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Riccordia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
 Nota: Não confundir com Riccardia (gênero de plantas aneuráceas), nem com Ricordeidae (família e gênero de cnidários antozoários).
Riccordia
Riccordia bicolor em parque nacional de Dominica
Classificação científica
Reino:
Filo:
Classe:
Ordem:
Família:
Subfamília:
Tribo:
Gênero:
Riccordia

Espécie-tipo
Ornismya ricordii
Gervais, 1835
Espécies

6, ver texto

Sinónimos

Cyanophaia Reichenbach, 1854
Erythronota Gould, 1861

Riccordia é um gênero com táxons extantes de aves apodiformes pertencente à família dos troquilídeos, que inclui os beija-flores.[1] O gênero possui quatro espécies que ainda são encontradas na natureza, adicionadas de outras duas espécies — estas extintas recentemente, durante a "sexta extinção em massa" em decorrência do declínio recente da biodiversidade —, totalizando seis espécies; que se distribuem exclusivamente na região caribenha, restritamente nas chamadas Índias Ocidentais, em florestas primárias e secundárias ou altamente degradadas de clima tropical e litorâneas, bem como terras agrícolas e áreas urbanas e semi-urbanas bem arborizadas, florestas montanhosas às plantações de café e cacau.[2][3][4] As espécies deste gênero são, vernaculamente, denominadas, ambos em português brasileiro e europeu, como esmeraldas, exceto por a espécie Riccordia bicolor, que recebe a denominação de "beija-flor-bicolor".[5]

Este gênero é o único exemplo do impacto da "sexta extinção em massa" — e também de qualquer evento de extinção deste tipo — em beija-flores americanos. O outro evento exterminador desta espécie que seria capaz de extinguí-los ocorreu durante o Oligoceno ao oeste da Alemanha, há cerca de 30 milhões de anos.[6] As informações existentes sobre as espécies extintas — esmeralda-de-brace e esmeralda-de-gould — são pouquíssimas, não sabendo nem mesmo suas áreas de distribuição exatamente, muito menos seus comportamentos. Os últimos registros da esmeralda-de-brace seriam realizados ao final do século XIX, em 1877, ao que a outra espécie extinta, a esmeralda-de-gould, teve seu último registro em 1861.[7] Entretanto, atualmente, a maioria significativa das espécies que resistiram às ações humanas estão classificadas por "pouco preocupante" pela BirdLife International, mas com um declínio recente da quantidade de indivíduos existentes aptos para reprodução.[2][3][4][8]

Estes beija-flores apresentam uma média entre 8,5 a 11,5 centímetros de comprimento, enquanto a média de peso varia de 2,5 a 5 gramas. Geralmente, os seus espécimes machos são sutilmente maiores e mesmo mais pesados do que as fêmeas. Ambos os sexos de esmeraldas apresentam características morfológicas em comum nas espécies extantes, como o bico preto e retilíneo, com a mandíbula rosada na extremidade. O dimorfismo sexual acentuado se manifesta na sua plumagem, onde os machos são mais coloridos que as fêmeas, que possuem abdômen esbranquiçado e coloração mais pálida e cinzenta. As esmeraldas são beija-flores de hábitos sedentários, com alguns deles performando mudanças ocasionais de elevação. São geralmente verdes ou azuis-metálicos na cabeça, que possui as laterais acinzentadas nas fêmeas; com sua cauda bifurcada que, nos machos, é azul-metálica ou verde-brilhante. Nas fêmeas, seu bico é inteiramente preto e sua cauda é um pouco menos bifurcada. Nos juvenis, sua aparência se assemelha às fêmeas, com as características respectivas de cada sexo definidas após a fase adulta.[9][10][11][12] Embora a existência de registros da aparência e do comportamento dos dois beija-flores extintos seja escassa e datada, acredita-se que os critérios acima se apliquem.[13]

Distribuição e habitat

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As esmeraldas podem ser encontradas desde o norte das Bahamas, nas ilhas de Grande Bahama, a Grande Ábaco e Andros; seguindo a Isla de la Juventud, uma das principais ilhas do arquipélago cubano, por onde se distribui a Riccordia ricordii. Esta outra espécie se distribui pela ilha de São Domingos, incluindo países como República Dominicana e Haiti, onde a Riccordia swainsonii se encontra pela totalidade do território. A esmeralda-de-brace e a esmeralda-de-gould, que não possuem distribuição geográfica concisa, ocorreriam nas ilhas de Bahamas ou na Jamaica, tornando essa última a única espécie distribuída pelo país. Ao leste, a esmeralda porto-riquenha se distribui na localidade que lhe oferece sua denominação popular, em todo o território. Por último, a antigamente conhecida como Cyanophaia bicolor pode ser encontrada na região do Caribe denominada por Pequenas Antilhas, nas ilhas de Dominica e Martinica.[4][8][14][15][3][2] Os beija-flores habitam principalmente florestas inabitadas ou ainda não introduzidas pela atividade humana, e habitando ocasionalmente florestas secundárias ou altamente degradadas com vegetação característica das matas de clima tropical, como as florestas montanhosas às vegetações litorâneas nas encostas. Recentemente, houve registros das esmeraldas em áreas semi-urbanas ou urbanas, como parques, praças e outros terrenos arborizados; bem como a ocorrência destas aves em plantações de café e cacau.[9][10][11][12]

Sistemática e taxonomia

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Esse gênero foi introduzido primeiramente no ano de 1854, por um influente pesquisador alemão, Heinrich Gottlieb Ludwig Reichenbach, que reclassificaria uma quantidade de espécies significativa com o intuito de atualizar a classificação, tornando o gênero Ornismya um táxon obsoleto. Durante a introdução deste táxon, Ludwig Reichenbach definiria esmeralda-cubana, que foi descrita anteriormente pelo pesquisador François Louis Paul Gervais em 1835, como a espécie-tipo. Pouco tempo após sua introdução, este gênero seria reclassificado sinônimo de Chlorostilbon, que incluiria suas espécies até uma série de estudos publicados no século XXI.[16][17][1][18] Ainda, duas espécies atualmente consideradas neste gênero seriam classificadas em gêneros monotípicos como Cyanophaia bicolor e Erythronota elegans, com o primeiro sendo reconhecido por BirdLife International e o segundo denotando a denominação de holótipos coletados pelo ornitólogo John Gould.[13] O nome do gênero, bem como o descritor específico da espécie-tipo, são uma dedicatória ao cirurgião e naturalista francês Alexandre Ricord.[18]

Um estudo filogenético molecular publicado em 2014 descobriu que Chlorostilbon era polifilético.[19] Após a revisão da classificação para introduzir um táxon que cumprisse os critérios de monofilia, beija-flores antes classificados em Chlorostilbon e beija-flor-bicolor que anteriormente estava incluído em Cyanophaia seriam movidos para Riccordia, ressurgindo o gênero que foi introduzido por Reichenbach em 1854.[19] Tal decisão seria reconhecida pelo South American Classification Committee em 2018.[20] Depois, a União Ornitológica Internacional também reconheceria o ressurgimento do gênero, assim como a taxonomia de Clements.[21][1] Porém, Handbook of the Birds of the World (HBW) da BirdLife International trata esses gêneros como os dois táxons separados Cyanophaia e Chlorostilbon.[22]

Referências
  1. a b c d Gill, Frank; Donsker, David; Rasmussen, Pamela, eds. (11 de agosto de 2022). «Hummingbirds». International Ornithologists' Union. IOC World Bird List Version 12.2. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  2. a b c BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Blue-headed Hummingbird (Cyanophaia bicolor. The IUCN Red List of Threatened Species 2017. e.T22687380A112239096 (em inglês). doi:10.2305/IUCN.UK.2017-1.RLTS.T22687380A112239096.enAcessível livremente. Consultado em 5 de dezembro de 2022 
  3. a b c BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Puerto Rican Emerald (Chlorostilbon maugaeus. The IUCN Red List of Threatened Species 2016. e.T22687339A93148466 (em inglês). doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22687339A93148466.enAcessível livremente. Consultado em 5 de dezembro de 2022 
  4. a b c BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Cuban Emerald (Chlorostilbon ricordii. The IUCN Red List of Threatened Species 2017. e.T22687330A93147913 (em inglês). doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22687330A93147913.enAcessível livremente. Consultado em 5 de dezembro de 2022 
  5. a b Paixão, Paulo (Verão de 2021). «Os Nomes Portugueses das Aves de Todo o Mundo» (PDF) 2.ª ed. A Folha — Boletim da língua portuguesa nas instituições europeias. p. 115. ISSN 1830-7809. Consultado em 5 de dezembro de 2022 
  6. Mayr, Gerald (7 de maio de 2004). «Old World fossil record of modern-type hummingbirds». Science (New York, N.Y.) (5672): 861–864. ISSN 1095-9203. PMID 15131303. doi:10.1126/science.1096856. Consultado em 6 de dezembro de 2022 
  7. Remsen, J. V., Jr., J. I. Areta, E. Bonaccorso, S. Claramunt, A. Jaramillo, D. F. Lane, J. F. Pacheco, M. B. Robbins, F. G. Stiles, e K. J. Zimmer. (31 de janeiro de 2022). «A classification of the bird species of South America». American Ornithological Society. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  8. a b BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Hispaniolan Emerald (Chlorostilbon swainsonii. The IUCN Red List of Threatened Species 2016. e.T22687336A93148284. doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22687336A93148284.enAcessível livremente. Consultado em 5 de dezembro de 2022 
  9. a b Schuchmann, Karl-Ludwig; Boesman, Peter F. D. (2021). «Blue-headed Hummingbird (Riccordia bicolor), version 1.1». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.blhhum1.01.1. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  10. a b Bündgen, Ralf; Boesman, Peter F. D. (2021). «Puerto Rican Emerald (Riccordia maugaeus), version 1.1». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.pureme1.01.1. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  11. a b Bündgen, Ralf; Kirwan, Guy M. (2021). «Cuban Emerald (Riccordia ricordii), version 1.1». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.cubeme1.01.1. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  12. a b Bündgen, Ralf; Kirwan, Guy M. (2021). «Hispaniolan Emerald (Riccordia swainsonii), version 1.1». Birds of the World (em inglês). doi:10.2173/bow.hiseme1.01.1. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  13. a b Gould, John; Sharpe, R. Bowdler (1860). «Erythronota elegans». Londres: Taylor and Francis. A monograph of the Trochilidæ, or family of humming-birds (em inglês). 5: 320. OCLC 9648140. doi:10.5962/bhl.title.51056Acessível livremente. Consultado em 9 de outubro de 2022 
  14. BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Brace's Emerald (Chlorostilbon bracei. The IUCN Red List of Threatened Species 2016. e.T22687333A93148138 (em inglês). doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22687333A93148138.enAcessível livremente. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  15. BirdLife International (1 de outubro de 2016). «Caribbean Emerald (Chlorostilbon elegans. The IUCN Red List of Threatened Species 2016. e.T22728709A94994346 (em inglês). doi:10.2305/IUCN.UK.2016-3.RLTS.T22728709A94994346.enAcessível livremente. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  16. Reichenbach, Ludwig (1854). «Aufzählung der Colibris Oder Trochilideen in ihrer wahren natürlichen Verwandtschaft, nebst Schlüssel ihrer Synonymik». Jornal für Ornithologie. 1 (Suplemento): 1–24 [8]. Consultado em 8 de dezembro de 2022 
  17. Stiles, F. Gary; Remsen, J. V. Jr.; McGuire, Jimmy A. (24 de novembro de 2017). «The generic classification of the Trochilini (Aves: Trochilidae): Reconciling taxonomy with phylogeny». Zootaxa (3). 401 páginas. ISSN 1175-5334. doi:10.11646/zootaxa.4353.3.1. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  18. a b Jobling, James A. (2010). Helm Dictionary of Scientific Bird Names. Londres: Christopher Helm. p. 136. ISBN 978-1-4081-2501-4. OCLC 1058460352 
  19. a b McGuire, Jimmy A.; Witt, Christopher C.; Remsen, J. V.; Corl, Ammon; Rabosky, Daniel L.; Altshuler, Douglas L.; Dudley, Robert (14 de abril de 2014). «Molecular Phylogenetics and the Diversification of Hummingbirds». Current Biology (em inglês) (8): 910–916. ISSN 0960-9822. PMID 24704078. doi:10.1016/j.cub.2014.03.016Acessível livremente. Consultado em 7 de dezembro de 2022 
  20. Stiles, Gary (março de 2018). «Proposal #780: Change the generic classification of the Trochilinae (part 1)». South American Classification Committee. American Ornithological Society. Consultado em 29 de outubro de 2022 
  21. Clements, J. F., T. S. Schulenberg, M. J. Iliff, S. M. Billerman, T. A. Fredericks, J. A. Gerbracht, D. Lepage, B. L. Sullivan, and C. L. Wood. (2021). «The eBird/Clements checklist of Birds of the World: v2021». Cornell Lab of Ornithology. Consultado em 2 de outubro de 2022 
  22. BirdLife International (2020). «Handbook of the Birds of the World and BirdLife International digital checklist of the birds of the world». Datazone BirdLife International. Consultado em 2 de outubro de 2022 

Ligações externas

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