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Savas, o Santificado

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Savas da Palestina)
 Nota: "São Saba" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja São Saba (desambiguação) ou Sava da Sérvia.
Savas, o Santificado
Savas, o Santificado
Ícone de São Savas, o Santificado.
Nascimento 439
Mázaca, Capadócia
(atual Caiseri, Turquia)
Morte 5 de dezembro de 532
Laura de São Savas
Veneração por Igreja Ortodoxa
Igrejas Ortodoxas Orientais
Igreja Católica
Principal templo Laura de São Savas
Festa litúrgica 5 de dezembro
Portal dos Santos

Savas, o Santificado (em grego: Σάββας ὁ Ἡγιασμένος; Mázaca, Capadócia, 439 - Laura de São Savas, 5 de dezembro de 532) foi um monge, eremita e arquimandrita capadócio grego dos séculos V-VI. Oponente assumido dos monofisistas e dos origenistas, Savas tentou dissuadir os imperadores bizantinos (Anastácio I Dicoro em 511 e Justiniano em 531) contra eles. A ele é atribuído a autoria do Típico de São Savas (Typicon S. Sabae), um regulamento para o Culto Divino, embora ainda haja controvérsias.[1]

Início da vida

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Filho do militar João e de sua esposa Sofia, aos oito anos ingressou no mosteiro de Flaviano II de Antioquia, onde ele se dedicou ao aprendizado do Saltério e outros deveres monásticos, além da prática das virtudes piedosas, se distinguindo por sua abstinência, humildade e obediência, nas quais superou seus companheiros monges. Aos 17 anos recebeu a tonsura monástica, e adquiriu tamanha perfeição na vida monástica que a ele foi concedido o dom da taumaturgia. Ao fim de uma ascese de 10 anos, pediu a bênção do abade para partir definitivamente para Jerusalém, de tal maneira que desejava ascender continuamente em glória na hesiquia do deserto. De acordo com uma visão divina, o abade deu o seu consentimento e assim Savas, com a idade de 18 anos, chegou a Jerusalém onde foi recebido no mosteiro de São Passarião da Palestina e passou o inverno de 456-457. No entanto, ainda que fosse instado pelo Arquimandrita Padre Elpídio e alguns dos irmãos para ficar com eles, Savas desejou se juntar aos anacoretas que estavam lutando sob a orientação do homem Santo e operador de milagres, São Eutímio, o Grande. Assim, após receber a bênção de Elpídio para isso, Savas partiu ao encontro de São Eutímio. Eutímio, entretanto, recusou-se a manter Savas em sua Laura, enviando-o ao Abade Teoctisto, chefe do mosteiro vizinho com uma regra cenobita, e predizendo que Savas seria distinguido na vida monástica.[2][3]

A vida monástica e a fundação da Grande Laura

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Por mais 10 anos, São Savas levou uma vida de grande piedade, até que Teoctisto morreu, e dois anos depois, Maridos, o sucessor de Teoctisto, também faleceu. Após tal, Savas pediu ao novo abade, Longino, que lhe permitisse seguir a vida eremítica. Logino, então, reconhecendo a extrema virtude de Savas e com o consentimento de Eutímo, cedeu ao desejo do monge e o ordenou então que se isolasse. Dessa forma, nos 5 anos que se seguiram, Savas viveu em uma caverna ao sul do mosteiro, rezando, trabalhando e não comendo nada durante cinco dias de cada semana. Durante a Quaresma, Savas ficou com Eutímio e seu discípulo Dometiano no grande deserto palestino de Rouba, entre o vale do Cédron e o mar Morto, jejuando, bebendo parcamente, rezando e praticando a vigília, através da Nepsis. O monge continuou este modo de vida nos últimos anos também.[3]

Em 20 de janeiro de 473, São Eutímio morreu e Savas, já com 35 anos, não voltou ao cenóbio, mas partiu para o deserto oriental, Rouba e Coutila (próximo de Jericó), na época em que Gerásimo do Jordão brilhava no deserto jordaniano. Savas permaneceu neste deserto por quatro anos, onde estava espiritualmente ligado a São Teodósio, o Cenobiarca, por meio do monge Anthos. Foi lá que sua profunda crença em Deus e sua extrema virtude permitiram alcançar o completo destemor dos demônios e feras e ganhar o respeito dos bárbaros. Mais tarde, ele se mudou para uma caverna no lado leste do vale do Cédron, ainda hoje conhecida como a caverna de São Savas, em frente ao Laura. Cinco anos depois, cerca de setenta eremitas e anacoretas, começaram a se reunir em torno de Savas, esses compuseram a primeira irmandade da Laura em 483 e foi fundada a Laura de São Savas.[1][3]

A fundação de novos mosteiros e a luta contra o monofisismo

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Posteriormente, São Savas foi desprezado e caluniado por alguns de seus próprios monges, que pediram ao Patriarca Salústio para substituir Savas como abade. Salústio, porém, considerando que Savas era um homem santo, ordenou-o como presbítero e consagrou a Igreja de Teoctisto, em 12 de dezembro de 491. Mais monges se juntaram a ele, principalmente armênios, atraídos por seu exemplo, sua vida, sua ascese e os milagres a ele atribuídos e, em 492, São Savas chegou à fortaleza de Castélio, no deserto a nordeste de Laura, onde fundou um cenóbio e iniciou uma irmandade monástica. Em 494, o Patriarca Salústio nomeou São Savas o arquimandrita de todos os mosteiros da Palestina Prima em 494., na área da Cidade Santa, e São Teodósio, chefe e arquimandrita de todos os cenóbios. No entanto, os monges que anteriormente haviam caluniado Savas, revoltaram-se novamente e esse, desejando apaziguá-los, foi forçado a deixar a Laura, sua ausência durou cinco anos (503–508) e durante esses anos ele organizou dois novos cenóbios, em Gadara e Nicópolis. Finalmente, a reintegração de Savas no cargo de abade obrigou os monges revoltados a deixar a Grande Laura e instalar-se na Nova Laura, ainda assim, São Savas, os ajudou a construir e organizar sua própria Laura, nomeando São João, o Silencioso como seu abade. Antes da sua morte, construiu mais duas lauras, a Laura de Heptástomo (512) e a Laura de Jeremias, e mais duas Cenóbias, a de Espelião (509) e a de Escolário (512).[3]

Relíquias de São Savas no Católico da Laura de São Savas, Cisjordânia

Assim sendo, pela pressão e ação do imperador monofisista Anastácio I e dos principais monofisistas Severo de Antioquia, Filoxeno e Soterico, bispos monofisistas gradualmente se instalaram nas Igrejas do Oriente. São Savas, instado pelo patriarca ortodoxo de Jerusalém, Elias, foi para Constantinopla em 512 e ali conseguiu persuadir o imperador a anular o deslocamento do patriarca. No ano seguinte, quando o patriarca ortodoxo foi deslocado pelo imperador, São Savas reuniu todos os monges do deserto em Jerusalém para proteger Elias e anatematizou os delegados heréticos do imperador. Ele organizou um movimento semelhante três anos depois, em 516, para apoiar o novo patriarca de Jerusalém, João III, com a ajuda de São Teodósio, o Cenobiarca.[3]

São Savas visitou Constantinopla pela segunda vez vinte e quatro anos depois, em 530, aos noventa anos. O monge reverteu na Palestina as medidas que o imperador Justiniano pretendia impor em resposta aos tumultos causados ​​pela revolta dos samaritanos e dos judeus, em 529. Ademais, Savas exortou o imperador a realizar obras públicas na Palestina e expulsar as heresias de Ário, Nestório e Orígenes, em troca das quais profetizou que Justiniano ganharia a expansão do império na África e Itália. Sendo assim, no período referente aos últimos anos de vida de São Savas foram registrados muitos milagres ocorridos, segundo as crenças, devido as orações de Savas.[2][3]

Ícones no interior de uma capela no Monastério de São Savas, no qual é representado São Savas morto

Além de questões de doutrina teológica, que afetavam a igreja intelectual e a oficial, a herança savaíta transcendeu o tempo e o lugar por meio de sua tipika monástica e litúrgica. O typikon monástico foi amplamente adotado devido à antiga reputação do centro monástico palestino, que remontava até Cárito e Eutímio, e devido aos locais santificados pelos profetas Elias, Eliseu, São João Batista e o próprio Cristo, no meio dos quais estava localizado. O typikon litúrgico savaíta, incluindo seus hinos, associado aos próprios locais em que ocorreram os eventos mencionados na liturgia, poderia ser emprestado para uso do rito da catedral, porque o rito monástico na Palestina, ao contrário daquele do Egito, ou do Sinai, incorporava cantos à oração, assim como se fazia no rito da Catedral.[4]

Nas várias facetas da sua atividade literária e escriba, sobretudo durante os primeiros 700 anos da sua existência, o mosteiro constituiu o centro intelectual da Sé de Jerusalém. Sua produção não foi apenas teologia abstrata, mas sim uma definição útil e refinada da fé ortodoxa, adequada para servir em disputas contra heresias, traduções úteis para os cristãos ortodoxos do Oriente, hinos festivos e a tipika litúrgica, tudo relacionado à vida religiosa de monges e leigos. A reputação do mosteiro, localizado no deserto de Jerusalém, foi reforçada pela reputação da Cidade Santa. A equivalência entre Jerusalém e a Grande Laura é melhor refletida na seguinte passagem, de "The Passion of St. Michael the Sabaite": "Assim como Jerusalém é a rainha de todas as cidades, também a Laura de Savas é o príncipe de todos os desertos e na medida em que Jerusalém é a norma das outras cidades, também São Savas é o exemplo para os outros mosteiros."[4]

Assim, os ensinamentos de São Savas e a tradição monástica savaíta estão cristalizadas nas práticas religiosas orientais e ocidentais tanto no que se refere à leigos quanto à religiosos, visto que não o monasticismo não somente assimilou a herança de São Savas, mas também a veneração iconógrafa do Santo. Sua Grande Laura continuou por muito tempo a ser o mosteiro mais influente na região da Palestina e produziu vários santos monges ilustres, entre eles São João Damasceno.[4] A Igreja de San Saba em Roma é dedicada a ele.[5]

Referências
  1. a b «St. Sabbas» (em inglês). Consultado em 10 de outubro de 2012 
  2. a b «Venerable Sava the Sanctified» (em inglês). Consultado em 10 de outubro de 2012 
  3. a b c d e f «St Sabbas». Jerusalem Patriarchate News Gate (em inglês). Consultado em 10 de maio de 2023 
  4. a b c Joseph Patrich. The Sabaite Heritage in the Orthodox Church from the Fifth Century to the Present. Peeters Publishers, 2001. ISBN 9789042909762
  5. «S. Sabba Abate». www.romeartlover.it. Consultado em 14 de maio de 2023 
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