Como Desenhar um Círculo Perfeito
How to Draw a Perfect Circle (título alternativo português: Como Desenhar um Círculo Perfeito) é um filme português de género drama de 2009, realizado por Marco Martins a partir de um argumento de Martins e Gonçalo M. Tavares.[1] A longa-metragem é protagonizada por Rafael Morais, no papel de Guilherme, um adolescente obsessivo com dificuldade em gerir emocionalmente a separação dos pais e a rejeição dos seus avanços sexuais pela irmã gémea (interpretada por Joana de Verona).[2]
How to Draw a Perfect Circle | |
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Como Desenhar um Círculo Perfeito (prt) | |
Portugal 2009 • cor • 95 min | |
Género | drama |
Direção | Marco Martins |
Produção | António da Cunha Telles Pandora da Cunha Telles |
Roteiro | Marco Martins Gonçalo M. Tavares |
Elenco | Rafael Morais Joana de Verona Daniel Duval Beatriz Batarda |
Música | Bernardo Sassetti |
Cinematografia | Carlos Lopes |
Direção de arte | Artur Pinheiro |
Edição | João Braz Richard Marizy |
Companhia(s) produtora(s) | Ukbar Filmes |
Lançamento | 25 de setembro de 2009 (Festival do Rio) 6 de maio de 2010 |
Idioma | português francês |
A produção estreou a 25 de setembro de 2009 na secção Panorama do Cinema Mundial do Festival do Rio.[3] Comercialmente, How to Draw a Perfect Circle foi lançado nos cinemas de Portugal a 6 de maio de 2010.[4]
Sinopse
editarGuilherme, de 16 anos, vive numa mansão em estado decadente no centro de Lisboa, com a sua irmã gémea, Sofia, e a sua mãe, Leonor. A rotina e constantes viagens de negócios de Leonor implicam que se ausente frequentemente, permitindo que a disfuncionalidade familiar se cimente. Assim, os gémeos foram crescendo habituados a contar apenas um com outro, assumindo as responsabilidades de cuidado da casa.[5]
Ultimamente, os gémeos têm despertado mais para o amor e sexualidade. Em criança, Sofia havia prometido a sua virgindade a Guilherme. O adolescente entrega-se a pensamentos obsessivos que o levam a tentar cumprir essa promessa. Mas Sofia rejeita-o, quer emancipar-se, e nem os desenhos de círculo perfeito à mão levantada do irmão a fazem mudar de ideias. Sentindo-se isolado, tão apaixonado quanto magoado, Guilherme persegue Sofia até a descobrir a visitar um outro rapaz para sexo.[6]
Guilherme procura refúgio na casa do seu pai, um escritor francês sem sucesso, tão absorto na sua arte que nunca se preocupou em aprender português. O homem revela-se mergulhado em álcool e numa crise existencial. Quando o adolescente assimila que a vida não é perfeita, decide regressar a casa da mãe. Ao reencontrar Sofia, a jovem permite que se cumpra a promessa.[7]
Elenco
editar- Rafael Morais, como Guilherme.
- Joana de Verona, como Sofia.
- Daniel Duval, como Paul.
- Beatriz Batarda, como Leonor.[8]
- Lourdes Norberto, como Clara.
- João Pedro Vaz, como Vizinho.
- Albano Jerónimo, como Jorge.
Equipa técnica
editar- Realização: Marco Martins;
- Argumento: Gonçalo M. Tavares e Marco Martins;[9]
- Direção de fotografia: Carlos Lopes;
- Direção de arte: Artur Pinheiro;[10]
- Figurinos: Sílvia Grabowski;
- Música original: Bernardo Sassetti;
- Montagem: João Braz e Richard Marizy;
- Som: Pedro Melo;
- Montagem e mistura de som: Elsa Ferreira e Branko Neskov;[11]
- Produtores: António da Cunha Telles e Pandora da Cunha Telles.
Produção
editarHow to Draw a Perfect Circle é uma produção das empresas Ukbar Filmes e Filmes de Fundo. Contou com a participação financeira do Instituto do Cinema e Audiovisual, RTP, bom como do Fundo de Investimento para o Cinema e o Audiovisual, o que representou um orçamento de cerca de 1,3 milhões de euros.[12]
Desenvolvimento
editarApós o mediatismo de Alice, Marco Martins quis criar um filme que não fosse comparável, com uma temática e estética distintas. O cineasta trabalhou sozinho nas primeiras versões do argumento até ter convidado o escritor Gonçalo M. Tavares para colaborar consigo no mesmo: "Havia um lado pesado e quase sujo na minha história que era diferente do universo do Alice e que acho que se conectava muito com ele. Ele é meu vizinho, costumamos tomar café juntos, foi muito fácil".[13] Durante o processo de escrita do filme, o cineasta viu um vídeo de um professor de geometria descritiva em Ottawa (Canadá), que desenhava um círculo perfeito à mão levantada. Intrigado pela imagem e desejando integrá-la na obra, Martins decidiu deslocar-se ao país para o conhecer. Apesar de considerar que cenas de sexo em cinema são geralmente evitáveis, Marco Martins decidiu incluir uma no momento climático do argumento de How to Draw a Perfect Circle, defendendo que a mesma motiva uma modificação psicológica profunda nos protagonistas.[14]
Casting
editarA seleção dos atores foi um processo longo até o final de 2007, nomeadamente para o papel de Guilherme, que envolveu o casting de 400 candidatos.[15] Segundo o realizador, a escolha de Rafael Morais motivou alguns ajustes do guião: "No início o Guilherme era uma personagem mais andrógena, com uma sexualidade mais dúbia, depois achei que era mais interessante ter um jovem homem e construir uma história com uma tensão sexual mais forte, mais explícita".[13]
Marco Martins escreveu o papel de Paul inspirando-se no que conhecia acerca da história de vida do ator francês Daniel Duval e decidiu enviar-lhe o argumento. Duval recebeu o guião de How to Draw a Perfect Circle em Paris e interessou-se logo pelo projeto, em parte, por conseguir rever-se no mesmo: "Normalmente demoro dias, ou semanas, a ler um guião, e neste caso li de uma vez só. Achei soberbo. Recebo muitos guiões, mas é raro encontrar um assim".[13]
Rodagem
editarAs gravações decorreram ao longo de 11 semanas, no primeiro trimestre de 2008, em cenários como Prior Velho, Baixa, Chiado e Sintra, para além da mansão da família de Guilherme e Sofia na zona de Benfica.[12] Rafael Morais e Joana Verona, ambos com 20 anos no período de rodagem, não se conheciam, mas segundo Morais, "passámos muito tempo juntos, a falar e ensaiar e a química entre nós criou-se facilmente".[16]
Temas e estética
editarNotam-se alguns apontamentos estilísticos que sugerem uma continuidade artística deste filme com a primeira longa-metragem de Martins: de novo o cineasta explora um protagonista obsessivo numa Lisboa invernal e sombria. Mas se Alice era um filme sobre Lisboa, How to Draw a Perfect Cicle encerra-se, tal como o protagonista, em espaços fechados, cuja predominância torna a obra mais claustrofóbica.[17] Comparando as obras, Marco Martins afirmou: "O Alice tem um lado mais ingénuo de primeiro filme e este é mais maduro, mais estável que coloca muitas questões sobre a família, a sexualidade na adolescência."[16]
Distribuição
editarEsta segunda longa-metragem de Marco Martins foi selecionada para edição de 2009 do Festival do Rio, onde estreou a a 25 de setembro na secção Panorama do Cinema Mundial.[18] Em Portugal, distribuída pela Zon Lusomundo, a obra estreou comercialmente a 6 de maio de 2010.[4] Neste ano, How to Draw a Perfect Circle foi também selecionado para 7º IndieLisboa (Portugal, onde foi exibido a 30 de abril)[19] e o European Union Film Festival (Canadá, 9 de dezembro).[20]
Receção
editarAudiência
editarEm Portugal, How to Draw a Perfect Circle totalizou 2.238 espectadores nas salas de cinemas, no seu ano de estreia.[21]
Crítica
editarA crítica especializada, de maneira geral, comentou How to Draw a Perfect Circle em comparação direta com Alice, considerando-a uma obra longe da qualidade da de 2005. Jorge Mourinha, na Ípsilon, encontra alguma determinação narrativa em How to Draw a Perfect Circle, mas denota que é menos coesa e menos intensa visualmente que Alice.[22] João Miranda (C7nema), numa crítica ao filme, defende que o mesmo sofre pelo modo como se rende a clichés repetidos no cinema nacional: "temos os edifícios delapidados, a família disfuncional, o Cais do Sodré, o sexo despropositado, incesto e outros afins".[19]
Rui Madureira (Portal Cinema) elogia o trabalho de direção de atores de Marco Martins e a consequente performance de Rafael Morais e Joana de Verona ("os jovens actores oferecem-nos a interpretação de uma vida e de uma carreira artística"), mas repara que o filme peca pelo ritmo demasiado lento.[23] Fabricio Duque (Vertentes do Cinema) concorda que o maior problema da obra reside na lentidão da trama.[24] Zita Ferreira Braga, no jornal online O Turismo, defende uma opinião mais positiva, destacando "a fotografia onde a palavra de ordem é a decadência, e a banda sonora que mantém o clima alternativo à decadência patente nas imagens".[25]
Premiações
editarAno | Premiação | Categoria | Trabalho | Resultado | Ref. |
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2010 | Estoril Film Festival | Prémio L’Oréal Paris Jovem Talento | Rafael Morais | Venceu | [26] |
Coimbra Caminhos do Cinema Português | Melhor filme | How to Draw a Perfect Circle, António da Cunha Telles e Pandora da Cunha Telles | Indicado | [27] | |
Melhor atriz secundária | Beatriz Batarda | Venceu | |||
Melhor banda sonora original | Bernardo Sassetti | Venceu | |||
Melhor direção de arte | Artur Pinheiro | Venceu | |||
2011 | CINEPORT: Festival de Cinema de Língua Portuguesa | Melhor atriz | Joana de Verona | Indicado | [28] |
Melhor música | Bernardo Sassetti | Venceu | |||
Globos de Ouro, Portugal | Melhor filme | How to Draw a Perfect Circle, António da Cunha Telles e Pandora da Cunha Telles | Indicado | [29] | |
Melhor ator | Rafael Morais | Indicado | |||
Melhor atriz | Joana de Verona | Indicado | |||
Melhor atriz | Beatriz Batarda | Indicado |
- ↑ Ferreira, Tiago (6 de maio de 2018). «IndieLisboa – Sara, de Bruno Nogueira e Marco Martins (2018) | Central Comics». Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ «Caras | Melhor Filme: "Como Desenhar um Círculo Perfeito"». Caras. 3 de maio de 2011. Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ Hessel, Marcelo (19 de setembro de 2009). «Conheça a lista completa de filmes do Festival do Rio 2009». Omelete. Consultado em 29 de março de 2021
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- ↑ «Visão | Como desenhar um círculo perfeito, de Marco Martins /Traces of a Diary, de Marco Martins e André Príncipe». Visão. 22 de abril de 2010. Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ Portugal, Rádio e Televisão de. «Como Desenhar um Círculo Perfeito - Filmes - RTP». www.rtp.pt. Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ «Como Desenhar um Círculo Perfeito». RTP. Consultado em 22 de agosto de 2018
- ↑ «Como Desenhar um Círculo Perfeito». Ukbar Filmes. Consultado em 15 de outubro de 2014 ["Ficha Técnica"]
- ↑ Como Desenhar Um Círculo Perfeito (2009) (em inglês), consultado em 28 de março de 2021
- ↑ Nascimento, Frederico Lopes / Marco Oliveira / Guilherme. «Como Desenhar um Círculo Perfeito». CinePT-Cinema Portugues. Consultado em 28 de março de 2021
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- ↑ Joane, Cineclube de. «COMO DESENHAR UM CIRCULO PERFEITO de Marco Martins». Cineclube de Joane. Consultado em 29 de março de 2021
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- ↑ «Panorama do Cinema Mundial 2009». UOL Cinema. Consultado em 29 de março de 2021
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- ↑ «Marco Martins ⋆ Caminhos do Cinema Português». Consultado em 29 de março de 2021
- ↑ «LUMIERE : Film #36190 : Como Desenhar um Círculo Perfeito». lumiere.obs.coe.int. Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ Mourinha, Jorge. «Sem desejo». PÚBLICO. Consultado em 29 de março de 2021
- ↑ «Crítica - Como Desenhar um Círculo Perfeito (2010)». Consultado em 29 de março de 2021
- ↑ Duque, Fabricio (1 de outubro de 2009). «Como desenhar um circulo perfeito». Vertentes do Cinema. Consultado em 29 de março de 2021
- ↑ Braga, Zita Ferreira. «oturismo.pt - Marco Martins realizou "Como Desenhar um Círculo Perfeito"». www.oturismo.pt. Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ «2º Encontro de Realizadores e Produtores de Cinema de Curta- -metragem 3 novembro ´18 / Escola de Hotelaria e Turismo de Setú» (PDF). webcache.googleusercontent.com. Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ «Palmarés ⋆ Caminhos do Cinema Português». Consultado em 28 de março de 2021
- ↑ «"Morrer Como um Homem" vence 5º CINEPORT». TVI24. Media Capital. 27 de setembro de 2011. Consultado em 22 de agosto de 2018
- ↑ «Contagem decrescente para os Globos de Ouro». Jornal Expresso. Consultado em 28 de março de 2021