Nucleação
Nucleação é o primeiro passo na formação de qualquer nova fase termodinâmica ou uma nova estrutura através de auto-montagem ou de auto-organização.
A Nucleação é normalmente definida como sendo o processo que determina quanto tempo um observador tem que esperar antes de uma nova fase ou estrutura auto-organizada apareça. Nota-se que a nucleação é, frequentemente, muito sensível às impurezas no sistema. Devido a isso, muitas vezes é importante fazer a distinção entre a nucleação heterogênea e a nucleação homogênea. Nucleação heterogênea ocorre em locais de nucleação sobre as superfícies do sistema.[1][2][3] Nucleação homogênea ocorre longe de uma superfície.
Nucleação homogênea
editaré um fenômeno que ocorre quando um sistema inicialmente está em um estado de equilíbrio térmico estável se torna metaestável como resultado de flutuações térmicas, onde não é influenciada de maneira alguma por qualquer tipo de sólidos, isso inclui, as paredes do vaso cristalizador e partículas de qualquer substância estranha. Assumindo que os núcleos da fase sólida se formam no interior do líquido à medida que os átomos se aglomeram para formar um arranjo semelhante àquele encontrado no interior da fase líquida e que cada núcleo formado tenha um arranjo esférico, onde sua composição química não varia.Desta forma é possível determinar para um sistema que é passível de cristalização, abaixo da temperatura de fusão a energia livre da fase cristalina é menor do que a do líquido. Essa diferença de energia (∆G), que à temperatura de fusão de equilíbrio (Tm) é = 0, aumenta à medida que a temperatura diminui. Entretanto, ∆G = 0 à Tm ou G < O a uma temperatura menor, não significa que o líquido amorfo irá se cristalizar, isso significa que a cinética da transformação não é determinada apenas por ∆G, mas sim em função de dois parâmetros: um que envolvem a diferença de energia livre entre o estado sólido e o estado líquido e outro dependente da fronteira sólido-líquido, onde há uma importante contribuição da superfície interfacial que está sendo criada. A energia livre associada a esta superfície deve ser adicionada para se obter a variação total de energia livre, ou seja, a barreira termodinâmica a ser transposta na cristalização. Portanto, se considerarmos a formação de um embrião, a barreira termodinâmica para essa transformação será o resultado da soma dos dois fatores, diminuição da energia livre volumétrica por unidade de volume (G) e aumento da energia livre superficial específica σ[4][5]
(1)
As contribuições das energias livres de volume, de superfície e total estão traçadas em função de r. A energia livre volumétrica da fase cristalina é sempre menor do que a fase inicial, líquida, portanto, ∆Gv é sempre negativa e diminui proporcionalmente à terceira potência de r sendo ela responsável pela contribuição do 1º termo da Equação (1). Já a energia livre superficial específica da interface é sempre positiva e o 2º termo dessa mesma equação aumenta com um proporcionalmente à segunda potência. Consequentemente a curva associada à soma de ambos os termos inicialmente aumenta, passa por um valor máximo e decresce. O sentido físico para esse dado é que conforme uma partícula sólida começa a se formar como um aglomerado de átomos no interior do líquido, sua energia livre inicialmente aumenta. Se esse aglomerado atinge o tamanho correspondente ao raio crítico r*, o crescimento continuará acompanhado de uma diminuição da energia livre. Por outro lado, de o aglomerado não atingir o raio crítico r > r* ele estrará em equilíbrio com a fase líquida se dissolvendo. Essa partícula subcrítica é um embrião, enquanto a partícula de raio r* é o núcleo. Uma vez que r *e ∆G* são máximos de uma curva pode-se obter:[6][7]
, (3) Agora substituindo (3) em (1)
Essa variação na energia livre de volume ∆G*é a força motriz para a transformação durante a solidificação e sua magnitude é uma função da temperatura. O crescimento só é possível para embriões com tamanho mínimo igual àquele de raio crítico, uma vez que o seu crescimento propicia a diminuição no valor de G. Somente então, o embrião é considerado como núcleo da nova fase. O valor do raio crítico r* varia com o super-resfriamento (∆T = Tm -T) quanto maior este, menor é o tamanho crítico do núcleo, já que maior é a diferença da energia livre volumétrica entre o líquido e o sólido. A Nucleação Homogênea ocorre quando o super-resfriamento é apenas o suficiente para permitir que o embrião supere o tamanho crítico, e assim promova a cristalização.[7]
Nucleação Heterogênea
editarEmbora os níveis de super-resfriamento para nucleação homogênea possam ser significativos, em situações práticas eles não são. A razão para esse fato decorre que a barreia energética, energia de ativação, para nucleação é diminuída quando os núcleos se formam sobre superfícies ou interfaces preexistentes, na prática, a nucleação heterogênea sobre superfícies ocorre com muito maior frequência do que a nucleação homogênea. Tais superfícies podem ser as do recipiente que contém o líquido ou as de partículas de impurezas ou de materiais introduzidos deliberadamente. Para compreender esse fenômeno, deve-se considerara nucleação de uma partícula sólida sobre uma superfície plana a partir de uma fase líquida. Nestes casos, um raio de curvatura maior do que o raio crítico é possível com uma energia interfacial líquido-sólido bem menor do que aquela da nucleação homogênea. Portanto, abarreira termodinâmica é reduzida pela presença de superfícies facilmente "molhadas" pelo líquido e pelo sólido, sendo neste caso dada por:[7][8]
onde V é o volume do embrião (núcleo), a área da superfície na interface embrião-líquido, o raio do embrião e σel, σie, σil são as tensões superficiais nas interfaces embrião-líquido, embrião-impureza e impureza-líquido, respectivamente.
Como , então
Na nucleação heterogênea, o valor de σ é bem menor do que a na nucleação homogênea, de forma que o tamanho crítico do núcleo é também menor. Além disso, como se pode verificar na Figura 3, um número muito menor de átomos ou moléculas são necessários para a formação de uma partícula sólida (núcleo) com tamanho mínimo para o crescimento. Assim, a nucleação heterogênea ocorre mais facilmente com menores super-resfriamentos.[8][9]
Teoria de nucleação
editarTeoria Clássica da Nucleação (CNT)
editaré o modelo teórico mais comum usado para entender a nucleação de uma nova fase termodinâmica, como um líquido ou sólido. É uma teoria aproximada, que fornece uma previsão razoável das taxas de nucleação. A CNT deriva do trabalho de Volmer e Weber, Becker e Döring e Frenkel. É baseada na condensação de vapor em um líquido que pode ser estendido a outros sistemas de equilíbrio líquido-sólido, como cristalização de derretimentos e soluções também. A mudança na energia livre do sistema durante a nucleação homogênea de um núcleo esférico de raio é dada por[10][11]
onde o primeiro termo representa a contribuição feita para ΔG por energia livre do bulk, representa o número de moléculas em um cluster de raio r com o volume de uma única molécula como , é a razão de supersaturação do vapor, é a energia superficial específica da interface entre a gota e o vapor. Para o núcleo de maior, o primeiro termo domina levando à diminuição de ΔG, pois representa a diminuição de energia na transição do vapor para o líquido. Quando r é menor, o segundo termo domina, o que representa a criação de uma nova superfície que leva ao aumento de ΔG . Assim, dois termos na equação acima dependem diferentemente de r e, portanto, a energia livre ΔG da formação passa por um máximo = r* , em que é o raio do núcleo crítico no qual a probabilidade de formação de um núcleo passa por um mínimo . Diferenciar esta equação em relação a r para encontrar r* dá r*= , e a barreira à nucleação é dada pela equação[10]
O núcleo crítico está em equilíbrio metaestável com o vapor, e a adição de moléculas diminui a energia livre; portanto, esses núcleos são mais prováveis. A taxa de nucleação,J (número de núcleos por unidade de volume por unidade de tempo) pode ser expressa na forma da equação da velocidade da reação de Arrhenius,
onde A é o pré-fator determinado a partir de considerações cinéticas,K é a constante de Boltzmann e T é a temperatura. Substituindo a barreira crítica de nucleação ΔG* em uma dada supersaturada na expressão final para a taxa de nucleação J, como
A energia livre de formação do cluster, seu tamanho e a taxa são os parâmetros principais na pesquisa de nucleação. O tamanho do núcleo crítico foi aproximado por vários autores usando experimentos e estudos de simulações. O número de moléculas que constituem os núcleos críticos geralmente cai na faixa de 10 a 1000 moléculas.
Algumas das suposições simplificadoras da CNT são:
(a) o núcleo pode ser descrito com as mesmas propriedades macroscópicas (densidade, estrutura, composição) da fase estável;
(b) o núcleo é esférico e a interface entre o núcleo e a solução é um limite nítido e
(c) a interface vapor-líquido é aproximada como plana, independentemente do tamanho crítico do cluster.
Isso é conhecido como aproximação capilar e pode ser razoável para grandes aglomerados, mas para pequenos aglomerados a superfície é altamente curva e a aproximação leva a grandes discrepâncias. A suposição de forma esférica também não é válida como no caso do NaCl, que produz núcleo em forma cúbica. Além disso, se o polimorfismo é esperado para um sistema, ele pode não necessariamente se nuclear na forma estável, mas passa por um caminho no qual a barreira de energia livre é mínima, o que não é levado em consideração pela CNT. Embora a teoria seja capaz de capturar a física subjacente dos fenômenos e fornecer uma boa interpretação qualitativa dos dados de nucleação, sua falha em fornecer uma descrição quantitativa correta levou à falha da CNT para uma variedade de sistemas. Outra falha da teoria é que ela é incapaz de explicar a nucleação em fuga barreira em supersaturações altas. Apesar de várias extensões e desenvolvimentos em abordagens teóricas, a CNT ainda serve como uma plataforma para descrever a nucleação, uma vez que se baseia em informações acessíveis experimentalmente. Embora forneça estimativas razoáveis de supersaturações críticas e taxas de nucleação para alguns sistemas, como a água, experimentos em vários sistemas revelaram as deficiências na capacidade preditiva da CNT, o que será discutido na próxima seção[4][7][10]
Características
editarA nucleação é geralmente um processo estocástico (aleatório), portanto, mesmo em dois sistemas idênticos, a nucleação ocorrerá em momentos diferentes.[12][13][14] Esse comportamento é semelhante ao decaimento radioativo.
Uma equipe de pesquisa usou um microscópio eletrônico de última geração, que criou imagem de uma amostra usando elétrons. A amostra é girada, e da mesma maneira que uma tomografia computadorizada gera uma radiografia tridimensional do corpo humano, a tomografia eletrônica atômica cria imagens 3D de átomos dentro de um material. Pela primeira vez, em 2019, os cientistas capturaram movimento atômico em 4D[15]
Exemplos
editar- Nuvens se formam quando o ar úmido se resfria (muitas vezes porque o ar está subindo) e muitas pequenas gotas de água nucleam a partir do ar super saturado.[1] A quantidade de vapor de água que o ar pode transportar diminui com temperaturas mais baixas. O excesso de vapor começa a nuclear e forma pequenas gotículas de água que formam uma nuvem. Nucleação das gotículas de água líquida é heterogênea, ocorrendo em partículas conhecidas como núcleos de condensação de nuvens. A semeadura de nuvens é o processo de adição de núcleos de condensação artificiais para acelerar a formação de nuvens.
- A nucleação é o primeiro passo na cristalização, de modo que determina se um cristal pode se formar. Frequentemente cristais não formam-se mesmo quando eles são o estado termodinamicamente favorecido. Por exemplo, pequenas gotas de água muito pura pode permanecer líquidas quando abaixo de -30 °C, embora gelo seja o estado estável abaixo de 0 °C.[1]
- Bolhas de dióxido de carbono nucleam logo após a pressão ser liberada a partir de um recipiente de líquido carbonatado. Nucleação muitas vezes ocorre mais facilmente em uma interface preexistente (nucleação heterogênea), como acontece em lascas de ebulição (boiling chips) e cordão usado para fazer doces de rocha (rock candy).
- ↑ a b c Pruppacher, Hans R.; Klett, James D. (1997). Microphysics of Clouds and Precipitation (em inglês). Dordrecht, Países Baixos: Kluwer Academic Publishers. 954 páginas. ISBN 0-7923-4211-9
- ↑ Pruppacher, Hans R.; Klett, James D. (2012). Microphysics of Clouds and Precipitation: Reprinted 1978 (em inglês). Dordrecht, Países Baixos / Boston, EUA / Londres, Inglaterra: D. Reidel Publishing Company,1978; Springer Science & Business Media, 2012. ISBN 9789400999053. doi:10.1007/978-94-009-9905-3
- ↑ Wendisch, Manfred (1999). «H. R. Pruppacher and J. D. Klett, Microphysics of Clouds and Precipitation». Journal of Atmospheric Chemistry. 32 (3): 420-422. doi:10.1023/A:1006136611623
- ↑ a b Rethwisch, David G. (2000). Ciência e engenharia de materiais : uma introdução (8a. ed.). [S.l.]: Grupo Gen - LTC. ISBN 978-85-216-2150-8. OCLC 923758057
- ↑ Fisher, J. C.; Hollomon, J. H.; Turnbull, D. (1 de agosto de 1948). «Nucleation». Journal of Applied Physics. 19 (8): 775–784. ISSN 0021-8979. doi:10.1063/1.1698202
- ↑ Fladerer, Alexander; Strey, Reinhard (28 de abril de 2006). «Homogeneous nucleation and droplet growth in supersaturated argon vapor: The cryogenic nucleation pulse chamber». The Journal of Chemical Physics (em inglês). 124 (16). 164710 páginas. ISSN 0021-9606. doi:10.1063/1.2186327
- ↑ a b c d Callister, William D., Jr., 1940-. Materials science and engineering : an introduction 10th edition ed. Hoboken, NJ: [s.n.] ISBN 978-1-119-40549-8. OCLC 992798798
- ↑ a b Fletcher, N. H. (1 de setembro de 1958). «Size Effect in Heterogeneous Nucleation». The Journal of Chemical Physics. 29 (3): 572–576. ISSN 0021-9606. doi:10.1063/1.1744540
- ↑ Liu, X. Y. (31 de maio de 2000). «Heterogeneous nucleation or homogeneous nucleation?». The Journal of Chemical Physics. 112 (22): 9949–9955. ISSN 0021-9606. doi:10.1063/1.481644
- ↑ a b c Andreassen, Jens-Petter; Lewis, Alison Emslie (22 de dezembro de 2016). «Classical and Nonclassical Theories of Crystal Growth». Cham: Springer International Publishing: 137–154. ISBN 978-3-319-45667-6
- ↑ Sear, Richard P (24 de janeiro de 2007). «Nucleation: theory and applications to protein solutions and colloidal suspensions». Journal of Physics: Condensed Matter. 19 (3). 033101 páginas. ISSN 0953-8984. doi:10.1088/0953-8984/19/3/033101
- ↑ H. R. Pruppacher and J. D. Klett, Microphysics of Clouds and Precipitation, Kluwer (1997).
- ↑ Sear, R.P. (2007). «Nucleation: theory and applications to protein solutions and colloidal suspensions» (PDF). Journal of Physics: Condensed Matter. 19 (3): 033101. Bibcode:2007JPCM...19c3101S. CiteSeerX 10.1.1.605.2550 . doi:10.1088/0953-8984/19/3/033101
- ↑ Sear, Richard P. (2014). «Quantitative Studies of Crystal Nucleation at Constant Supersaturation: Experimental Data and Models». CrystEngComm. 16 (29): 6506–6522. doi:10.1039/C4CE00344F
- ↑ [https://www.techexplorist.com/first-time-scientists-captured-atomic-motion-4d/24412/ For the first time, scientists captured atomic motion in 4D Results of UCLA-led study contradict a long-held classical theory. por Ashwini Sakharkar (2019)