Braconidae
Braconidae é uma grande família de vespas parasitas, ou seja, de insetos voadores da ordem Hymenoptera, pertencente à superfamília Ichneumonoidea. São normalmente pequenas vespas que podem ser encontradas em quase qualquer ambiente natural fora dos polos gelados, geralmente mais vistas pousadas sobre a vegetação, na busca por seus hospedeiros. Apresentam grande diversidade de cores (normalmente pretas, marrons ou amarelo-alaranjadas) e de hábitos de vida, refletidos por sua grande diversidade de espécies e de hospedeiros.[1]
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Classificação científica | |||||||||||||||
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Morfologia e taxonomia
editarCaracterizam-se pelo seguinte conjunto de caracteres morfológicos:
Na cabeça: mandíbulas geralmente bem desenvolvidas com dois dentes , raramente unidentadas ou com 3 a 7 dentes (exodontes); antenas normalmente com mais de 15 segmentos. Nas asas: asas anteriores sem a veia 2m-cu, mas com a veia Rs+M presente, de modo que as células 1M e 1R1 estão quase sempre separadas; asas posteriores com a veia 1r-m embaixo da bifurcação entre as veias R1 e Rs. No abdômen: tergitos metassomais 2 e 3 fusionados, de modo a aparecerem dois espiráculos no segundo tergito do metassoma.
Algumas poucas espécies apresentam asas curtas ou ausentes. Algumas linhagens deste grupo têm sido estudadas pela morfologia larval[2], principalmente do primeiro ínstar[3]
Diversidade
editarEsta família de vespas é uma das mais diversas conhecidas na Natureza, contando formalmente com cerca de 17 mil espécies conhecidas, além de muitas milhares estimadas (pelo menos umas 40 mil) ainda por serem descritas.[4] As espécies estão agrupadas em 47 subfamílias, e mais de mil géneros.[5] Existem estimativas de existam entre 30 e 50 mil espécies viventes, significando que ainda há muito o que ser descoberto neste táxon.[4] No Brasil, estão atualmente catalogadas cerca de 1060 espécies, pertencentes a 231 gêneros[6].
A estabilidade taxonômica das subfamílias oscila a cada revisão dos grupos, e mesmo algumas já foram movidas de outras linhas como Ichneumonidae e mesmo Gasteruptiidae, e vice versa, ao longo das décadas passadas. A maioria dos autores consideram a existência de 30 subfamílias em Braconidae.
- Adeliinae
- Agathidinae
- Alysiinae
- Amicrocentrinae
- Aphidiinae
- Apozyginae
- Betylobraconinae
- Blacinae
- Braconinae
- Cardiochilinae
- Cenocoeliinae
- Cheloninae
- Dirrhopinae
- Doryctinae
- Ecnomiinae
- Euphorinae
- Exothecinae
- Gnamptodontinae
- Helconinae
- Histeromerinae
- Homolobinae
- Hormiinae
- Ichneutinae
- Khoikhoiiinae
- Macrocentrinae
- Masoninae
- Mendesellinae
- Mesostoinae
- Meteorideinae
- Meteorinae
- Microgastrinae
- Microtypinae
- Miracinae
- Neoneurinae
- Opiinae
- Orgilinae
- Pselaphaninae
- Rhyssalinae
- Rogadinae
- Sigalphinae
- Telengaiinae
- Trachypetinae
- Vaepellinae
- Xiphozelinae
- Ypsistocerinae
Biologia
editarSão vespas de porte relativamente pequeno a médio (medindo de 1 a 30 mm, excluindo-se o ovipositor), com grande diversidade de formas, cores e tamanhos, refletido no número de espécies e da diversidade dos seus hábitos de vida[7]. A grande maioria destas vespas são parasitoides que alimentam-se enquanto larvas dos estágios imaturos de outros insetos, mas algumas linhagens desenvolveram hábitos fitófagos de forma independente. Alguns destes grupos parasitoides atacam outras vespas ancestrais (do agrupamento "Symphyta"); muitas destas linhagens são de desenvolvimento "gregário", significando que os hospedeiros recebem muitos embriões parasitas dando origem a diversas vespas adultas. Hiperparasitismo é raro neste grupo. Geralmente, o desenvolvimento larval passa por 4 mudas de "pele", dando em cinco ínstares larvais até finalmente a pupação, ainda associada ou dentro do hospedeiro.[8]
Por conta de seus hábitos de desenvolvimento parasíticos, discutidos mais a fundo na próxima sessão, muitas espécies são estudadas como agentes de Controle Biológico de espécies de outros insetos que são consideradas como pragas agrícolas[9]. Também por conta de densidade e diversidade suas íntimas associações com invertebrados de diferentes nichos ecológicos, existem estudos acerca da sua utilização como indicadores ambientais de riqueza e saúde dos ecossistemas.
Parasitismo
editarA maioria dos Braconidae são parasitoides internos ou externos em outros insetos, especialmente das fases larvais de Coleoptera, Diptera[10] e Lepidoptera[11][12]. Algumas espécies podem também parasitar ordens de insetos hemimetábolos, como pulgões[13], percevejos (Heteroptera)[14] , vespas serra ( agrupamento "Symphyta") ou Embiidina[15]. O parasitismo de insetos adultos (em especial, Hemiptera e Coleoptera) é mais observado na subfamilia Euphorinae.
As espécies endoparasitoides muitas vezes apresentam elaboradas adaptações fisiológicas para favorecer a sobrevivência e desenvolvimento de suas larvas nos hospedeiros, tais como a incorporação hereditária de vírus endossimbiontes que, ao serem injetados com toxinas de veneno, atingem as defesas imunitárias de seu hospedeiro[16]. Estes vírus suprimem o sistema imunológico e permitem que o parasitoide cresça dentro do hospedeiro.
Por conta de seus hábitos de vida parasitas de outros insetos, muitas espécies de Braconidae são estudadas ou aplicadas como agentes de Controle Biológico.[17] Por exemplo, a vespa braconídea Cotesia glomerata é amplamente utilizada no controle de lagartas em plantações[18], sendo seu uso no Brasil no controle da broca da cana considerado como atualmente o maior programa de Controle Biológico do mundo. Outras espécies largamente estudadas incluem Cotesia flavipes,[19] Diachasmimorpha longicaudata (no controle de moscas das frutas) e Bracon hebetor (no controle de traças de grãos armazenados)[20].
Alguns membros de duas outras subfamílias (Mesostoinae e Doryctinae) são conhecidos por formar galhas em plantas.[21][22][23]
- ↑ Gadelha, Sian de Souza; Penteado-Dias, Angelica Maria; Silva, Alexandre de Almeida e (dezembro de 2012). «Diversity of Braconidae (Insecta, Hymenoptera) of the Parque Natural Municipal de Porto Velho, Rondonia, Brazil». Revista Brasileira de Entomologia (em inglês): 468–472. ISSN 1806-9665. doi:10.1590/S0085-56262012000400011. Consultado em 22 de novembro de 2024
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(ajuda)
Ligações externas
editar- «Tree of Life» (em inglês)
- «Encyclopedia of Life» (em inglês)