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Mescalina

composto químico

A mescalina (3,4,5-trimetoxifeniletilamina) é um alucinógeno natural encontrado no cacto peiote (Lophophora williamsii), nos cactos São Pedro (Echinopsis pachanoi e Echinopsis peruviana), no cacto Echinopsis lageniformis e no cacto Echinopsis scopulicola.[2][3]

Mescalina
Mescalina
Componentes ativos Mescalina
Uso Medicinal e recreativo
Condição jurídica F2[1]

História

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A mescalina era usada, inicialmente, em rituais e práticas etnomédicas de várias tribos pré-colombianas.[4][5]

Ela foi isolada em 1896, por Arthur Heffter, e sintetizada em 1919, por Ernst Späth.[6][7] Havelock Ellis descreveu a utilização do cacto Anhalonium Lewinii, ou botão de mescal, por índios Kiowa do Novo México em 1898, num artigo intitulado "Mescal: um novo paraíso artificial.[8] Seus efeitos psicofisiológicos na mente humana foram descritos como resultantes da ação de uma substância alucinógena em 1927 por Ernst Spath, que sintetizou o elemento ativo desse cacto, a mescalina, em laboratório em 1919, publicando em seguida o mais extenso estudo sobre ela, "Der Meskalinrausch" (The Mescaline High), em 1927.[9][10]

Por volta da década de 60 ela torna se popular, impulsionada pela obra de Carlos Castañeda que descreve seu uso entre os índios Yaquis. A obra As Portas da Percepção de Aldous Huxley, 1954, também teve como base os estudos descritivos dos efeitos dessa substância na mente humana. A utilização indígena, por sua vez, apesar de proibida e combatida pela igreja e governo americano, sofreu contínua expansão até a consolidação e reconhecimento jurídico da Native American Church.[11]

Posteriormente se descobriu que algumas espécies de cactos (da tribo Trichocereeae, gênero Echinopsis), utilizadas por curandeiros da região andina, também contém mescalina, em especial as espécies Echinopsis pachanoi, Echinopsis peruviana e Echinopsis lageniformis. A faixa de concentração de mescalina em espécies cultivadas de Echinopsis, situa-se de a partir de 0,053% até 4,7% em peso seco.[12]

Efeitos

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Peiote cacto
 
Echinopsis pachanoi, San Pedro em seu natural habitat no Peru
 
Botões de peiote secos

Efeitos que podem ocorrer com o consumo da droga.[13][14][15]

  • Sentimento de Introspecção.
  • Brilho mais intenso das cores.
  • Alucinações visuais de olhos abertos e fechados.
  • Sinestesia (consiste na mistura entre os sentidos sensoriais. Ex: cheirar uma cor ou ouvir um gosto).
  • Euforia.
  • Risadas.
  • Aumento da energia corporal (Estimulante).
  • Tato mais intenso
  • Sensações felizes e de estar sonhando.
  • Sensações de esperança e rejuvenescimento
  • Aumento da percepção espiritual, experiências esotéricas profundas
  • Mudança na consciência.
  • Perda de apetite.
  • Mudança na temperatura corporal.
  • Pensamentos e fala incomuns.
  • Atenção incomum em pequenos detalhes ou grandes conceitos; mudanças no significado ou significância das experiências.
  • De leve a extrema deficiência de atenção.
  • Mudanças na percepção de tempo
  • Mudanças na percepção da realidade.
  • Mudanças no autocontrole
  • Sensações corporais incomuns
  • Leveza do Ego
  • Dilatação das pupilas.
  • Vasodilatação.
  • Tremores corporais.
  • Necessidade de urinar (no começo da experiência, provavelmente devido à forma de ingestão)
  • Cansaço
  • Náusea e/ou vômitos.
  • Dores no pescoço e opressão física no peitoral (durante o começo da experiência).
  • Falta de ar.
  • Mudanças desconfortáveis na temperatura (calafrios/suor).
  • Confusão, dificuldade na concentração e problemas com atividades que requerem atenção linear.
  • Dificuldade na comunicação.
  • Inibição da libido.
  • Insônia.
  • Visões desagradáveis ou assustadoras.
  • Pensamentos indesejáveis, impressionantes, inclusive: depressão, ansiedade.
  • Paranoia, medo e pânico.

Na descrição de Aldous Huxley: (1) a capacidade de lembrar-se e raciocinar corretamente não sofre redução perceptível; (2) as percepções visuais tornam-se grandemente intensificadas, desligando-se o percebido (senso) descrição conceptual automática, reduzindo-se também o interesse por exploração do espaço; (3) reduz-se a inquietação e a atividade motora voluntária; (4) Ocorrem percepções sucessivas e simultâneas do exterior / interior isenta de angústias.[16]

Ver também

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Commons 
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O Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Mescalina
Referências
  1. Anvisa (24 de julho de 2023). «RDC Nº 804 - Listas de Substâncias Entorpecentes, Psicotrópicas, Precursoras e Outras sob Controle Especial» [Collegiate Board Resolution No. 804 - Lists of Narcotic, Psychotropic, Precursor, and Other Substances under Special Control]. Diário Oficial da União (publicado em 25 de julho de 2023). Consultado em 27 de agosto de 2023. Cópia arquivada em 27 de agosto de 2023 
  2. Ogunbodede, Olabode; McCombs, Douglas; Trout, Keeper; Daley, Paul; Terry, Martin (15 de setembro de 2010). «New mescaline concentrations from 14 taxa/cultivars of Echinopsis spp. (Cactaceae) ("San Pedro") and their relevance to shamanic practice». Journal of Ethnopharmacology (em inglês) (2): 356–362. ISSN 0378-8741. doi:10.1016/j.jep.2010.07.021. Consultado em 9 de julho de 2022 
  3. «Mescaline in Trichocereus». The Mescaline Garden (em inglês). Consultado em 26 de agosto de 2024 
  4. «Prehistoric peyote use: Alkaloid analysis and radiocarbon dating of archaeological specimens of Lophophora from Texas». Journal of Ethnopharmacology (em inglês) (1-3): 238–242. 3 de outubro de 2005. ISSN 0378-8741. doi:10.1016/j.jep.2005.04.022. Consultado em 20 de julho de 2021 
  5. Bussmann, Rainer W; Sharon, Douglas (7 de novembro de 2006). «Traditional medicinal plant use in Northern Peru: tracking two thousand years of healing culture». Journal of Ethnobiology and Ethnomedicine. 47 páginas. ISSN 1746-4269. PMC 1637095Acessível livremente . PMID 17090303. doi:10.1186/1746-4269-2-47. Consultado em 20 de julho de 2021 
  6. Heffter, Arthur. Ueber Pellote – Beiträge zur chemischen und pharmakologischen Kenntniss der Cacteen Zweite Mittheilung. Naunyn-Schmiedeberg's Archives of Pharmacology, Vol. 40, Nr. 5-6, pp. 385–429, 1898
  7. Bender, Eric (28 de setembro de 2022). «Finding medical value in mescaline». Nature (em inglês) (7929): S90–S91. doi:10.1038/d41586-022-02873-8. Consultado em 18 de dezembro de 2022 
  8. Havelock Ellis, Mescal: a new artificial paradise
  9. Späth, Ernst. Über die Anhalonium-Alkaloide I. Anhalin und Mezcalin. Monatshefte für Chemie - Chemical Monthly, Vol. 40, Nr. 2, pp. 129–154, 1919
  10. Trenary, Klaus. History Of Mescaline (Drug Information Arquivado em 7 de outubro de 2009, no Wayback Machine. Dez. 2010; Mycotopia Jun 2011)
  11. Lanternari, Vittorio. As religiões dos oprimidos. SP, Perspectiva, 1974
  12. Ogunbodedea,Olabode; McCombsa, Douglas; Troutb, Keeper; Daleyc, Paul; Terrya, Martin. New mescaline concentrations from 14taxa/cultivars of Echinopsis spp. (Cactaceae) (“SanPedro”)and their relevance to shamanic practice. Journal of Ethnopharmacology, 131(2), 356-362
  13. Anderson E. Peyote: the Divine Cactus. University of Arizona Press. 1996.
  14. Peyote Effects Erowid Experience Reports. Erowid.org
  15. Agin-Liebes, Gabrielle; Haas, Trevor F.; Lancelotta, Rafael; Uthaug, Malin V.; Ramaekers, Johannes G.; Davis, Alan K. (9 de abril de 2021). «Naturalistic Use of Mescaline Is Associated with Self-Reported Psychiatric Improvements and Enduring Positive Life Changes». ACS Pharmacology & Translational Science (em inglês) (2): 543–552. ISSN 2575-9108. PMC PMC8033766Acessível livremente  Verifique |pmc= (ajuda). PMID 33860184. doi:10.1021/acsptsci.1c00018. Consultado em 31 de julho de 2022 
  16. Huxley, Aldous. As portas da percepção e O céu e o inferno. RJ. Civilização Brasileira, 1954 (1965) p.12-13

Ligações externas

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