Muslim ibne Saíde Alquilabi
Muslim ibne Saíde Aslã ibne Zurá ibne Anre ibne Cuailide Açaique Alquilabi (Muslim ibn Sa'id ibn Aslam ibn Zur'ah ibn Amr ibn Khuaylid al-Sa'iq al-Kilabi), melhor conhecido apenas como Muslim ibne Saíde Alquilabi (em árabe: مسلم بن سعيد الكلابي), foi governador do Coração pelo Califado Omíada em 723-724. É mais conhecido por seus esforços para conciliar a população nativa da Transoxiana e pela grande derrota militar no "Dia da Sede" contra o Grão-Canato Turguexe.
Vida
editarMuslim tinha uma ascendência distinta: seu avô Aslã serviu como governador do Coração em 671-675, e seu pai Saíde era partidário do poderoso governador do Iraque, Alhajaje ibne Iúçufe, que recompensou sua lealdade nomeando-o governador de Macrão. Quando seu pai foi morto durante seu governo, Muslim foi criado como filho adotivo por Alhajaje, ao lado de seus próprios filhos.[1] Seu primeiro posto oficial foi como subgovernador provincial do governador de Baçorá, Adi ibne Artate, e teria se saído bem. Durante a rebelião de Iázide ibne Almoalabe em 720, fugiu para a Síria levando consigo as receitas fiscais da província.[2]
Muslim tornou-se companheiro do governador do Iraque, Omar ibne Hubaira, que em 722/723 o nomeou governador do Coração, substituindo Saíde ibne Anre Alharaxi.[3][4] Assumiu o cargo num momento delicado, já que a agitação generalizada entre as populações nativas iranianas e turcas da recém-conquistada Transoxiana foi brutalmente reprimida por Alharaxi.[5][6] Ao indicá-lo para o cargo, ibne Hubaira o aconselhou a buscar a conciliação com as populações nativas, e especialmente com os convertidos (mauali). Na verdade, Alquilabi nomeou oficiais que seriam aceitáveis para os locais, como Barã Sis, um zoroastrista que foi nomeado marzobã de Merve.[3][7]
No ano seguinte, resolveu lançar uma expedição com o objetivo de capturar o vale de Fergana, que havia sido perdido durante os distúrbios dos anos anteriores. A campanha enfrentou dificuldades já em seus estágios iniciais, quando chegaram as notícias da ascensão de um novo califa, Hixame ibne Abedal Maleque, e da nomeação de um novo governador do Iraque, Calide Alcáceri. Isso trouxe à tona as rivalidades tribais de longa data dos árabes do Coração: as tropas iemenitas (árabes do sul) em Balque inicialmente se recusaram a se juntar à campanha, pois esperavam a retirada iminente de Alquilabi (que era de origem árabe do norte) pelo novo regime.[a] Somente depois que Nácer ibne Saiar liderou uma força de modaritas (árabes do norte) contra eles e os derrotou em Barucã, os iemenitas se juntaram ao exército de Alquilabi. A campanha acabou avançando quando Calide Alcáceri escreveu a Alquilabi, instando-o a prosseguir até que seu substituto, o irmão de Calide, Assade, chegasse ao Coração.[3][8][9]
Alquilabi moveu seu exército até o vale de Jaxartes para Fergana e sitiou seu assentamento principal, mas as notícias da aproximação turguexe o forçou a recuar rapidamente para o sul.[3][10][11] Depois de vários dias, com os turguexes em sua perseguição, o exército omíada encontrou seu caminho bloqueado pelos príncipes nativos que se aliaram aos turguexes. No chamado "Dia da Sede", os árabes foram forçados a romper as linhas inimigas para cruzar o Jaxartes e chegar a um local seguro, sofrendo pesadas baixas no processo. Alquilabi entregou a liderança do exército a Abederramão ibne Naim Algamidi, que liderou os remanescentes do exército de volta a Samarcanda.[12][13] Este desastre levou ao colapso quase total do domínio muçulmano na Transoxiana nos anos seguintes.[14] Alguns dos árabes coraçanes teriam açoitado Muslim após sua demissão, por seu papel em causar a batalha em Barucã, mas Algamidi intercedeu para fazê-los parar.[15] Seu sucessor, Assade Alcáceri, o tratou bem e permitiu que ele retornasse ao Iraque.[16]
- ↑ Crone 1980, p. 138.
- ↑ Powers 1989, p. 187.
- ↑ a b c d Gibb 1923, p. 65.
- ↑ Powers 1989, p. 183, 187–188.
- ↑ Blankinship 1994, p. 125–126.
- ↑ Gibb 1923, p. 61–65.
- ↑ Hillenbrand 1989, p. 24 (nota 24).
- ↑ Blankinship 1989, p. 10–11, 13–14.
- ↑ Blankinship 1994, p. 126.
- ↑ Blankinship 1989, p. 14–15.
- ↑ Blankinship 1994, p. 126–127.
- ↑ Blankinship 1989, p. 15–16.
- ↑ Gibb 1923, p. 65–66.
- ↑ Blankinship 1994, p. 127.
- ↑ Blankinship 1989, p. 22.
- ↑ Blankinship 1989, p. 25.
Bibliografia
editar- Blankinship, Khalid Yahya (1989). The History of al-Ṭabarī, Volume XXV: The End of Expansion: The Caliphate of Hishām, A.D. 724–738/A.H. 105–120. SUNY Series in Near Eastern Studies. Albânia, Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Nova Iorque. ISBN 978-0-88706-569-9
- Blankinship, Khalid Yahya (1994). The end of the jihâd state: the reign of Hisham ibn ‘Abd al-Malik and the collapse of the Umayyads (em inglês). Albânia, Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Nova Iorque. ISBN 0-7914-1827-8
- Crone, Patrícia (1980). Slaves on horses: the evolution of the Islamic polity. Cambrígia e Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Cambrígia. ISBN 0-521-52940-9
- Gibb, H. A. R. (1923). The Arab Conquests in Central Asia. Londres: Sociedade Real Asiática
- Hillenbrand, Carole (1989). The History of al-Ṭabarī, Volume XXVI: The Waning of the Umayyad Caliphate: Prelude to Revolution, A.D. 738–744/A.H. 121–126. SUNY Series in Near Eastern Studies. Albânia, Nova Iorque: Imprensa da Universidade de Nova Iorque. ISBN 978-0-88706-810-2
- Powers, David Stephan (1989). The History of al-Ṭabarī, Volume XXIV: The Empire in Transition. The Caliphates of Sulaymān, ʿUmar, and Yazīd, A.D. 715–724/A.H. 96–105. Albânia, Nova Iorque: Imprensa da Universidade Estadual de Nova Iorque. ISBN 0-7914-0072-7