Teoria do iceberg
A teoria do iceberg ou teoria da omissão é uma técnica narrativa elaborada pelo escritor estadunidense Ernest Hemingway. Como jovem jornalista, Hemingway teve que concentrar suas reportagens em eventos imediatos, com pouco espaço para contexto ou interpretação. Quando se tornou contista, manteve seu estilo minimalista, concentrando-se nos elementos superficiais sem discutir profundamente camadas subjacentes. Hemingway acreditava que o significado mais intenso de uma história não deveria ser evidente na superfície, mas deveria transparecer de modo implícito.[1]
Em 1923, Hemingway concebeu a ideia de uma nova teoria da narrativa após terminar seu conto "Out of Season". Em A Moveable Feast, memórias publicadas postumamente sobre seus anos como jovem escritor em Paris, ele explica que "a parte omitida fortaleceria a história", comparando-a a um iceberg.[2] O biógrafo do autor, Carlos Baker, acreditava que, como escritor de contos, Hemingway aprendeu "como tirar o máximo do mínimo, como podar a linguagem e evitar desperdício de movimento, como multiplicar intensidades e como não dizer nada além da verdade de uma forma que permita dizer mais do que a verdade".[3] Baker também observa que o estilo de escrita da "teoria do iceberg" sugere que a narrativa de uma história e complexidades matizadas, completas com simbolismo, operam sob a superfície da própria história.[3]
A teoria do iceberg de Hemingway destaca as implicações simbólicas da literatura. Faz-se uso da ação física para fornecer uma interpretação da natureza da existência humana. A ambiguidade de Hemingway destaca-se de forma marcante, em que, "embora representando a vida humana por meio de formas ficcionais, ele consistentemente colocou o homem contra o pano de fundo de seu mundo para examinar a situação humana por vários pontos de vista".[4]
- ↑ Nascimento, Simone dos Santos Machado (2018). O Princípio do Iceberg nas telas: personagem e espaço na construção de um Hemingway ficcional (Tese de Doutorado). Fortaleza: Universidade Federal do Ceará. Consultado em 17 de janeiro de 2021
- ↑ Smith 1983
- ↑ a b Baker 1972, p. 117
- ↑ Halliday, E.M. (1956). «Hemingway's Ambiguity: Symbolism and Irony». American Literature. 28 (1): 1–22. JSTOR 2922718. doi:10.2307/2922718
Bibliografia
[editar | editar código-fonte]- Baker, Carlos (1972). Hemingway: The Writer as Artist 4th ed. [S.l.]: Princeton University Press. ISBN 0-691-01305-5
- Ernest Hemingway (1990). «The Art of the Short Story». In: Benson, Jackson. New Critical Approaches to the Short Stories of Ernest Hemingway. [S.l.]: Duke University Press. ISBN 978-0-8223-1067-9
- Benson, Jackson (1989). «Ernest Hemingway: The Life as Fiction and the Fiction as Life». American Literature. 61 (3): 345–358. doi:10.2307/2926824
- Oliver, Charles M. (1999). Ernest Hemingway A to Z: The Essential Reference to the Life and Work. New York: Checkmark. ISBN 0-8160-3467-2
- Mellow, James R. (1992). Hemingway: A Life Without Consequences. New York: Houghton Mifflin. ISBN 0-395-37777-3
- Meyers, Jeffrey (1985). Hemingway: A Biography. London: Macmillan. ISBN 0-333-42126-4
- George Plimpton (1958). «Ernest Hemingway, The Art of Fiction No. 21». The Paris Review
- Reynolds, Michael S. (1998). The Young Hemingway. New York: Norton. ISBN 0-393-31776-5
- Tetlow, Wendolyn (1992). Hemingway's In our time: lyrical dimensions. Cranbury NJ: Associated University Presses. ISBN 0-8387-5219-5
- Smith, Paul. (1983). «Hemingway's Early Manuscripts: The Theory and Practice of Omission». Indiana University Press. Journal of Modern Literature. 10 (2): 268–288. JSTOR 3831126
- Stoltzfus, Ben (2003). «The Stones of Venice, Time and Remembrance: Calculus and Proust in Across the River and into the Trees». The Hemingway Review. 22 (2): 20–29
- Trodd, Zoe (2007). «Hemingway's camera eye: The problems of language and an interwar politics of form». The Hemingway Review. 26 (2): 7–21. doi:10.1353/hem.2007.0012