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Teste da orelhinha

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


A Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU), popularmente conhecida como teste da orelhinha, é um exame realizado na orelha dos bebês em até 48 horas após o nascimento, com o objetivo de detectar precocemente perdas auditivas congênitas.[1] Essa triagem aumenta a possibilidade de escolher um tratamento adequado para bebês com esse diagnóstico. A perda auditiva congênita é uma das condições mais comuns ao nascimento, com prevalência estimada de 1 a 3 por 1.000 nascidos vivos em populações de baixo risco, e de até 10 por 1.000 entre aqueles com fatores de risco. A realização da Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU), tornou-se obrigatória para todos recém-nascidos brasileiros, a partir da lei federal 12.303/2010[2]. O diagnóstico precoce é fundamental para uma intervenção eficaz, sendo ideal ser feita antes dos seis meses de vida da criança porque possibilita, em geral, melhores resultados para o desenvolvimento da função auditiva, aquisição da linguagem, da fala, do processo de aprendizagem e, consequentemente melhor desenvolvimento infantil.

Ministério da Saúde, 2012

Em 2 de agosto de 2010, o então Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei n.º 12.303, denominada Lei do Teste da Orelhinha, que dispõe sobre a obrigatoriedade de realização deste exame em todos os hospitais e maternidades, públicos ou particulares.[3]

É fundamental que TAN seja universal, ou seja, realizada em crianças com e sem fator de risco para deficiência auditiva, com índices de triagens realizadas superiores a 95% dos nascidos vivos. Entretanto, no Brasil, essa universalidade ainda não é uma realidade.[4] Atualmente, o indicador nacional de universalidade da triagem aponta 37,2%, representando um índice bem inferior ao que é recomendado e preconizado pelo Comitê Multiprofissional em Saúde Auditiva – COMUSA e pelo Joint Committee on Infant Hearing.[5][6]

Métodos de Triagem Auditiva Neonatal

  • Emissões Otoacústicas Evocadas:
    • Consiste em uma liberação de energia sonora produzida na cóclea que se propaga pela orelha média até o meato acústico externo.
    • Apesar de oferecer dados importantes sobre a lesão coclear, a presença das emissões otoacústicas depende de condições normais de orelha média e de um ambiente silencioso para realização do exame.[7]
    • É o método mais utilizado em triagens de recém-nascidos sem fatores de risco.  
    • Vantagens: rápido, de baixo custo e de fácil aplicação.  
    • Limitações: não detecta alterações nas vias auditivas centrais e pode ser influenciado por presença de líquido no canal auditivo ou ouvido médio.  
  • Potenciais Evocados auditivos de Tronco Encefálico (PEATE):
    • Avalia as respostas elétricas das vias auditivas até o tronco encefálico.  
    • Indicado para recém-nascidos com fatores de risco ou que falharam nas EOAs.  
    • Vantagens: maior sensibilidade, especialmente para perdas auditivas retrococleares.  
    • Limitações: custo mais elevado e maior tempo de realização.  

Esses exames não medem diretamente a audição, mas avaliam a integridade das vias auditivas periféricas e centrais, servindo como um rastreio inicial.  

O teste da orelhinha deve ser realizado pelo profissional com graduação em fonoaudiologia, ou seja, um fonoaudiólogo.[8]

Indicadores de risco para Deficiência Auditiva em recém-nascidos (IRDA)

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A identificação de Indicadores de risco para Deficiência Auditiva (IRDA) na história clínica de neonatos e lactentes é de suma relevância para que a criança possa receber o acompanhamento auditivo ideal, assim como as estratégias adequadas para seu quadro precocemente.[9]

Em casos de perda auditiva a intervenção precoce é necessária para que a criança possa ter a oportunidade de acessar tecnologias assistivas e acompanhamento com fonoaudiólogo logo nos primeiros seis meses de vida, dado que se a intervenção for realizada neste período possibilita melhores resultados para o desenvolvimento da função auditiva e consequentemente da comunicação oral.

Fatores como a audição e a comunicação influenciam no desenvolvimento psicossocial do indivíduo como um todo e caso a criança tenha acesso ao tratamento correto poderá ter uma melhor qualidade de vida.[9]

De acordo com a cartilha do Ministério da Saúde de diretrizes de atenção à Triagem Auditiva Neonatal (TANU), diversos estudos epidemiológicos demonstram que a prevalência da deficiência auditiva varia de um a seis neonatos para cada mil nascidos vivos, e de um a quatro para cada cem recém-nascidos provenientes de Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN).[10]

Indicadores de risco para Deficiência Auditiva

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São considerados neonatos ou lactentes com indicadores de risco para deficiência auditiva aqueles que apresentarem os seguintes fatores em suas histórias clínicas:[6][11]

Indicadores pré-natais

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Indicadores pós-natais

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  • Peso ao nascer inferior a 1.500 gramas;
  • Anomalias craniofaciais envolvendo orelha e osso temporal;
  • Síndromes genéticas que usualmente expressam deficiência auditiva como Waardenburg, Alport, Pendred, etc;
  • Distúrbios neurodegenerativos como síndrome de Charcot-Marie-Tooth, ataxia de Friedreich;
  • Infecções bacterianas ou virais pós-natais como citomegalovírus, herpes, sarampo, varicela e meningite;
  • Ventilação mecânica;
  • Quimioterapia;
  • Hipocalcemia neonatal;
  • A preocupação do cuidador acerca da fala e comunicação oral da criança também deve ser um indicativo, uma vez que estes aspectos podem estar atrasados por uma possível Perda Auditiva.[15]

Importância do Teste da Orelhinha

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Os testes de triagem neonatal, quando feitos no período recomendado, têm a capacidade de identificar as doenças- alvo ainda em fase pré-sintomática em recém-nascidos e permitir intervenção precoce, prevenção de manifestações e acompanhamento da saúde da criança, seus benefícios já são consolidados na literatura.[16]

O Teste da Orelhinha ou Triagem Auditiva Neonatal é um exame importante para detectar problemas de audição em recém-nascidos, e assim, iniciar o diagnóstico e o tratamento das alterações auditivas desde cedo.[17] O tratamento precoce é fundamental para evitar possíveis prejuízos no desenvolvimento da linguagem e consequentemente da fala. [18]

Exames a serem feitos

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Para os neonatos e lactentes sem indicador de risco, utiliza-se o exame de Emissões Otoacústicas Evocadas (EOAE). Caso não se obtenha resposta satisfatória (falha), repetir o teste de EOAE, ainda nesta etapa de teste. Caso a falha persista, realizar de imediato o Potencial Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (Peate-Automático ou em modo triagem).[19]

Para os neonatos e lactentes com indicador de risco, utiliza-se o teste de PEATE, além de serem monitorados até os três meses de idade, com nova avaliação com os pais/responsáveis orientados sobre a importância deste monitoramento, devido a possíveis alterações de orelha média, ou perdas auditivas leves permanentes.[20]

Figura contendo um fluxograma, mostrando as etapas e possíveis exames a serem feitos dentro do programa de triagem auditiva neonatal universal.
Exemplo de fluxograma de um programa de Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU)

O registro das EOAE é recomendado na realização da TAN em crianças sem indicador de risco, pois é um teste rápido, simples, não invasivo, com alta sensibilidade e especificidade, capaz de identificar a maioria das perdas auditivas cocleares. Para a realização do registro das EOAE é necessária a integridade anatômica da orelha externa e média. Aqueles neonatos e lactentes com malformação de orelha, mesmo que em apenas uma delas, deverão ser encaminhados diretamente para diagnóstico otorrinolaringológico e audiológico.

Caso o bebê falhe, a realização da etapa de reteste deverá acontecer no período de até 30 dias após o teste. Esse procedimento deve ser realizado em ambas as orelhas, mesmo que a falha no teste tenha ocorrido de forma unilateral. Os resultados do(s) teste(s) e reteste, bem como a necessidade de diagnóstico ou monitoramento ou acompanhamento devem ser registrados na Caderneta de Saúde da Criança.

Como é feito o Teste da Orelhinha?

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O teste da orelhinha é um exame rápido, indolor e sem contraindicação, realizado pelo fonoaudiólogo. [1] Normalmente é realizado enquanto o bebe dorme, sem qualquer desconforto. O Conselho Federal de Fonoaudiologia e outras entidades brasileiras recomendam que o exame seja realizado na maternidade, antes da alta hospitalar. O exame é feito com a introdução de uma pequena sonda no canal auditivo, que é capaz de emitir sons e captar a resposta das células ciliadas externas da cóclea. Se as células não respondem como deveriam, o resultado do exame se mostra alterado. Neste caso, o bebe é encaminhado para um serviço de diagnóstico, é realizada a avaliação otorrinolaringológica e exames complementares. [21] Uma vez confirmados o tipo e o grau da perda auditiva, o bebê será encaminhado para um programa de intervenção precoce a fim de orientar a família, preparar para o uso de aparelhos de amplificação ou implante coclear e terapia fonoaudiológica.

Intervenções após a triagem

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Recém-nascidos que falham na triagem inicial ou que possuem fatores de risco são encaminhados para avaliação diagnóstica, geralmente envolvendo:  

- Audiometria de reforço visual ou comportamental (a partir dos 6 meses de idade);

- Medidas de imitância acústica (timpanometria e pesquisa dos reflexos acústicos);

- Emissões otocústicas evocadas transientes e por produto de distorção;

- Potencial evocado auditivo do tronco encefálico (neurodiagnóstico e/ou limiar eletrofisiológico)

- Testes de imagem (como tomografia computadorizada e ressonância magnética), em casos de malformações.  

Intervenção Precoce:

A detecção e intervenção até os 6 meses de vida têm impactos significativos no desenvolvimento da linguagem e na qualidade de vida. As intervenções incluem:  

- Aparelhos de Amplificação Sonora Individual (AASI);  

- Implantes cocleares para perdas severas a profundas;  

- Terapia fonoaudiológica especializada.  

Referências
  1. a b Alves, BIREME / OPAS / OMS-Márcio. «Teste da orelhinha | Biblioteca Virtual em Saúde MS». Consultado em 17 de junho de 2023 
  2. Cristina Costa, Kátia. «Etiologia da perda auditiva em neonatos diagnosticados em um programa de triagem auditiva neonatal». Consultado em 26 de abril de 2023 
  3. SILVA, LUIZ INÁCIO LULA DA (2 de agosto de 2010). «L12303». www.planalto.gov.br. Presidência da República - Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Consultado em 1 de julho de 2019 
  4. Cruz, Lorena Rauédys Leite da; Ferrite, Silvia (1 de Dezembro de 2014). «Cobertura estimada da triagem auditiva neonatal para usuários do Sistema Único de Saúde, Brasil, 2008-2011». Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. 14 (4): 401–411. ISSN 1519-3829. doi:10.1590/S1519-38292014000400010 
  5. Lewis, Doris Ruthy; Marone, Silvio Antonio Monteiro; Mendes, Beatriz C. A.; Cruz, Oswaldo Laercio Mendonça; Nóbrega, Manoel de (1 de fevereiro de 2010). «Comitê multiprofissional em saúde auditiva: COMUSA». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology. 76 (1): 121–128. ISSN 1808-8694. doi:10.1590/S1808-86942010000100020 
  6. a b Hearing, Joint Committee on Infant (1 de outubro de 2007). «Year 2007 Position Statement: Principles and Guidelines for Early Hearing Detection and Intervention Programs». Pediatrics (em inglês). 120 (4): 898–921. ISSN 0031-4005. PMID 17908777. doi:10.1542/peds.2007-2333 
  7. Durante, Alessandra Spada; Nascimento, Cristina Moraes do; Lopes, Cristiane (março de 2021). «Otoacoustic emissions in neonates exposed to smoke during pregnancy». Brazilian Journal of Otorhinolaryngology (em inglês) (2): 193–199. PMC PMC9422491Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 31611072. doi:10.1016/j.bjorl.2019.08.001. Consultado em 23 de março de 2023 
  8. CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA. Parecer nº 260, de 10 de junho de 2000. "Dispõe sobre a atuação do fonoaudiólogo em Triagem Auditiva Neonatal Universal." Brasília, 2000
  9. a b Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes de Atenção da Triagem Auditiva Neonatal / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas e Departamento de Atenção Especializada. – Brasília : Ministério da Saúde, 2012. 32 p. : il. ISBN 978-85-334-1
  10. Paredes, Hugo Demesio Maia Torquato, et al. “Indicadores de Risco Para Deficiência Auditiva Na Triagem Auditiva Neonatal de Um Hospital de Referência Em Macaé, Estado Do Rio de Janeiro / Risk Indicators for Hearing Loss in the Neonatal Hearing Screening of a Reference Hospital in Macaé, Rio de Janeiro State.” Brazilian Journal of Development, vol. 7, no. 6, 24 June 2021, pp. 62554–62567, 10.34117/bjdv7n6-571. Accessed 29 July 2022.
  11. Griz, Silvana Maria Sobral, et al. “Indicadores de Risco Para Perda Auditiva Em Neonatos E Lactentes Atendidos Em Um Programa de Triagem Auditiva Neonatal.” Revista CEFAC, vol. 13, no. 2, 23 July 2010, pp. 281–291, 10.1590/s1516-18462010005000071. Accessed 15 Jan. 2022.
  12. a b Bárbara, Carolina, et al. PREVALÊNCIA de INDICADORES de RISCO PARA SURDEZ EM NEONATOS EM UMA MATERNIDADE PAULISTA Prevalence of Deafness Risk Indicators in Newborns in a São Paulo’ Upcountry Materninty Hospital. Vol. 11, 2009. Accessed 29 July 2022.
  13. Nascimento, Gicélia Barreto; Kessler, Themis Maria; Souza, Ana Paula Ramos de; Costa, Inaê; Moraes, Anaelena Bragança de (10 de fevereiro de 2020). «Indicadores de risco para a deficiência auditiva e aquisição da linguagem e sua relação com variáveis socioeconômicas, demográficas e obstétricas em bebês pré-termo e a termo». CoDAS: e20180278. ISSN 2317-1782. doi:10.1590/2317-1782/20192018278. Consultado em 6 de março de 2024 
  14. Silva, Daniela Polo Camargo da, et al. “Influência Do Apgar Baixo Na Primeira Triagem Auditiva Do Neonato.” ABCS Health Sciences, vol. 44, no. 2, 30 Aug. 2019, 10.7322/abcshs.v44i2.1183. Accessed 29 July 2022.
  15. Alvarenga, Kátia de Freitas, et al. “Participação Das Famílias Em Programas de Saúde Auditiva: Um Estudo Descritivo.” Revista Da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, vol. 16, 1 Mar. 2011, pp. 49–53,www.scielo.br/j/rsbf/a/fGzNCRtzZV3KSkwJpFw8QgK/?lang=pt
  16. Mallmann, Mariana B.; Tomasi, Yaná T.; Boing, Antonio Fernando (julho de 2020). «Neonatal screening tests in Brazil: prevalence rates and regional and socioeconomic inequalities». Jornal de Pediatria (em inglês) (4): 487–494. PMC PMC9432296Acessível livremente Verifique |pmc= (ajuda). PMID 31009617. doi:10.1016/j.jped.2019.02.008. Consultado em 10 de abril de 2023 
  17. Alves, BIREME / OPAS / OMS-Márcio. «Teste da orelhinha | Biblioteca Virtual em Saúde MS». Consultado em 17 de junho de 2023 
  18. «Hospital Estadual da Mulher alerta sobre importância do teste da orelhinha - Secretaria da Saúde». www.saude.go.gov.br. Consultado em 17 de junho de 2023 
  19. Faria, Armanda; Vieira, Alan; Simen, Raphaella; Miterhof, Maria Elisa (2018). «Comparação entre os resultados do teste da orelhinha e da timpanometria: Devemos revisar o protocolo de triagem auditiva neonatal?». Revista de Pediatria SOPERJ (2): 11–17. ISSN 2595-1769. doi:10.31365/issn.2595-1769.v18i2p11-17. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  20. Faria, Armanda; Vieira, Alan; Simen, Raphaella; Miterhof, Maria Elisa (2018). «Comparação entre os resultados do teste da orelhinha e da timpanometria: Devemos revisar o protocolo de triagem auditiva neonatal?». Revista de Pediatria SOPERJ (2): 11–17. ISSN 2595-1769. doi:10.31365/issn.2595-1769.v18i2p11-17. Consultado em 10 de setembro de 2024 
  21. Paulista, Hospital (2 de agosto de 2022). «Teste da Orelhinha tem importante papel no desenvolvimento auditivo e social das crianças». Hospital Paulista - Ouvido, Nariz e Garganta. Consultado em 17 de junho de 2023