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Pierre Adolphe Delattre[nota 1] (Tours, 10 de fevereiro de 1805[nota 3]Nice, 3 de janeiro de 1854) foi um ornitólogo e pintor francês, especializado em beija-flores. É mais conhecido pelas suas contribuições como ornitólogo, foi responsável por nomear cerca de 20 espécies de aves, muitas dessas realizadas com os ornitólogos René Primevère Lesson e Jules Bourcier.[1][2] Ao longo de sua carreira, apenas cinco descrições foram feitas individualmente. Além de sua carreira como naturalista, também se dedicou à pintura de miniaturas, onde fazia retratos de figuras aristocráticas de sua época, incluindo uma miniatura do então príncipe brasileiro, Pedro II, e duas de suas irmãs, Januária e Francisca.[3]

Adolphe Delattre
Nome completo Pierre Adolphe Delattre[nota 1]
Outros nomes Adolphe de Lattre[nota 2]
Nascimento 10 de fevereiro de 1805
Tours, Indre-et-Loire, França
Morte 3 de janeiro de 1854 (48 anos)
Nice, Alpes Marítimos, França
Nacionalidade francês
Progenitores Mãe: Eugénie Lemaire
Pai: Louis-Henri Delattre
Cônjuge Jeanne Françoise Postel (c. 1829–32)
Ocupação ornitólogo

Biografia

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Início de vida, educação e família

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Adolphe Delattre nasceu em 10 de fevereiro de 1805, ou 24 pluviôse ano XIII, no calendário revolucionário, na cidade universitária de Tours, no departamento de Indre-et-Loire, na França.[3] Louis-Henri Delattre, seu pai, era pensionista, enquanto Eugénie née Lemaire, sua mãe, era dona de casa. Assim como seu irmão mais velho, Augustin-Henri Delattre, foi artista e naturalista.

Delattre teve apenas um único filho, originado em seu casamento com Jeanne Françoise Postel. Em 1832, declarou-se no tribunal a separação de corpos entre os dois casados. Todavia, a decisão não confirmava, juridicamente, o divórcio. Alguns anos antes de sua morte, deixou um testamento à Heloïse Boucard, que fora por muitos anos concubina. Acredita-se que seu filho seja Adolphe Boucard, ornitólogo e entomólogo francês, visto que, embora Delattre tenha confirmado relações sexuais com Heloïse, o mesmo negou ser o pai da criança, não aparecendo no registro.[4] Mesmo com a separação em 30 de novembro de 1832,[5] sua legítima esposa, Jeanne, contestou o testamento.

Adolphe estudou na escola de artes do francês Jean-Baptiste Isabey.[3] Em sua carreira como artista, fazia pinturas que retratavam principalmente pessoas e figuras aristocráticas, ao mesmo tempo que o irmão pintava cavalos e outros animais. Em 1839, dedicou, ao irmão, a espécie Ornismya Henrica, juntamente a Lesson; considerada um sinônimo júnior da espécie Lampornis amethystinus,[1] descrita por William John Swainson em 1827.[6] Em 1830, pintou um retrato do político francês Étienne Maurice Gérard.[3]

Expedições à América e descrições

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Entre os anos de 1831 e 1851, o naturalista realizou algumas expedições de caráter científico destinadas às Américas.[7] Durante as viagens, descreveu muitas espécies espécies de beija-flores, como o beija-flor-de-garganta-esmeralda, o bico-de-espinho-arco-íris, bem como estrela-do-chimboraço. Delattre também nomeou o gênero de aves Ornismya, conhecido como Riccordia (Reichenbach, 1854) nos dias atuais.[8]

Em 1833, realizou um grupo de miniaturas de retratos para a Casa dos Habsburgo no Rio de Janeiro. Entre os retratos, um deles era nomeado de Dona Januária Irmã de Dom Pedro II, nascida no Rio. Ao voltar de sua viagem em 1832, trouxe para o território francês alta quantidade de material colecionável de muitas áreas da história natural. Estes incluíam peças de botânica, mineralogia, ornitologia e sobretudo entomologia.[9] A partir deste período, ele também disponibilizou um besouro, Osorius brasiliensis, ao Museu Nacional de História Natural da França, que Pierre André Latreille descreveu pela primeira vez em 1832.[10]

Além de seu interesse pelas artes visuais e ciências naturais, o ornitólogo tinha grande afinidade com a nobreza francesa e internacional, dedicando o nome binomial Ornismya Helenæ, que posteriormente foi renomeada Lophornis helenae, dedicatória à princesa francesa Helena de Orleães. Na descrição, também destacou o incentivo da mesma às artes e ciências: "que a princesa acolha a homenagem de um viajante, feliz em terras distantes, de conquistar esta espécie extremamente rara para dar o nome de uma esposa e mãe tão querida pela França".[11]

Em 1846, alguns anos depois, nomeou a espécie de beija-flor Trochilus cuvierii, atualmente nomeada por Phaeochroa cuvierii — descrita em colaboração com Bourcier — em homenagem ao também naturalista francês Georges Cuvier.[2]

Em 1848, organizou uma exibição de cinco pinturas, feitas pelo mesmo, no Salon de Paris, endereçado a 31, rue de la Sourdière.[12] Os retratos em miniatura foram denominados Nicola 1er, Femme après le bain e retrato da Sra. B.; na mesma exibição, pintou outro retrato em exposição baseado em um modelo de um pintor francês, Philippe de Champaigne. Ele também exibiu a miniatura de um beija-flor.[3]

A primeira viagem ao território americano realizou-se em um veleiro, com destino à São Francisco, estado da Califórnia. Daqui começou uma viagem à América Central, em direção à Nicarágua pela Guatemala.[13] Bonaparte descreveu o resultado de suas coleções em 1854 em uma das suas publicações.[14] Alguns anos mais tarde, embarcou em uma expedição de descoberta ao Peru, Equador e o então Vice-Reino de Nova Granada, que o levou ao istmo do Panamá. De lá, trouxe uma impressionante coleção de aves para Paris, que vendeu para Thomas Bellerby Wilson.[15] Na mesma viagem, também coletou um espécime de Cinclus leucocephalus no Peru, que deixou a Johann Jakob von Tschudi para análise.[16]

Sociedades

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Delattre foi membro da Société Cuviérienne, que era responsável pela publicação do periódico científico Revue Zoologique par la Société Cuviérienne, pela qual publicou suas obras sobre ornitologia. Embora não tenha descrito nenhuma espécie de inseto, e nem mesmo publicado algum trabalho conhecido sobre entomologia, tornou-se membro, em 1832, da Société entomologique de France, por suas coleções.[9]

Dedicatórias

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Em 1839, um de seus colaboradores, René Primevère Lesson, em homenagem ao ornitólogo, também co-autor da descrição, nomeou a espécie de beija-flor Lophornis delattrei;[1] Frédéric de Lafresnaye, por sua vez, nomeou o traupídeo Tachyphonus delatrii, como dedicatória a Delattre.[17] Três anos depois, em 1850, o também francês Charles Lucien Bonaparte nomeou o gênero Delattria, atualmente considerado sinônimo de Lampornis, nomeado por Swainson, em 1827.[18] Já em 1854, ano em que Delattre morreu, Charles Lucien Bonaparte descreveu a espécie Basileuterus delattrii, um passeriforme, dedicando-a ao pintor.[19]

Notas
  1. a b Embora Theodore Sherman Palmer cite o nome de batismo do ornitólogo como "Pierre", esta informação não consta nos registros de nascimento e de óbito. Acredita-se que a informação tenha sido um equívoco de Palmer, visto que esse nascera em 1868, anos após a morte de "Pierre".
  2. A grafia "De Lattre", em vez de "Delattre", pode ser encontrada em muitas publicações do autor. Porém, novamente, essa grafia não consta em seus registro de nascimento ou óbito.
  3. Na época em que Delattre nascera, vigorava no território francês o calendário revolucionário. Nesse calendário, os meses, que divergiam significativamente do calendário gregoriano, se baseavam no clima, enquanto os anos tinham como base a data de proclamação da república francesa. Com isso, sua data de nascimento estaria registrada como 24 pluviôse do ano XIII.
Referências
  1. a b c Lesson, René Primevère; Delattre, Adolphe (1839). «Oiseaux-mouches nouveaux ou très-rares, découverts par M. De Lattre dans son voyage en Amérique et décrits par MM. De Lattre et Lesson». Société Cuviérienne. Revue Zoologique par la Société Cuviérienne (em francês). 2: 13–20. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  2. a b Bourcier, Jules; Delattre, Adolphe (1846). «Description de quinze espèces nouvelles de Trochilidées, faisant parties des collections rapportées par M. Ad. De Lattre, dont les précédents excursions ont déjà enrichi plusiers branches de l'histoire naturelle, et provenant de l'intérieur du Pérou, des républiques de l'Equateur, de la Nouvelle-Grenade et de l'isthme de Panama». Société Cuviérienne. Revue Zoologique par la Société Cuviérienne (em francês). 9: 305–312. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  3. a b c d e Bouchard, Nathalie-Lemone (março de 2010). «La Lettre de la Miniature» (PDF). Nathalie-Lemone Bouchard (em francês). Consultado em 9 de setembro de 2022. Cópia arquivada (PDF) em 4 de março de 2016 
  4. «4 E 7016 - 1839 - 1839 Archives départementales de la Gironde». Archives départementales de la Gironde (em francês). Consultado em 9 de setembro de 2022 
  5. «Inventaire après décès d'Adolphe Delattre, décédé à Nice le 3 January 1854, à la requête de Jeanne-Françoise Postel, sa veuve, demeurant à Paris, rue du Faubourg Saint-Honoré, n° 36». Salle des inventaires virtuelle. 3 de janeiro de 1854. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  6. Richmond, Chas. W. (janeiro de 1902). «Note on 'Delattria henrici'». The Auk. 19 (1): 83–83. ISSN 0004-8038. doi:10.2307/4069222Acessível livremente . Consultado em 9 de setembro de 2022 
  7. Palmer, Theodore Sherman (1 de março de 1918). «From Field and Study: Another Reference to Early Experiments in Keeping Hummingbirds in Captivity» (PDF). American Ornithologists' Union. The Condor (em inglês). 20 (3): 123–124. ISSN 1938-5129. doi:10.1093/condor/20.3.123. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  8. Reichenbach, Ludwig (1854). «Aufzählung der Colibris Oder Trochilideen in ihrer wahren natürlichen Verwandtschaft, nebst Schlüssel ihrer Synonymik». Journal für Ornithologie (em alemão). 1 (1–24): 8. ISSN 1439-0361. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  9. a b «Adolphe Delattre». Société entomologique de France. Annales de la Société entomologique de France (em francês). 1: 112. 1832. ISSN 0037-9271. OCLC 1765810. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  10. Latreille, Pierre André (1832). «Considérations sur les insectes coléoptéres de la tribu des Denticrures, famille de Brachelytres». Nouvelles annales du Muséum d'histoire naturelle. 1: 76–92. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  11. Delattre, Adolphe (1843). «Description d'un Oiseau-Mouche nouveau, Ornismya Helenæ». Societé Cuvierienne. Revue Zoologique par la Societé Cuvierienne (em francês). 6: 133. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  12. «Explication des ouvrages de peinture et dessins, sculpture, architecture et gravure des artistes vivans...». Gallica (em francês). 1848. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  13. Grinnell, Joseph (1932). Type localities of birds described from California. Col: University of California publications in zoology. Berkeley, Calif: University of California press 
  14. Bonaparte, Charles Lucien (1854). «Notes sur les collections rapportées en 1853, par M. A. Delattre, de son voyage en Californie et dans le Nicaragua». Comptes rendus hebdomadaires des séances de l'Académie des sciences. 38: 1–11. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  15. Lafresnaye, Frédéric de (1847). «Quelques oiseaux nouveaux ou rares rapportés por M. Delatre, de Bolivie, de la Nouvelle-Grenade, et de Panama, por M. de Lafresnaye». Revue zoologique par la Société cuviérienne. 10: 67–79. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  16. Cabanis, Jean (1847). «Faune du Perou, du Doctor Tschudi, partie ornithologique». Revue et magasin de zoologie pure et appliquée. 1 (2): 232–247. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  17. Lafresnaye, Frédéric de (1847). «Quelques oiseaux nouveaux ou rares rapportés par M. Delatre, de Bolivie, de la Nouvelle-Grenade, et de Panama». Société Cuviérienne. Revue Zoologique par la Société Cuviérienne (em francês). 10: 69–79. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  18. Bonaparte, Charles Lucien (1850). «Delattria». Conspectus generum avium (em francês). 1: 70. Consultado em 9 de setembro de 2022 
  19. Bonaparte, Charles Lucien (1854). «Notes sur les collections rapportées en 1853, par M. A. Delattre, de son voyage en Californie et dans le Nicaragua. Septième communication: Chanteurs dentirostres». Mallet-Bachelier. Compte Rendu des Séances de l'Académie des Sciences (em francês). 38: 378–389. Consultado em 9 de setembro de 2022