em islandês: Víkingaöld) é o nome que se dá ao período de quase três séculos da história da Escandinávia, aproximadamente entre os anos 800 e 1050, durante o qual os vikings tiveram um papel preponderante.[1][2][3][4]
A Era Viking faz parte da pré-história dos Países Escandinavos, nomeadamente a última fase da Idade do Ferro, e é seguida pelo início da Idade Média.[5][6][7][8]
Início da Era Viking
[editar | editar código-fonte]Costumam ser apontadas como causas da Era Viking, a população da Escandinávia ter aumentado consideravelmente - ficando a terra insuficiente para fornecer a alimentação necessária, ao mesmo tempo que a técnica da construção dos navios viking atravessava um desenvolvimento notável.[9][10] As divisões e querelas internas dos estados da Europa continental abriram o terreno, tendo os Nórdicos aproveitado a oportunidade.[11][12]
Cotidiano
[editar | editar código-fonte]A maior parte da população escandinava era constituída por camponeses, que nunca saiam das suas terras, e se dedicavam à agricultura, à silvicultura, à caça e à pesca.[13][11] As pessoas viviam em pequenos grupos familiares com várias gerações, e dedicavam-se ao cultivo do centeio, da cevada, do trigo e da aveia. Comiam pão, papas de cereais, queijo fresco e bagas. Bebiam água, leite ou cerveja fraca. Criavam porcos, cabras, gansos, cavalos e vacas. A carne desses animais era salgada ou defumada, para ser conservada para o inverno. Habitavam casas retangulares, onde tinham lugar homens, mulheres, crianças, escravos e animais. Os escravos – chamados thrall na Escandinávia – tinham uma vida dura, fazendo os trabalhos mais difíceis e comendo alimentos inferiores ou os restos das refeições.[14]
Um pequeno grupo dedicava-se ao fabrico de objetos e ao comércio. [15] Os viquingues eram uma pequena parcela da população que participavam em operações de guerra naval, de pirataria ou de comércio marítimo.[16][17][falta página]
Sociedade
[editar | editar código-fonte]As famílias eram geralmente compostas por um homem, uma mulher e 1-3 filhos. Ocorria também a poligamia, tendo alguns homens ricos 2 ou 3 esposas ou amantes legítimas (frillor).[18] A população estava organizada em sociedades locais com carácter hierárquico, constituídas por um chefe (hövding), os seus capatazes-guerreiros (jarlar), camponeses livres (fria bönder) e escravos (trälar).[19][20]
A agricultura era a principal ocupação e base de subsistência, sendo o comércio e as atividades marítimas os vetores marcantes deste período.[21] Com o decorrer dos tempos, apareceram comerciantes e artesãos, que ganharam sucessivamente certa independência, e pouco a pouco concentraram a sua atividade, fazendo surgir as primeiras cidades, como é o caso de Heidiba, Ribe e Sigtuna. Igualmente entraram em cena, no fim deste período, os padres, acompanhando o processo de cristianização em curso. São precisamente este dois grupos - comerciantes e padres, que mostram a direção em que evoluía a sociedade escandinava da Era Viquingue.[22]
Língua
[editar | editar código-fonte]A língua falada pelos vikings está preservada em inscrições em pedras rúnicas contemporâneas e em poemas orais recolhidos dois séculos mais tarde.[23] A língua utilizada nas áreas dinamarquesas, suecas, norueguesas, feroesas e islandesas, é o nórdico antigo.[24] Como não há grandes diferenças linguísticas nas inscrições em caracteres rúnicos da época, parece que a língua falada diferia pouco dentro desse espaço linguístico.[25]
Religião
[editar | editar código-fonte]Antes da chegada do cristianismo, os escandinavos adoravam os deuses asses. Odin era o deus principal - o "Deus supremo". Ele tinha criado o mundo com os seus irmãos Vile e Ve, e dado a vida aos primeiros seres humanos - Askr e Embla.[26][27][28] Enquanto Odim era o favorito dos grupos dominantes, os deuses Thor e Frey eram particularmente populares entre os camponeses. Thor era o deus das curas nas doenças e Frey o deus da paz, das boas colheitas e dos casamentos felizes.[29]
Era uma religião com inúmeros deuses caprichosos e imprevisíveis, aos quais era necessário agradar e acalmar.[30] Nas suas viagens à Europa, os viquingues depararam-se com um novo deus - o Cristo. A pouco e pouco, a nova divindade foi ganhando adeptos, em competição com os deuses tradicionais, e o cristianismo chegou à Escandinávia. Entre os primeiros missionários a chegar à Dinamarca e Suécia, esteve Ansgário, enviado pelo imperador franco-germânico Luís I na década de 820. Com o estabelecimento de bispados permanentes no século XI, o processo de cristianização estava consumado. A nova religião estava associada uma nova cultura e a uma nova forma de vida. Ao mesmo tempo a Era Viquingue estava a chegar ao fim.[31][32]
A arte
[editar | editar código-fonte]A arte dos viquingues aparece nos seus mitos, nos seus objetos do dia-a-dia e nas pedras rúnicas. Dos artefactos práticos e belos, em madeira e em tecido, pouco resta. O que sobreviveu do trabalho de artesãos anónimos, é sobretudo trabalhos em metal – fivelas, agulhas, pulseiras, colares, amuletos e armas ornamentadas. O estilo viquingue é frequentemente decorativo e baseado em motivos da natureza, usando ornamentações complicadas, com animais interligados e plantas entrelaçadas. Pelo contrário, as pedras rúnicas e as gravuras rupestres têm preservado inúmeras representações artísticas de cenas do dia a dia e do imaginário da época.[33][34]
As primeiras cidades
[editar | editar código-fonte]Na Era Viking a população vivia espalhada pelo campo. Duas das principais atividades económicas eram a agricultura e o comércio. As "cidades" eram os pontos de encontro das pessoas que tinham algo para vender ou para comprar. Entre as primeiras cidades conhecidas da Escandinávia estavam Ribe (na Jutlândia), Hedeby (entre a Alemanha e Dinamarca), Kaupang na Noruega, Uppåkra na Escânia e Birka (no Vale do Mälaren). Mais tarde surgiram outras povoações, como Sigtuna, Skara e Visby.[35][3][falta página]
As viagens dos viquingues
[editar | editar código-fonte]Com o aumento da população e a melhoria da técnica de construção naval, apareceu a possibilidade de ir buscar riquezas a outras paragens e procurar terras férteis para colonizar. Muitos noruegueses saíram do país para escapar a uma opressão política sufocante.[9][10] Estas circunstâncias teriam levado os navegadores nórdicos a sair da Escandinávia, para explorar, saquear, conquistar e fazer comércio com a Europa, a Ásia, a África e a América atravessando mares e subindo rios.[5][36]
Viquingues do Oeste e Leste
[editar | editar código-fonte]Para oeste, os viquingues da Dinamarca e do sul da Suécia (danos) fizeram incursões e acabaram por se estabelecer em várias partes da Europa - especialmente França e Ilhas Britânicas. Ao mesmo tempo, os viquingues da Noruega aventuraram-se no Atlântico, descobrindo e colonizando a Islândia e a Groenlândia, e tendo mesmo chegado à América do Norte, onde tentaram fixar-se, embora sem sucesso.[5][37][38] As expedições dinamarquesas e norueguesas, tinham o foco na colonização e pilhagem.[39]
Para leste, os viquingues da Suelândia (suíones) e da Gotlândia (gotas), na Suécia, abriram rotas comerciais ligando os países nórdicos ao Oriente, tendo estado nos Países Bálticos, na Rússia, no mar Negro, no Mar Cáspio, no Império Bizantino e no Califado Abássida. Fundaram feitorias comerciais em Novogárdia e Quieve.[40] A sua presença está igualmente referida na Anatólia, onde eram designados de varegues (varjager).[5] O foco das expedições suecas estava na abertura de vias comerciais e estabelecimento de entrepostos comerciais.[39]
Fim da Era Viquingue
[editar | editar código-fonte]A Era Viquingue acabou quando o cristianismo e a civilização europeia chegaram à Escandinávia.[31] Com o aparecimento e consolidação dos reinos da Dinamarca, Noruega e Suécia, as expedições militares reais substituíram as expedições de pirataria dos grandes senhores locais.[41]
Na mesma altura, as rotas comerciais do Mediterrâneo foram reabertas devido às Cruzadas, e o comércio na Europa do Norte perdeu importância, tendo os alemães suplantado os comerciantes da Suécia e da ilha da Gotlândia.[41] Com o desaparecimento desta importante base da sua riqueza económica, os Países Nórdicos passaram a estar na periferia do comércio internacional.[42]
Fontes históricas
[editar | editar código-fonte]Algumas obras de autores estrangeiros trazem informação variada e frequentemente incompleta, ou até contraditória, sobre esta época remota dos habitantes da Escandinávia. Achados arqueológicos e observações linguísticas, tornam mais nítidos estes contornos. Estudos genéticos e análises químicas aprofundam os nossos conhecimentos.[43]
Entre os documentos e objetos mais importantes, merecem realce:
- Vida de Ansgário de Rimberto de Hamburgo, bispo de Hamburgo-Brema, do século IX
- Feitos dos Bispos da Igreja de Hamburgo do historiador alemão Adão de Brema, do século XI
- Crónica de Nestor, do monge eslavo Nestor, do século XII
- Crónica do escritor árabe Amade ibne Fadalane, do século X
- Pedras rúnicas
- Saga dos Inglingos do historiador islandês Snorri Sturluson, do século XIII, na qual é citada a desaparecida Lista dos Inglingos de Tiodolfo de Hvinir, possivelmente do século IX
- Saga de Egil Skallagrimsson, possivelmente do escritor islandês Snorri Sturluson, do século XIII
- ↑ Lindkvist 2006, p. 29-64.
- ↑ Henrikson 1963, p. 51.
- ↑ a b Langer 2017.
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Bibliografia
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Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Historia - Tema: Vikingarna - Série de artigos temáticos sobre os vikings na revista sueca Illustrerad Historia
- Aventura e Magia no Mundo das Sagas Islandesas