Šumadija
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Região estatística da Sérvia | ||
Gentílico | Šumadinci | |
Localização | ||
Carta topográfica da Sérvia com Šumadija delimitada em cor vermelha | ||
Coordenadas | ||
País | Sérvia | |
Administração | ||
Cidade mais populosa | Kragujevac | |
Características geográficas | ||
População total | cca 850,000 (sem Belgrado) hab. |
Šumadija (em sérvio: Шумадија — pronúncia: ʃumǎdija) é uma região geográfica na faixa central da Sérvia, continente europeu. Esta área originalmente apresentava densa cobertura vegetal, daí o nome na língua sérvia, šuma, que significa floresta. A cidade de Kragujevac é o polo da região, e o centro administrativo do distrito de Šumadija e da região estatística de Šumadija e Sérvia Ocidental. O solo é muito fértil, possibilitando a fruticultura extensiva — maçãs, uvas, ameixas, etc.
Etimologia
[editar | editar código-fonte]Šumadija recebeu este nome devido às emaranhadas florestas que cobriam a região, particularmente nos séculos XVI e XVII. Tal mata foi preservada até o início do século XIX, com menções na literatura e na tradição. Bertrandon de la Broquière, em sua passagem pela Sérvia, relatou que na estrada entre Palanka e Belgrado, "passou através de muito extensas florestas". Durante a regência do príncipe Miloš Obrenović, foi documentado que nas florestas "ninguém podia andar de lado a lado, muito menos a cavalo". Quando Alphonse de Lamartine viajou à Sérvia em 1833, descreveu as florestas "como se estivesse no meio das florestas norte-americanas".[1]
Na vila de Jasenica, os locais separados pelos colonizadores para abrigar as futuras residências de seus parentes precisavam ter as árvores cortadas e queimadas previamente, um processo que levava anos; a floresta era intransponível a ponto de alguém poder andar por dias em seu interior sem ver o sol. Os habitantes da região receberam a denominação Šumadinci, utilizado para se referir a quem mora no polígono delimitado por Morava a leste, Kolubara a oeste e as montanhas de Crni Vrh, Kotlenik e Rudnik a sudeste, sul e sudoeste, respectivamente.[1]
Geografia
[editar | editar código-fonte]Šumadija está localizada entre os rios Sava e Danúbio ao norte, o rio grande Morava a leste, rio Morava Ocidental a sul, e rios Kolubara, Ljig e Dičina a oeste.[2] Algumas interpretações — como a do geógrafo Jovan Cvijić e a do etnologista Jovan Erdeljanović — definem o limite norte de Šumadija entre as montanhas Avala e Kosmaj. De acordo com esta versão, a capital sérvia, Belgrado, não pertence a esta região.[3]
A zona central de Šumadija é conhecida por sua horticultura, tendo como principais produções os cultivos de ameixas, maçãs, peras, damascos, pêssegos, nozes, cerejas, morangos e framboesas.[4]
Geologicamente Šumadija inclui formações de urânio-235, como o maciço granítico de Brajkovac, e também os maciços vulcânicos de Medvednjak, Rudnik, e carste de Borač, com alto conteúdo médio de urânio e tório.[5]
História
[editar | editar código-fonte]Sítios arqueológicos neolíticos das culturas de Starčevo e Vinča (5500—4500 A.D.) podem ser encontrados espalhados por Šumadija.[6] Povoamentos humanos da fase tardia de Starčevo estão presentes em todo o território de Šumadija central. A caverna de Risovača é um dos mais importantes sítios arqueológicos do paleolítico na Europa. Outros sítios neolíticos notáveis incluem Grivac e Kusovac a oeste, Divostin no centro e Dobrovodica e Rajac a leste.[7]
Medievo
[editar | editar código-fonte]Eslavos colonizaram os Bálcãs nos séculos VI e VII, e Šumadija estava localizada diretamente a nordeste da Ráscia, o centro do principado da Sérvia; é incerto até exatamente onde a fronteira com o Primeiro Império Búlgaro se estendia durante o século X. O príncipe Zacarias uniu diversas tribos eslávicas que compartilhavam esta fronteira com os búlgaros, levando-as a se rebelarem contra estes últimos na década de 920. Tzéstlabo e Constantino Bodino podem ter anexado partes de Šumadija. A metade austral de Šumadija veio então a ser regida por Estêvão Nemânia e a dinastia Nemanjić.
Šumadija central é dividida em três parcelas, Gruža, Jasenica e Lepenica, que provavelmente existiram como divisões administrativas ou župe (condados) durante o período bizantino. Destas, Gruža foi mencionada no início do século XI como uma província periférica. Já a província de Lepenica, na condição de župa, oficialmente integrou o domínio de Nemânia em 1183; Nemânia então a outorgou como propriedade (metochion) de seu dote (o monastério Hilandar), posteriormente confirmado pelo próprio na crisobula de 1198.[8] A província de Dendra, que foi governada pelo sérvio Dessa, tem sido interpretada por alguns estudiosos como a Šumadija contemporânea.[9] Também há a interpretação de que a antiga Toplica é Šumadija,[10] mas concluiu-se que a primeira se loca na vicinalidade de Niš,[11] Leskovac (Glubočica e Dubočica históricas).
O Estado sérvio medieval findou com a queda do despotado sérvio em Šumadija no século XV.[12]
Período moderno e contemporâneo
[editar | editar código-fonte]Quando do fim do despotado sérvio, a região estava desenvolvida, concentrando riqueza e população, conforme relato dos viajantes que percorreram Šumadija neste período. Muitos topônimos que perduram até a contemporaneidade confirmam antigos assentamentos, igrejas e monastérios (selište, crkvine, manastirine, kućerine, podrumine, varoševo, etc.), assim como cemitérios. A invasão otomana e os eventos que tomaram lugar em Šumadija até o início do século XIX foram as causas primárias para a migração dos habitantes, que se mudaram antes da chegada dos otomanos, abrigando-se nas montanhas e nas ravinas, ou evadindo completamente a região. Os assentamentos desapareceram, com igrejas e monastérios destruídos, e os números populacionais constantemente diminuíram. Um viajante, Gerlach, descreveu o caminho de Batočina para Palanka:
"Eu não pude encontrar qualquer traço de assentamentos ou cultura, em todo lugar há terra arrasada, nem uma única porção de terra tem sido cultivada, não há uma única vila."[13]
Pavle Bakić, que possuía propriedades em Venčac, retirou-se entre 1515 e 1522 para a Hungria, com um grande grupo de pessoas. Schweiger, que atravessou a Sérvia em 1577, registrou que viajou de Kolar através de uma região deserta, escassamente colonizada e má processada; em três dias não visualizou mais que cinco vilas pobres. Em grupos ou sozinhas, famílias deixaram sua terra natal, cruzando (preko) rios (Prečani), em direção à Sírmia, Banato, Bačka, Eslavônia, Bósnia e outras regiões. Esta evasão continuou até o fim do século XVIII, retomando após 1813. Durante a guerra austro-turca (1787-1791), em 1788, a população de algumas vilas de Šumadija (Koraćice, Nemenikuća e Rogače) também fugiu. Milovan Vidaković estava neste grupo, descrevendo que as vilas que encontravam durante a fuga estavam todas cobertas por grama e ervas daninhas, completamente desabitadas. Do período pós-1813, por exemplo, há o registro de que os pais do ativista Ilija Milosavljević-Kolarac fugiram com o restante dos camponeses, para se abrigar em frente ao exército otomano. Em Orašac cruzaram o Danúbio e estabeleceram-se em Crepaja, posteriormente retornando às casas em sua terra natal.[13]
Em adição à emigração, havia juntamente imigração, dependendo das circunstâncias vigentes em Šumadija. Com o fim da guerra austro-turca e após o estabelecimento da Sérvia ocupada pelos Habsburgos (1788-92, fronteira de Koča), a situação de Šumadija tornou-se mais estável, e a região presenciou um aumento no influxo de colonizadores, com o ápice sendo atingido após a eclosão da Primeira Revolta Sérvia em 1804. Nas primeiras décadas do século XIX, Šumadija recebeu a maior parte de sua população. À época a fértil região estava libertada e esparsamente povoada, o que atraiu colonizadores.[14]
Durante o século XVIII, as florestas e colinas de Šumadija foram o refúgio dos haiduques que lutaram contra a ocupação otomana. Partes do sanjaco de Smederevo, abrangendo toda Šumadija, foram liberados pelo exército austríaco em 1718, resultando no estabelecimento do Reino da Sérvia (1718-1739). Após a Guerra Russo-Turca (1735–1739), o sanjaco foi restabelecido. Em 1788, o Corpo Livre Sérvio, organizado pelos Habsburgos, libertou Šumadija; com o subsequente envolvimento militar austríaco, Šumadija foi reunida com o resto do sanjaco e passada para o domínio dos Habsburgos. A Primeira Revolta Sérvia proporcionou a liberação da região, conseguida por rebeldes sérvios auto-organizados e liderados por Karađorđe, herói nacional da Sérvia e nascido em Šumadija. A Segunda Revolta Sérvia em 1815, liderada por Obrenović, repeliu as forças otomanas com sucesso, e por volta de 1830, obteve soberania para a Sérvia, levando à independência da Sérvia central após vários séculos de ocupação otomana.
Durante 1922 e 1929, uma das unidades administrativas do reino da Iugoslávia foi o Šumadijska Oblast. Grosso modo, incluía território do presente distrito de Šumadija, e tinha sua sede administrativa em Kragujevac — que continua a ser a sede do distrito contemporâneo.
Cultura
[editar | editar código-fonte]A roupa tradicional da Sérvia mais comum é a de Šumadija.[15] Inclui o chapéu nacional, o Šajkača,[16][17] e o calçado tradicional em couro, Opanak.[18] Aldeões longevos costumam vestir suas roupas tradicionais.[15]
Esta fértil região é particularmente conhecida por suas ameixas e o Slivovitz (Šljivovica), conhaque feito a partir da fruta, e bebida nacional da Sérvia. Ameixa e seus derivados são importantes para os sérvios e parte de numerosos costumes. A Sérvia é o país que mais exporta Slivovitz no mundo, e o segundo maior produtor de ameixas.
Šumadija já foi tema de canções interpretadas por cantores sérvios como Era Ojdanić, Miroslav Ilić, Olivera Katarina e Predrag Gojković-Cune.
Antropologia
[editar | editar código-fonte]Jovan Cvijić estudou 8,894 famílias e seus parentes, que viviam em 52,475 residências espalhadas pelas regiões de Šumadija (Kačer, Gruža, Lepenica, Kragujevačka Jasenica, Smederevsko Podunavlje, Jasenica e Kosmaj) e em vilas ao redor de Belgrado. Destas famílias, apenas 464 (em 3,603 residências) eram "velhas" (starinci), também chamadas "nativas". Este número é próximo ao de famílias com linhagem desconhecida (470 em 2,464 residências), enquanto o restante da população era composto por colonos — 7,960 famílias, 46,408 residências. Šumadija foi colonizada pela quase totalidade das regiões do então reino da Iugoslávia, ainda que a maior leva tenha sido proveniente de áreas dináricas, como Montenegro, Bósnia e Herzegovina, Ráscia e Sandžak, Dalmácia e Lika. Contingentes menores eram originários da província autônoma de Kosovo e Metohija e demais regiões iugoslavas.[14]
De acordo com os estudos de Cvijić, aproximadamente 90% das famílias de Šumadija descendem de colonizadores de vários grupos étnicos da Sérvia. O grupo dinárico era o predominante, enquanto outras regiões de eslavos meridionais constavam em percentuais menores. Esta população diversa se misturou, permeou e uniformizou, criando assim o grupo etnográfico Šumadinci, com traços físicos característicos.[19] Cvijić também notou:
"Tradicionalismo rígido desapareceu quase que completamente. Todos adaptam-se a novos modos de vida. Há menos conversa, menos poemas épicos e preferências épicas do que em um povo dinárico puro."[19]
Assentamentos
[editar | editar código-fonte]Esta seção apresenta cidades e vilas com população superior a 20,000 habitantes:
Kragujevac (150,835) | Čačak (73,331) | Kraljevo (68,749) | Smederevo (64,175) | Jagodina (37,282) | Lazarevac (26,006) | Aranđelovac (24,797) | Gornji Milanovac (24,216) | Mladenovac (23,609) | Smederevska Palanka (23,601) |
- ↑ a b Drobnjaković 1998, introdução
- ↑ Miodrag Milošević (1994). Geografija za 8. razred osnovne škole. Belgrado: [s.n.]
- ↑ Beleske Ivić (1978). Biogračićkom govoru, Srpski dijalektoloski zbornik. [S.l.: s.n.] p. 125
- ↑ Alan McPherron; Dragoslav Srejović (1988). Divostin and the Neolithic of central Serbia. Universidade de Pittsburgh: "Departamento de Antropologia". ISBN 978-0-945428-00-8.
(em inglês) Central Sumadija is well known as a fruit producing region, the major products being plums, apples, pears, apricots, peaches, nuts, cherries, strawberries, and raspberries. Domesticated animals are the same as those raised in other regions of Europe. A variety of wild mammals occur in the region and include boar, deer, wolf, fox, weasel, hare, badger, polecat, hedgehog, squirrel, mole, and a variety of smaller rodents. Birds are also numerous and various. Wildlife was obviously more abundant in the past, with bear, roe deer, and sparrow hawk as well as migratory birds.
- ↑ Miomir Komatina (31 de março de 2004). Medical Geology: Effects of Geological Environments on Human Health. Oxford: Elsevier. pp. 210–. ISBN 978-0-08-053609-5
- ↑ A. W. R. Whittle (23 de maio de 1996). Europe in the Neolithic: The Creation of New Worlds. Inglaterra: Cambridge University Press. pp. 83, 101, 103, 105. ISBN 978-0-521-44920-5
- ↑ Alan McPherron; Dragoslav Srejović (1988). Divostin and the Neolithic of central Serbia. Universidade de Pittsburgh: "Departamento de Antropologia". p. 33. ISBN 978-0-945428-00-8
- ↑ Andrejić, Živojin (2005). «Средњовековна жупа Лепеница до XVI века». Центар за митолошки студије Србије. Митолошки зборник. 13: 21–
- ↑ Vizantijski izvori za istoriju naroda Jugoslavije. Belgrado: Vizantološki institut. 1971.
(em servo-croata) Неки научници су у Ден- дри видели Шумадију
- ↑ Dragoljub M. Trajković (1961). Nemanjina Dubočica. [S.l.: s.n.]
- ↑ Recueil de travaux de l'Institut des études byzantines. Belgrado: Naučno delo. 1996
- ↑ Đorđević 1932, p. 133.
- ↑ a b Drobnjaković 1998, Do pada Despotovine Šumadija je bila razvijen i bogat kraj
- ↑ a b Drobnjaković 1998, Vrhunac doseljavanja u Karađorđevo vreme
- ↑ a b Dragoljub Zamurović; Ilja Slani; Madge Phillips-Tomašević (2002). Serbia: life and customs. Belgrado: ULUPUDS. p. 194
- ↑ Deliso, Christopher (2009). Culture and Customs of Serbia and Montenegro. Westport (Connecticut): Greenwood Publishing Group. p. 97. ISBN 978-0-313-34436-7
- ↑ Resić, Sanimir; Plewa, Barbara Törnquist (2002). The Balkans in Focus: Cultural Boundaries in Europe. Lund (Suécia): Nordic Academic Press. p. 48. ISBN 978-91-89116-38-2
- ↑ Mirjana Prošić-Dvornić (1989). Narodna nošnja Šumadije. Croácia: Kulturno-Prosvjetni Sabor Hrvatske. p. 62
- ↑ a b Drobnjaković 1998, Karakter Šumadinaca, po Jovanu Cvijiću
Ligações externas
[editar | editar código-fonte]- Media relacionados com Šumadija no Wikimedia Commons