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Jerônimo: diferenças entre revisões

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| principal_templo = [[Basílica de Santa Maria Maior]], [[Roma]], [[Itália]]
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{{PBPE|Jerônimo|Jerónimo}}, nascido '''Eusébio Sofrônio Jerônimo''' ({{langx|la|''Eusebius Sophronius Hieronymus''}}; {{langx|el|Εὐσέβιος Σωφρόνιος Ἱερώνυμος}}) e também conhecido como '''Jerônimo de Estridão''', foi um sacerdote [[católico]] [[ilírios|ilírio]],<ref>{{citar livro|sobrenome=Killian|nome=James|título=Truth of Our Faith|página=193|url=http://books.google.me/books?id=SRyroqLy-UYC&pg=PA193&dq=Saint+Jerome+Illyrian&hl=en&sa=X&ei=4u83U9WmCYfasgag3oEg&ved=0CDIQ6AEwAg#v=onepage&q=Saint%20Jerome%20Illyrian&f=false}}</ref>, destacado como [[teologia|teólogo]], [[história|historiador]] e [[confessor]], e considerado [[santo]] e [[Doutor da Igreja]] pela [[Igreja Católica]]. Filho de Eusébio, da cidade de [[Estridão]], na fronteira entre a [[Dalmácia romana|Dalmácia]] e a [[Panônia]], é mais conhecido por sua tradução da [[Bíblia]] para o [[latim]] (conhecida como ''[[Vulgata]]'') e por seus comentários sobre o [[Evangelho dos Hebreus]], mas sua lista de obras é extensa.<ref>{{citar livro | editor1-first= Philip | editor1-last = Schaff | editor1-link = Philip Schaff |others= Henry Wace |título= A Select Library of Nicene and Post-Nicene Fathers of the Christian Church | acessodata= 2010-06-07 | url = http://books.google.com/books?id=NQUNAAAAIAAJ | volume = VI | ano = 1893 | editora = The Christian Literature Company |local=New York |series=2nd series |ref=harv }}</ref>.
 
Jerônimo é reconhecido como [[santo]] pelos [[católicos]], [[Igreja Ortodoxa|ortodoxos]] e [[anglicanos]].<ref>[http://www.nuss.com.br/os-orixas/xango.html Xangô - Sincretizado a São Jerônimo, Xangô é o Orixá da sabedoria e da justiça.]</ref><ref>{{Citar web |url=http://www.genuinaumbanda.com.br/temas_variados/sao_jeronimo.htm |titulo=São Gerônimo |acessodata=2014-10-03 |arquivourl=https://web.archive.org/web/20141102214753/http://www.genuinaumbanda.com.br/temas_variados/sao_jeronimo.htm |arquivodata=2014-11-02 |urlmorta=yes }}</ref>
 
== Biografia ==
Eusébio Sofrônio Jerônimo nasceu na cidade de [[Estridão]], na [[Província romana|proví­ncia romana]] da [[Dalmácia romana|Dalmácia]], por volta de 347,<ref>{{citar livro | nome = Megan Hale | sobrenome = Williams | título = The Monk and the Book: Jerome and the making of Christian Scholarship | place = Chicago | ano = 2006}}</ref>, mas só foi batizado entre 360 e 366, quando viajou para [[Roma]] com seu amigo [[Bonoso (bispo)|Bonoso]] – que pode ou não ser o mesmo Bonoso que Jerônimo identifica como sendo seu companheiro quando foi viver como [[eremita]] numa ilha no [[Adriático]] – para continuar seus estudos sobre [[retórica]] e [[filosofia]]. Lá, Jerônimo estudou [[latim|gramática latina]] e um pouco de [[língua grega|grego]]<ref>{{citar livro | editor-first = Michael | editor-last = Walsh | título = Butler's Lives of the Saints | editora = HarperCollins | place = New York | ano = 1991 | página = 307}}</ref> com o [[Gramática|gramático]] [[Élio Donato]], embora não tenha adquirido a proficiência na língua grega que, anos depois, alegaria ter obtido como estudante.<ref>{{citar livro | nome = JND | sobrenome = Kelly | título = Jerome: His Life, Writings, and Controversies | editora = Harper & Row | place = New York | ano = 1975 | páginas = 13–14}}</ref>. Jerônimo, tendo nascido em uma região do Império com forte presença romana desde 165 a.C., quando da derrota do último rei da Ilíria, [[Gêncio]], e já completamente latinizada no século IV d.C.,<ref>{{Citar livro|url=https://www.worldcat.org/oclc/55874906|título=The provinces of the Roman Empire, from Caesar to Diocletian|ultimo=Mommsen, Theodor, 1817-1903.|ultimo2=Haverfield, F. (Francis), 1860-1919.|data=2004|editora=Gorgias Press|edicao=1st Gorgias Press ed|local=Piscataway, N.J.|isbn=1593330251|oclc=55874906}}</ref>, teria falado latim como língua materna.
 
Ainda como estudante em Roma, Jerônimo se envolveu no comportamento errático dos colegas mais despreocupados, o que lhe provocava depois terríveis ataques de arrependimento. Para apaziguar a consciência, visitava aos domingos as sepulturas dos [[mártir]]es e dos [[apóstolo]]s nas [[catacumbas de Roma|catacumbas]], uma experiência que lhe lembrava dos terrores do [[inferno]]:
{{citação2|Frequentemente me encontrava entrando naquelas profundas criptas escavadas na terra, com suas paredes de ambos os lados preenchidas com os corpos dos mortos, onde tudo era tão escuro que parecia quase como se as palavras do [[Livro dos Salmos|salmista]] tivessem se realizado: {{citar bíblia|Salmos|55|15|citação=Desçam vivos ao [[Cheol]]}}. Aqui e ali, a luz, não vinda de janelas, mas descendo através das valas, aliviava o horror da escuridão. Mas novamente, tão logo você se via caminhando cuidadosamente adiante, a noite escura se fechava a sua volta e vinha-me à mente o verso de [[Virgílio]]: "Horror ubique animos, simul ipsa silentia terrent"|Jerônimo|Commentarius in Ezzechielem<ref>{{citar livro | sobrenome = Jerome | título = Commentarius in Ezzechielem | at = c. 40, v. 5}}</ref><ref>''[[Patrologia Latina]] 25, 373'': Crebroque cryptas ingredi, quae in terrarum profunda defossae, ex utraque parte ingredientium per parietes habent corpora sepultorum, et ita obscura sunt omnia, ut propemodum illud propheticum compleatur: ''Descendant ad infernum viventes'' (Ps. LIV,16): et raro desuper lumen admissum, horrorem temperet tenebrarum, ut non tam fenestram, quam foramen demissi luminis putes: rursumque pedetentim acceditur, et caeca nocte circumdatis illud Virgilianum proponitur (Aeneid. lib. II): "Horror ubique animos, simul ipsa silentia terrent."</ref>}}
 
Jerônimo utilizou de uma passagem de Virgílio — ''"Por todos os lados o horror se espalhava; o profundo silêncio inspirava o terror na minh'alma"''<ref>[http://www.perseus.tufts.edu/hopper/text?doc=Perseus%3Atext%3A1999.02.0054%3Abook%3D2%3Acard%3D752 P. Vergilius Maro, Aeneid Theodore C. Williams, Ed. Perseus Project] (retrieved 23 Aug 2013)</ref> — para descrever o horror do inferno. No início de sua carreira, ele utilizava termos de [[literatura clássica|autores clássicos]] para descrever conceitos cristãos (como "Cheol", um termo para o inferno) , um indicativo de sua educação clássica. Embora inicialmente cético em relação ao [[cristianismo]], no fim acabou se convertendo.<ref>{{citar livro | nome = Robert | sobrenome = Payne | título = The Fathers of the Western Church | place = New York | editora = Viking | ano = 1951 | página = 91}}</ref>. Depois de muitos anos na capital imperial, Jerônimo viajou com Bonoso para a [[Gália romana|Gália]] e se assentou em [[Augusta dos Tréveros]] (moderna [[Tréveris]], na [[Alemanha]]), onde é possível que tenha primeiro se dedicado aos seus estudos teológicos e, depois, a copiar para seu amigo [[Tirânio Rufino]] o comentário de [[Hilário de Poitiers|Hilário]] sobre os [[Livro dos Salmos|"Salmos"]] e o tratado ''"De Synodis"''. Depois disso, Jerônimo viveu vários meses (pelo menos) ou, possivelmente, anos, com Rufino em [[Aquileia]], onde fez muitos amigos cristãos.
 
Alguns deles o acompanharam quando ele partiu, por volta de 373, numa viagem através da [[Trácia]] e da [[Ásia Menor]] até o norte da [[Síria romana|Síria]]. Em [[Antioquia]], onde ficou por mais tempo, dois de seus companheiros morreram e ele próprio ficou seriamente doente mais de uma vez. Durante uma destas enfermidades (perto do inverno de 373-374), Jerônimo teve uma [[visão (religião)|visão]] que levou-a a abandonar seus estudos seculares para dedicar-se completamente a [[Deus]]. Ele parece ter trocado uma grande quantidade de tempo que dispendia no estudo dos clássicos para estudar a [[Bíblia]], dirigido por [[Apolinário de Laodiceia]], que na época ensinava em Antioquia e ainda não dava sinais de sua futura condenação por [[heresia]] (vide [[apolinarismo]]).
 
Tomando por um súbito desejo de viver em [[penitência]] [[ascetismo|asceta]], Jerônimo passou um tempo no deserto de [[Cálcis (Síria)|Cálcis]], para o sudoeste de Antioquia, uma região conhecida como "[[Tebaida Síria]]", onde moravam numerosos [[eremita]]s. Durante este período, ele parece ter encontrado tempo para estudar e escrever. Lá também dedicou-se a aprender pela primeira vez o [[língua hebraica|hebraico]], sob a tutela de um [[judeu]] convertido e é possível que ele tenha mantido correspondência com os [[judeo-cristãos]] de Antioquia. Por volta desta época, Jerônimo contratou uma cópia de um "Evangelho Hebreu", do qual fragmentos foram preservados em suas notas e que é hoje conhecido como "[[Evangelho dos Hebreus]]", considerado o verdadeiro [[Evangelho de Mateus]] pelos [[nazarenos (seita)|nazarenos]].<ref>{{citar livro | nome = Stefan | sobrenome = Rebenich | título = Jerome | ano = 2002 | página = 211 | quote =}}</ref>. Depois disso, ele próprio traduziu partes da obra para o grego.<ref>{{citar livro | nome = Ray | sobrenome = Pritz | título = Nazarene Jewish Christianity: from the end of the New Testament | ano = 1988 | página = 50 | quote = }}</ref>.
 
De volta em Antioquia em 378 ou 379, foi [[ordem (sacramento)|ordenado]] pelo [[bispo de Antioquia|bispo]] [[Paulino de Antioquia]], aparentemente contra sua vontade e sob a condição de poder continuar sua vida asceta. Logo depois, viajou para [[Constantinopla]] para continuar seus estudos sobre as [[Escrituras]] com [[Gregório Nazianzeno]]. Ele passou por volta de uns dois anos por lá e partiu novamente para Roma, onde passou os três anos seguintes (382-385) na corte do [[papa Dâmaso I]] e a liderança cristã da cidade. O motivo da viagem foi um convite para que participasse do [[Concílio de Roma (382)|concílio de 382]] realizado para acabar com o [[cisma]] na [[Igreja de Antioquia]], que na época tinha mais de um [[patriarca de Antioquia|patriarca]] alegando ser o verdadeiro. Acompanhando um deles, Paulino, pretendia apoiá-lo nos trabalhos, acabou se destacando junto ao [[papa]] e passou a exercer um importante papel durante seus concílios.
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Em Roma, Jerônimo estava rodeado por um círculo de mulheres bem-nascidas e bem-educadas, incluindo algumas oriundas das mais nobres famílias [[patrício|patrícias]] romanas, como as viúvas [[Santa Leia|Leia]], [[Santa Marcela|Marcela]] e [[Santa Paula|Paula]], com suas filhas [[Blesila]] e [[Eustóquia]]. Como resultado da crescente inclinação destas mulheres pela [[vida monástica]], da indulgente lascividade que imperava em [[Roma]] e mais a crítica feroz de Jerônimo ao [[clero secular]], que não poupava ninguém, logo irrompeu um conflito contra o clero romano e seus aliados. Depois da morte de [[papa Dâmaso I|Dâmaso]], seu patrono (10 de dezembro de 384), Jerônimo foi forçado a abdicar de suas funções em Roma quando um inquérito foi aberto pelos seus inimigos para investigar uma suposta relação inapropriada entre ele e Paula.
 
Além disso, sua condenação ao estilo de vida [[hedonismo|hedonista]] de [[Blesila]] levou-a a adotar práticas ascetas que acabaram afetando sua saúde e a tornaram tão fraca fisicamente que ela morreu apenas quatro meses depois de começar a seguir suas instruções. A maior parte da população romana ficou enfurecida com Jerônimo, acusando-o de causar a morte prematura de uma jovem tão altiva. Para piorar, sua insistência de que Paula não deveria lamentar a morte dela e suas reclamações de que o luto por ela era excessivo foram vistos como cruéis e polarizaram ainda mais a opinião pública contra ele.<ref>Joyce Salisbury, ''Encyclopedia of women in the ancient world'', ''Blaesilla''</ref>.
[[Ficheiro:Francisco de Zurbarán 043.jpg|thumb|esquerda|300px|Jerônimo com [[Santa Paula]] e sua filha [[Eustóquia]], duas de suas principais devotas. Uma rica viúva, Paula deu condições para que Jerônimo pudesse viver sem preocupações financeiras e se dedicasse aos estudos. Ela seguiu-o depois para Belém e morreu com ele na [[Terra Santa]].<br><small>1638-1640. Por [[Francisco de Zurbarán]], atualmente na [[Galeria Nacional de Arte]].</small>]]
Em agosto de 385, Jerônimo abandonou Roma definitivamente e voltou para Antioquia com seu irmão [[Paulinianos|Pauliniano]] e diversos amigos; logo depois vieram Paula e [[Eustóquia]], decididas a terminar suas vidas na [[Terra Santa]]. No inverno do mesmo ano, Jerônimo viajou com elas na função de conselheiro espiritual. O grupo, acompanhado do bispo [[Paulino de Antioquia]], peregrinou por [[Jerusalém]], [[Belém (Palestina)|Belém]] e os lugares santos da [[Galileia]] antes de seguir para o [[Egito romano|Egito]], onde viviam os heróis da vida asceta, os [[padres do deserto|monges do deserto]].
 
Na [[Escola Catequética de Alexandria]], Jerônimo ouviu [[Dídimo, o Cego]], ensinar sobre o [[profeta]] [[Oseias]] e contar o que se lembrava de [[Santo Antão]], que morrera trinta anos antes. Depois, passou algum tempo na [[Nítria]] admirando a disciplinada vida comunitária dos numerosos habitantes da ''"cidade do Senhor"'', percebendo que, mesmo ali, ''"serpentes escondidas"'', ou seja, a influência do polêmico teólogo alexandrino [[Orígenes]]. No final do verão de 388, voltou para a Terra Santa e passou o resto de sua vida numa cela eremítica perto de Belém rodeado por uns poucos amigos, homens e mulheres (incluindo Santa Paula e [[Eustóquia]]), a quem ele atendia como sacerdote e professor.
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| caption3 = ''Jerônimo escrevendo em seu estúdio'' de [[Peter Paul Rubens]]. Além do material de escrita, aparecem também o leão e a cor vermelha, característica do [[cardeal|cardinalato]].
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Jerônimo foi um acadêmico numa época que o título implicava fluência em grego, mas ele sabia também alguma coisa de hebraico quando começou seu projeto de tradução. Para reforçar seus conhecimentos, mudou-se para [[Jerusalém]] estudando os comentários judaicos sobre as Escrituras. Paula, a rica aristocrata romana que era uma de suas seguidoras, financiou sua estadia num mosteiro em Belém onde ele pôde concluir sua tradução. O trabalho começou em 382, com a correção da versão latina do [[Novo Testamento]] utilizada na época, a ''[[Vetus Latina]]''. Em 390, iniciou a tradução da [[Bíblia Hebraica]] a partir do original, tendo já traduzido algumas partes utilizando a ''[[Septuaginta]]'' grega originária de [[Alexandria]]. Jerônimo acreditava que o [[Concílio de Jâmnia]] - da corrente principal do [[judaísmo rabínico]] - havia rejeitado a ''Septuaginta'' como versão válida das Escrituras judaicas por conta do que ele aferiu serem erros de tradução e elementos [[heresia|heréticos]] [[helenismo|helenísticos]].<ref name="lxxshift">"{{citar web |título=Bible Translations - The Septuagint|url=http://www.jewishencyclopedia.com/articles/3269-bible-translations |editoratítulo=JewishEncyclopedia.comBible Translations - The Septuagint |acessodata=10 February -2-2012 |editora=JewishEncyclopedia.com}}</ref><ref name="ndq">Verband der Deutschen Juden (Hrsg.), neu hrsg. von Walter Homolka, Walter Jacob, Tovia Ben Chorin: Die Lehren des Judentums nach den Quellen; München, Knesebeck, 1999, Bd.3, S. 43ff</ref>. O trabalho terminou em 405.
 
Antes da ''Vulgata'' de Jerônimo, todas as traduções do Antigo Testamento eram baseadas na ''Septuaginta'' e não na Bíblia Hebraica. Porém, a decisão de utilizar esta ao invés daquela, que era também uma tradução do hebraico, como fonte foi contrária às recomendações da maioria dos cristãos de seu tempo, incluindo [[Santo Agostinho]], que considerava a ''Septuaginta'' [[Inspiração (religião)|inspirada]]. O consenso acadêmico moderno, porém, tem lançado dúvidas sobre o quanto Jerônimo de fato conhecia de hebraico e muitos acreditam que, na realidade, a "[[Hexapla]]" grega teria sido a principal fonte para a tradução ''"iuxta Hebraeos"'' de Jerônimo do Antigo Testamento.<ref>Pierre Nautin, article ''Hieronymus'', in: Theologische Realenzyklopädie, Vol. 15, Walter de Gruyter, Berlin - New York 1986, p}}</ref>.
 
Seus comentários [[patrística|patrísticos]] se alinham de forma muito próxima à tradição judaica e ele se entrega às sutilezas [[Interpretação alegórica da Bíblia|alegóricas]] e [[misticismo cristão|místicas]] no estilo de [[Fílon de Alexandria|Fílon]] e da "[[Escola de Alexandria]]". Ao contrário de seus contemporâneos, Jerônimo enfatizava a diferença entre os [[apócrifos]] da Bíblia Hebraica e os [[livros protocanônicos]] da ''Hebraica veritas'' ("verdeira [Bíblia] Hebraica"). Evidências disso aparecem em suas introduções para os apócrifos [[Salomão|salomônicos]] (como os "[[Salmos de Salomão]]") e os livros de [[Livro de Tobias|Tobias]] e [[Livro de Judite|Judite]]. Mais notável, porém, é sua afirmação na introdução de seu comentário aos [[Livros de Samuel]]:
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== Obras ==
{{Âncora|Obras históricas e hagiográficas}}
[[File:Hieronymus - Ordo seu regula vivendi Deo ad Eustochium, a di XXYIII de martio MCCCCLXXXXYIII - 2968573 Scan00016.tif|thumb|''Ordo seu regula''|esquerda]]
=== Obras históricas e hagiográficas ===
Jerônimo também é conhecido como historiador. Uma de suas primeiras obras sobre o tema foi sua ''[[Crônica (Jerônimo)|Crônica]]'' (ou ainda ''Temporum liber''), escrita por volta de 380 quando ele estava em [[Constantinopla]]. É uma tradução para o latim das tabelas cronológicas da segunda parte da ''[[Crônica (Eusébio)|Crônica]]'' de [[Eusébio de Cesareia]] com um suplemento cobrindo o período entre 325 e 379. Apesar dos diversos erros, alguns herdados de Eusébio e outros próprios, trata-se de uma obra valiosa, menos pelo conteúdo e mais pelo impulso que proporcionou para cronistas posteriores como [[Próspero da Aquitânia|Próspero]], [[Cassiodoro]] e [[Vítor de Tununa]], que continuaram complementando os anais.
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=== Epístolas ===
As [[epístola]]s de Jerônimo formam uma importante porção do que restou de suas obras literárias, tanto pela enorme variedade de temas quanto pela qualidade estilística. Independente de estar discutindo os problemas do ensino acadêmico ou argumentando em casos de consciência, reconfortando os aflitos ou apenas fazendo elogios aos amigos, atacando os vícios e corrupções de sua época ou a [[Pederastia na Grécia Antiga|imoralidade sexual]] no clero,<ref>"regulae sancti pachomii 84 rule 104.</ref>, exortando à vida asceta e a renúncia do mundo ou se digladiando com seus adversários, Jerônimo apresenta uma imagem vívida não apenas de sua mente, mas de sua época com características peculiares. Como não existia naquele tempo uma distinção entre documentos pessoais e públicos, frequentemente encontramos em suas cartas tanto confidências pessoais quanto tratados direcionados a terceiros lado a lado.<ref>W. H. Fremantle, "Prolegomena to Jerome," V.</ref>.
 
As mais frequentemente republicadas ou citadas são as [[modo imperativo|exortativas]], como ''"Ad Heliodorum de laude vitae solitariae"'' (Ep. 14), ''"Ad Eustochium de custodia virginitatis"'' (Ep. 22), ''"Ad Nepotianum de vita clericorum et monachorum"'' (Ep. 52), uma espécie de [[:wikt:epítome|epítome]] de [[teologia pastoral]] do ponto de vista ascético, ''"Ad Paulinum de studio scripturarum"'' (Ep. 53), de mesmo objetivo, ''De institutione monachi'' (Ep. 57), ''"Ad Magnum de scriptoribus ecclesiasticis"'' (Ep. 70) e ''"Ad Laetam de institutione filiae"'' (Ep. 107).
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== Legado ==
Jerônimo é o segundo autor mais prolífico do cristianismo antigo tardio (depois de [[Santo Agostinho]]). Na [[Igreja Católica]], ele é reconhecido como [[santo padroeiro]] dos tradutores, bibliotecários e enciclopedistas.<ref>{{citar web|autor=USA |url=http://lis.luther.edu/preus40th/jerome |título="St. Jerome: Patron Saint of Librarians &#124; Luther College Library and Information Services" |editora=Lis.luther.edu |data= |acessodata=2014-06-02}}</ref>.
 
=== Arte ===
Na arte, Jerônimo geralmente aparece representado como um dos quatro [[Doutor da Igreja|doutores]] latinos, juntamente com [[Santo Agostinho]], [[Santo Ambrósio]] e [[São Gregório Magno]]. Como um membro proeminente do clero romano, ele foi muitas vezes representado - anacronisticamente - com o hábito vermelho de [[cardeal]]. Mesmo quando ele aparece representado como um [[anacoreta]] semi-nu, com a [[cruz]], a caveira (símbolo da mortalidade) e a Bíblia como únicas mobílias de sua cela, o [[galero|chapéu cardinalício]] ou outro indicativo de sua posição de cardeal aparece, via de regra, em algum lugar da obra.
 
Jerônimo é também geralmente representado na companhia de um [[leão]], uma referência a uma conhecida lenda de como ele teria domado um leão ao curar um ferimento em sua pata. A origem da história, quase idêntica à contada sobre [[São Gerásimo]], foi possivelmente uma confusão entre os nomes em latim dos dois santos, ''"Gerasimus"'' e ''"Geronimus".''{{ref label2|a}}{{ref label2|b}}. Hagiografias de Jerônimo contam que ele passou muitos anos nos desertos da [[Síria romana]] e diversos artistas intitularam sua obras "São Jerônimo no Deserto", entre eles [[Pietro Perugino]] e [[Lambert Sustris]].<ref>{{citar web|url=http://www.catholic-saints.info/patron-saints/saint-jerome.htm |título=Saint Jerome in Catholic Saint info |editora=Catholic-saints.info |data= |acessodata=2014-06-02}}</ref>.
 
Ele é por vezes também representado com uma [[coruja]], o símbolo da sabedoria e da erudição.<ref name="NMSU">[http://artdepartment.nmsu.edu/faculty/zarursite/retablo/col-saints.html The Collection: St. Jerome] {{Wayback|url=http://artdepartment.nmsu.edu/faculty/zarursite/retablo/col-saints.html# |date=20121022221000 }}, gallery of the religious art collection of [[New Mexico State University]], with explanations. Accessed August 10, 2007.</ref>. Finalmente, a [[iconografia]] de São Jerônimo inclui ainda materiais de escrita (pena, tinteiro, papel etc.) e a [[trombeta]] do [[Juízo Final]].<ref name="NMSU"/>.
 
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