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Aphroditidae é uma família pertencente a subordem Aphroditiformia de poliquetas escamosos, possuindo similaridade etimológica. Pertence a ordem Phyllodocida da classe Polychaeta, sendo descritos pela primeira vez por Malmgren (1867).[1] Encontram-se em ambientes marinhos de variadas profundidades, mas podem ainda ser encontrados enterrados na areia de praias ou associados a substratos lamacentos.[2] Possuem geralmente corpos grandes e compactos, com formato elíptico, recobertos por uma espécie de feltro, por vezes iridescente.[2]

Como ler uma infocaixa de taxonomiaAphroditidae

Classificação científica
Reino: Animalia
Filo: Annelida
Classe: Polychaeta
Subclasse: Errantia
Ordem: Phyllodocida
Subordem: Aphroditiformia
Família: Aphroditidae

Distribuição

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Espécies da família Aphroditidae estão espalhadas pelo globo, variando de zonas subtidais até grandes profundidades. No entanto há, relativamente, uma grande quantidade de espécies endêmicas na região australiana, onde grande parte dos estudos sobre esta família foram conduzidos. No país, foram constatados três padrões de distribuição distintos: espécies distribuídas amplamente (Aphrodita australis e A. goolmarris), espécies restritas a certas áreas (Laetmonice dolichoceras e L. wonda) e uma espécie encontrada em apenas uma localidade (A. malkaris).[2]

Morfologia

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Organismos pertencentes à família Aphroditidae apresentam corpo achatado e com número de segmentos variando de 35 a 45. O prostômio apresenta formato globular e apenas uma antena média, com um par de omatóforos. Os élitros se distribuem em pares nos segmentos 2, 4, 5, 7 até 25; a partir deste ponto, a cada terceiro segmento, ou seja, 28°, 31°, 34° e assim por diante. A região dorsal pode ou não ser coberta por uma espécie de feltro, élitros alternam-se com cirros dorsais lisos ou irregularmente lobados. A faringe eversível possui um par de mandíbulas ou ausência das mesmas.[3][4] Todas as quetas são simples. As notoquetas podem apresentar três fenótipos distintos (cônica acicular, fina e capilar e acicular grossa com formato de gancho), já a neuroqueta dois (bipinada cônica ou grossa com ornamentações, como dentes ou pelos filamentosos). A notoqueta em formato de gancho ou ereta sobre o dorso é um caráter apomórfico que suporta essa família, embora outros fenótipos possam ser encontrados.[4]

Fisiologia

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A respiração dos Aphroditidae ocorre pelas paredes do corpo, portanto, trata-se de uma respiração cutânea. Ela ocorre no dorso do animal, entre os elitróforos (bases das escamas), de modo que o verme produz um movimento onde os élitros são projetados para cima e o dorso para baixo, abrindo uma cavidade por onde a água renovada entra. Para expulsar a água, os elitróforos são comprimidos e a parte ventral do corpo é elevada, de modo que a cavidade inicialmente aberta é imediatamente fechada, expulsando a água. A combinação dos movimentos permite aos organismos conseguirem suprimento de água constantemente renovado.[2] O sistema circulatório é fechado, com dois vasos principais, um ventral e um dorsal se estendendo pelo corpo, onde vasos menores se interligam lateralmente, formando uma rede de capilares. Em Aphroditidae não foi constatada a presença de arcos aórticos associados às veias principais; na verdade pensa-se que há estruturas similares à glomérulos associadas aos nefrídios.[2] Por fim, o sistema nervoso consiste (além do par de cordas nervosas ventrais e neurônios associados a elas) em um gânglio cerebral na porção anterior do corpo destes anelídeos, que é conectado com os apêndices prostomiais, recoberto por uma camada de epiderme que produz uma cutícula grossa, formando uma espécie de cápsula.

Alimentação e Reprodução

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Representantes da família Aphroditidae, normalmente solitários,[2] apresentam um comportamento de ataque oportunista, se posicionando no fundo do mar e esperando presas lentas ou mesmo sésseis estarem ao alcance para atacar com sua faringe eversível. Interessantemente, suas presas são altamente distribuídas entre os diversos grupos de invertebrados, por exemplo outros anelídeos, crustáceos menores, moluscos e por vezes algas[5].

A faringe destes animais, assim como o intestino, apresenta um conjunto de células ricas em enzimas hidrolíticas, fosfatases e aminopeptidases, sugerindo que a absorção de nutrientes se dá inicialmente na faringe, posteriormente no intestino médio onde, de forma geral, não há diferença nas composições químicas celulares em comparação com a faringe eversível.[6]

Embora se tenha pouca informação relativa à reprodução e desenvolvimento dos representantes desta família, estudos em espécies gonococóricas polares que habitam a Antártida demonstraram um padrão de período reprodutivo em consonância com os períodos de maior produção primária nos oceanos.[7] Levando em conta que estes animais são carnívoros, é presumível que haja uma maior disponibilidade de presas nestes períodos.[7] Além disso, a maturação dos gametas desta espécie é lenta, podendo durar mais de um ano, sendo este fato associado à priorização de crescimento do corpo dos pais e aumento no tamanho dos ovos, típicos de espécies bentônicas de alta latitude.[7] Foi observado nesta espécie espermatozoide com núcleo arredondado e acrossomo curto e cônico.[7]

Filogenia

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Aphroditidae (inicialmente chamado de Palmyridae) era antes colocado como grupo irmão da família Acoetidae, ambos fazendo parte do clado Aphroditoidea, o qual já foi descartado. Atualmente, tem-se que Aphroditidae e Eulephetidae são as bases da filogenia de Aphroditiformia, sendo Eulephetidae o primeiro clado e Aphroditidae o segundo clado mais basal.[8] O gênero Palmyra já foi proposto como uma família própria, Palmyridae, mas estudos morfológicos recentes o classificam como parte de Aphroditidae, indicando que a perda de escamas ocorreu mais de uma vez ao longo do tempo evolutivo de Aphroditiformia .

Aphroditidae

Palmyra

Aphrodita

Laetmonice

Hipótese filogenética baseada no trabalho de Gonzalez et al. (2017)[8]

Gêneros[9]:

Aphrodita Linnaeus, 1758

Aphrogenia Kinberg, 1856

Hermionopsis Seidler, 1923

Heteraphrodita Pettibone, 1966

Laetmonice Kinberg, 1856

Palmyra Savigny, 1818

Pontogenia Claparède, 1868

Referências
  1. Malmgren, A. J. Annulata polychaeta; Spetsbergiæ, Grnlandiæ, Islandiæ et Scandinaviæ. Hactenus cognita. Helsingforsiæ, Ex Officina Frenckellian, 206 p., 1867.
  2. a b c d e f Beesley, P.L; Ross, G.J.B. & Glasby, C.J.. Fauna of Australia: Polychaeta and Allies. Australian Biological Resources Study/CSIRO Publishing, v. 4, 465 p., 2000.
  3. Fauchald, K. 1977. The polychaete worms, definitions and keys to the orders, families and genera. Natural History Museum of Los Angeles County: Los Angeles, CA (USA) Science Series 28:1-188
  4. a b Barnich, R., Beuck, L., & Freiwald, A. (2013). Scale worms (Polychaeta: Aphroditiformia) associated with cold-water corals in the eastern Gulf of Mexico. Journal of the Marine Biological Association of the United Kingdom, 93(08), 2129–2143. doi:10.1017/s002531541300088x
  5. CRAVEIRO, Nykon; ALVES-JUNIOR, Flavio de Almeida y ROSA-FILHO, José Souto. New record of Aphrogenia alba Kinberg, 1856 from Brazilian waters: a rare Aphroditidae species. Lat. Am. J. Aquat. Res. [online]. 2019, vol.47, n.1 [citado 2020-06-27], pp.175-178. Disponible en: <https://scielo.conicyt.cl/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0718-560X2019000100175&lng=es&nrm=iso>. ISSN 0718-560X. http://dx.doi.org/10.3856/vol47-issue1-fulltext-19.
  6. Welsch, U., Storch, V. Histochemical and fine structural observations on the alimentary tract of Aphroditidae and Nephtyidae (Polychaeta Errantia). Marine Biology 6, 142–147 (1970). https://doi.org/10.1007/BF00347244
  7. a b c d Micaletto, G., Gambi, M.C. & Piraino, S. Observations on population structure and reproductive features of Laetmonice producta Grube (Polychaeta, Aphroditidae) in Antarctic waters. Polar Biol 26, 327–333 (2003). https://doi.org/10.1007/s00300-003-0482-3
  8. a b Gonzalez, B. C., Martínez, A., Borda, E., Iliffe, T. M., Eibye-Jacobsen, D., & Worsaae, K. (2017). Phylogeny and systematics of Aphroditiformia. Cladistics, 34(3), 225–259. doi:10.1111/cla.12202
  9. Read, G.; Fauchald, K. (Ed.) (2020). World Polychaeta database. Aphroditidae Malmgren, 1867. Accessed through: World Register of Marine Species at: http://www.marinespecies.org/aphia.php?p=taxdetails&id=938 on 2020-06-27