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Vasco Pereira Lusitano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Vasco Pereira)
Vasco Pereira Lusitano
Nascimento 1535
Évora
Morte 1609 (73–74 anos)
Sevilha
Cidadania Reino de Portugal
Ocupação pintor

Vasco Pereira Lusitano (Évora, 1535Sevilha, 1609) foi um pintor português. Fixando-se em Sevilha, Espanha, a sua obra encontra-se entre o maneirismo e o barroco.

Segundo Vítor Serrão, Vasco Pereira forma-se na oficina do pintor sevilhano Luis de Vargas, que é também o mestre de Francisco Venegas e provavelmente de Lourenço de Salzedo, mas depois passa a trabalhar por conta própria. Conhecem-se muitas empreitadas ligadas a Vasco Pereira, mas só 12 obras estão identificadas como suas.[1]

Vasco Pereira desenvolve actividade como artista autónomo a partir de 1562, tendo chegado a ser eleito presidente da corporação de pintores de Sevilha, cidade onde não haveria mais de 30 profissionais. Segundo Joaquim Caetano, Vasco Pereira é um homem culto, com uma biblioteca enorme para a época — 240 livros de história, literatura, teologia — e uma colecção de gravura com centenas de exemplares. Era um bom pintor e muito respeitado.[1]

A Coroação da Virgem (1605), de Vasco Pereira Lusitano, na colecção do Museu Carlos Machado, Ponta Delgada.

Vasco Pereira deixou uma vasta obra espalhada por Espanha e pela América Espanhola.

A Coroação da Virgem

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Apenas se conhece uma obra da sua autoria que entrou, em vida, em Portugal, precisamente, A Coroação da Virgem, datada de 1605, encomenda da Igreja de Todos os Santos, em Ponta Delgada. Por razões desconhecidas, a obra seria coberta por uma réplica de menor qualidade, apenas tendo sido descoberta em 1973, em mau estado de conservação. Depois de restaurada em Lisboa, regressaria à Ilha de São Miguel, estando actualmente exposta na secção de Arte Sacra do Museu Regional Carlos Machado, na antiga Igreja de Todos os Santos, em Ponta Delgada. É uma das suas melhores obras e das poucas que se encontram actualmente no seu país natal. A obra representa a Virgem Maria, coroada por Deus Pai, com o Menino Jesus nos braços, rodeada de arcanjos, serafins e querubins que entoam cânticos e tangem instrumentos musicais.

Nossa Senhora do Bom Ar

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Virgem del Buen Aire (1603), de Vasco Pereira Lusitano

A Nuestra Señora Del Buen Aire foi criada em 1603 por Vasco Pereira para a Confraria da Virgem do Bom Ar, de Santa Ana e de Todos os Santos sedeada em Sevilha. A pintura começou por ocupar o altar-mor da igreja desta Confraria, no bairro de Triana, tendo passado depois para a sala onde a Confraria se reunia no Real Colégio de San Telmo.[1]

Na pintura, com 189X135 cm, a Virgem Maria aparece representada com o Menino Jesus ao colo, ladeada por São José e Santa Ana, e para além dos três Reis Magos e de vários anjos, a pintura tem cinco santos: São Telmo, São Sebastião, São Roque, Santo António e São Gonçalo de Amarante, estes dois últimos com ligações claras a Portugal.[1]

São Telmo, padroeiro dos homens do mar, aparece com uma embarcação nas mãos; São Sebastião e São Roque são dois santos protectores da peste, que afectou Sevilha em 1599, poucos anos antes desta pintura estar terminada; São Gonçalo de Amarante insiste muito nas doações à igreja. É uma composição complexa e muito cuidada, que está muito relacionada com a vida da própria irmandade.[1]

Os Reis Magos que aparecem em adoração ricamente vestidos, sendo símbolos das três partes do mundo conhecidas, ou das três idades do homem, com Baltazar a olhar de forma algo desafiante para fora da pintura, são representados com quatro cofres carregados de ouro e jóias, quando as suas oferendas tradicionalmente são ouro, incenso e mirra.[1]

Apesar de ser de grandes dimensões, esta obra parece sobrecarregada de figuras e símbolos, como se não houvesse espaço para mais nada. Segundo Joaquim Caetano, "a composição foi preparada para que as figuras que temos de lado e na base projectem para o alto a Virgem, São José e Santa Ana. A sensação de falta de espaço e todo aquele luxo de veludos e camafeus nos Reis Magos é o que se espera de uma pintura que resulta de uma encomenda importante de uma irmandade rica, mas também de uma pintura que vem anunciar o barroco.”[1]

Para o historiador de arte e catedrático espanhol Juan Miguel Serrera Contreras, esta é a obra-prima de Vasco Pereira. As primeiras obras de Vasco Pereira são em grande parte uma repetição do maneirismo ao estilo do seu mestre Vargas, mas a Nossa Senhora do Bom Ar é uma obra de grande maturidade, de fim de vida, tendo uma grande influência do maneirismo flamengo, esplendoroso, que também tem seguidores em Sevilha.[1]

A Nossa Senhora do Bom Ar pertence no presente a uma colecção privada, a do casal Odile e Armando Pereira, empresário português co-fundador da Altice, que a depositou no Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) nos próximos cinco anos. A obra estará exposta até ao final do ano de 2020, após o que será objecto de intervenção conservação e restauro.[1]

Outras das suas obras encontram-se em Espanha: A Anunciação, na Igreja de San Juan de Marchena, a Santíssima Trindade, na Igreja de Palomares del Río, e a Virgem do Bom Ar, numa colecção particular, em La Palma del Condado. O seu Santo Onofre encontra-se no Museu de Dresden, na Alemanha, tendo sido pintado para uma capela do Pátio dos Naranjos da Catedral de Sevilha.[1][2]

Referências
  1. a b c d e f g h i j Lucinda Canelas, "Pereira Lusitano emigrou há 450 anos e não voltou. A sua obra-prima pode agora ser vista no MNAA", Publico, 17 de Agosto de 2020, [1]
  2. Juan Miguel Serrera Contrerar, "Vasco Pereira, Un Pintor Portugués en la Sevilla del Último Tercio del Siglo XVI", Archivo Hispalense, Tomo 70, nº 213, 1987
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